Ato 2 - A Galinha e a Vizinha

Sasuke não sabia se devia rir ou chorar na situação em que se encontrava. Hinata, sua ainda-esposa, já tinha deitado a baixo uns quatro copos de conhaque desde que chegara e encontrava-se de momento sentada numa das cadeiras livres a encarar Karin – a sua amante e secretária – que se encolhia na outra cadeira – e que havia sido forçada a juntar-se a eles por Hinata ao fim de dez minutos em silêncio. Segundo Hinata, se ele não falasse, Karin (melhor que usar “Vagabunda” como nas palavras originais da sua mulher) falaria.

- Muito bem sua piranha, é bom que comeces a abrir a boca e explicar que tipo de mentiras andaste a espalhar – resmungou a morena enquanto semicerrava os olhos e dava mais um gole. O Uchiha parou de raciocinar por segundos. Seria tudo mentira mesmo?! Ele, Sasuke Uchiha, enganado pela secretária?! Bem, se fosse, iria passar uns bons meses a dormir no sofá depois de tudo...

Karin, ainda convencida de que poderia dar a volta á situação, voltou-se para Sasuke e fingiu chorar – Sasuke-kun, essa mulher está a tentar virar-te contra mim – olhou para Hinata furiosa – andava a trair-te com outros e agora quer passar por santa.

Hinata levantou-se furiosa e olhou para ele – ah, é claro, e o Sasuke-baka acreditou, tinha que ser sina mesmo, tão inteligente para umas coisas e tão burro para outras – bufou. Sasuke levantou-se para reclamar, mas Hinata passou-lhe á frente voltando a olhar para a ruiva – olha aqui, eu sei que a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha, mas essa galinha aqui – apontou para Sasuke que por momentos ficou parado em choque. Ele estava a ser comparado a uma galinha!? – vai continuar a ser da vizinha por muito tempo! – gritou. Karin, quase desesperada, olhou de novo para ele e choramingou.

- Olha Sasuke-kun! Estás a ver como ela é falsa! Ainda no outro dia andava aos beijos com um dos teus amigos! Eu vi! – e como se fosse o próprio diabo, Naruto Uzumaki, um dos “outros” de Hinata, entrou pela sala adentro com um estrondoso “Yo Teme!” seguido da noiva que bufava de alguma coisa, Sakura Haruno e Ino Yamanaka que segurava o filho do casal, Taro, ao colo. Passou a mão pela cara, a situação não poderia piorar. Karin, assustada, apontou freneticamente para o loiro que não entendia nada do que se passava (como sempre) – lá está ele! Eu vi-a como ele no outro dia aos beijos no meio da praça!

- Como é que é!? – exclamou Sakura fechando o punho e olhando para Naruto. Este levantou os braços ao ar jurando inocência e antes que a rosada começasse a berrar com ele ou lhe batesse, Hinata lançou-se ao pescoço de Karin como uma flecha.

- É isso mesmo Hina, acaba com a piranha! – gritou Ino parada na porta. Sasuke olhou para ela repreendendo-a tentando inutilmente separar as duas. A sua cabeça começou a doer. Sakura gritava, Naruto gritava. Ino apoiava a discussão e o seu filho, Taro, ria-se e ainda participava na “claque força Hinata”. O que mais poderia acontecer!? Pensou em desespero.

- CHEGA! - silencio profundo. Sasuke suspirou e olhou para o céu agradecido antes de voltar a encarar a cena á sua frente. Karin, quase descabelada e com o rosto vermelho de tanto tabefe, estava no chão, com Hinata sentada em cima dela e a encará-lo como se perguntasse porque fora parada na melhor parte. Naruto e Sakura olhavam de Hinata para ele. Ino, sorria como uma louca e o seu filho, nos braços da madrinha, estava amuado por ele ter parado o combate entre a mãe e a ruiva feiosa, como ele lhe havia chamado á momentos – eu já entendi que isto foi tudo uma grande confusão – passou a mão pelos cabelos – desculpa Hina – talvez conseguisse remediar a coisa... ninguém resistia á cara de cachorro sem dono de Sasuke Uchiha, e Hinata não seria a primeira...

Erro. A esposa levantou-se ajeitando o vestido, pegou o filho dos braços da madrinha e voltou para trás semicerrando os olhos para Karin antes de passar pelos amigos como se nada se tivesse passado. E ele? Ficou lá, com cara de tacho, enquanto ela olhava por cima dos ombros e dizia que conversariam melhor em casa.

Meia hora depois – no fim de Karin ter finalmente explicado tudo direito e ser despedida logo em seguida – Naruto e Ino gargalhavam da desgraça do amigo enquanto Sakura, mesmo que os estivesse a censurar por isso, segurava o riso. E no meio daquela desgraça toda, a única coisa útil de que tirara proveito fora o fato de ficar a conhecer o “outro lado” de Hinata. Kami-sama, ele nunca mais ia aprontar uma daquelas no resto da vida se quisesse continuar inteiro...

- Boa sorte em casa teme! – gritou Naruto quando eles se estavam a despedir. Havia adiado a hora de ir para casa, talvez assim conseguisse durar mais tempo naquele mundo. Engoliu em seco abrindo a porta e pousando a mala com as roupas na entrada. Deu um passo em frente, olhou para os lados, suou frio e...

- Tou-san! – gritou Taro correndo até ele. Sasuke sorriu e pegou o filho, porém, congelou ao ver Hinata sair da cozinha com uma faca enorme na mão e um sorriso torto. Engoliu em seco.

- Oi Hina – sorriu tentando ignorar o facão na mão da esposa. Ela bufou e virou-lhe costas. Suspirou aliviado e voltou a sorrir para o filho.

Mais tarde, naquela noite e depois de ter dado um beijo de boas noites no filho, entrou no quarto ainda com receio. Hinata estava em cima da cama, com uma camisola de noite curta e vermelha, lendo um livro que ele não conhecia. Começou a tirar a roupa quando ouviu o seu nome e se voltou esperançoso, levando com a almofada direto no rosto – dormes no sofá – resmungou Hinata sem o olhar – e certifica-te de que ficas lá! – gritou quando ele já ia a fechar a porta.

Agora, deitado no maldito sofá e com dor de coluna, jurou que nunca mais teria uma secretária ou duvidaria da mulher, principalmente porque tinha certeza que na próxima não sobreviveria á experiência para pedir desculpa de novo. Virou-se para o lado tentando inutilmente acomodar-se. Kami-sama, ele teria que aguentar aquele sofá durante quantas noites?!

No quarto, Hinata rachava de rir. Bem-feita para Sasuke, ele ia comer o pão que o diabo amassou nos próximos dias, depois, talvez o deixasse voltar a dormir consigo e quem sabe, não teriam um filho no próximo ano? Franziu a testa e desligou a luz. Ia certificar-se de escolher a próxima secretária... de preferencia um homem!