O que posso dizer do Hotel Holly Lake? Era um lugar realmente encantador para casais. Repito. Para casais.

A entrada do hotel era um caminho de pedra cercada por árvores (algumas com folhas amarelas, outras laranjas e outras verdes. Isso mesmo estando no inverno.).

Ares parou o carro no estacionamento, que estava relativamente vazio. Só tinham uns 10 carros, sendo que lá dava espaço para uns 40.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Pronto.” Disse ele parando bem atrás de um carro prateado.

“Com tanta vaga aqui, você vai parar atrás desse carro?” Perguntei calculando a distância entre nós, o carro, e um pequeno muro na frente. “Assim ele não vai conseguir sair.”

Ares soltou uma gargalhada.

“Quero só ver a cara do idiota!” Riu ele. “Mas por enquanto... Vamos logo, Kelly.”

Ele abriu a porta do carro e saiu, mas quando eu fui fazer o mesmo ele travou a porta.

“Ei!” Exclamei. Do outro lado do vidro, Ares sorriu divertido. “Não queria que eu saísse? Abre a porta!”

“Pede ‘por favor’, Filhinha de Hermes.” Falou ele cruzando os braços ainda com um sorriso no rosto.

“Por favor uma ova! Abra agora mesmo!” Falei, mas ele negou com a cabeça ainda sorrindo torto. “Ótimo. Eu aproveito e durmo mais um pouco.”

Encostei-me contra o vidro e fechei os olhos. Não estava nem um pouco ansiosa para sair do carro e ficar ao lado de Ares fingindo gostar dele. Eu estava com sono e cansada por ter que ficar ouvindo rock no último volume, por se Ares quisesse me trancar no carro (no momento silencioso, e com bancos de couro confortáveis) eu não iria reclamar.

Mas é lógico que ele não iria deixar eu ter nem mesmo um mísero segundo de descanso.

“Tudo bem. Reconheço que estou sendo mal demais. Afinal onde estão os meus modos de cavalheiro?” Ares parecia estar prestes a rir. “Deixa que eu abro a porta para você, benzinho.”

Antes mesmo que eu pudesse me tocar do que ele estava fazendo, Ares abriu a porta e eu (que estava encostada nela de olhos fechados) caí aos pés dele. Literalmente.

“Qual é o seu problema?!” Exclamei com raiva.

“Uma pirralha mimada filha de Hermes.” Falou rindo de mim.

“Eu não sou mimada!” Protestei.

“Imagina...” Riu ele. Ares pegou a minha mala, que estava no chão ao meu lado. “Como eu sou um cara muito lega, eu vou levar a sua mala para você. Agora se já terminou de beijar os meus pés, vamos para a recepção.”

“Cretino.” Resmunguei me levantando. Bati a porta do carro com força esperando que isso o deixasse incomodado, mas ele só se pôs a rir ainda mais enquanto continuava andando.

Não tinha jeito. Tinha que segui-lo.

Nós atravessamos o estacionamento, que tinha um chão feito por várias pedras, e passamos por um pequeno caminho que cortava o gramado do jardim. Não dava para a pousada realmente era, pois um tipo de casa se estendia ao longo de todo o estacionamento. Ela era cor de... Sorvete de creme? Acho que é o melhor nome, pois assim que a vi pensei nisso. Tinha só um andar.

“Vamos ensaiar.” Disse Ares parando diante da porta dupla de madeira da entrada. “Smith. Ares Smith.”

“É, e eu sou Bond. Alice Bond.” Zombei.

“Você me mata de rir.” Ele revirou os olhos. “Somos um casal feliz, que veio passar um tempo feliz, nesse hotel feliz.”

“Feliz, feliz, feliz.” Repeti. “Entendi.”

“Sei que a sua vida é miserável, mas pelo menos finja ser feliz.” Falou ele.

“Eu sou feliz.” Retruquei. “Só que só quando você não está por perto.”

Os olhos de Ares diziam “azar o deu, otária!”, mas ele soltou uma alta gargalhada.

“Ah! É tão bom ouvir que você é louca por mim, benzinho! Deixe-me abrir a porta para você!” Disse ele em um tom bem alto.

“Por que você...?” Ares abriu a porta revelando um enorme saguão e me empurrou para dentro.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Não tem como dizer o quanto aquele lugar era grande. Toda a casa (que na verdade não era uma casa) era o saguão. Quando entrei tive que estreitar os olhos.

O saguão era todo branco. E quanto digo todo... É todo mesmo.

Paredes brancas, chão de mármore branco, móveis brancos, balcão branco... Tudo extremamente branco! Chegava a cegar.

Do outro lado do balcão tinham umas duas pessoas. Recepcionistas que, ao nos verem entrar, sorriam. Sim! Sorrisos extremamente brancos!

“Bom dia!” Disseram juntos.

“Ahm... Bom dia.” Respondi hesitante e parcialmente cega. Olhei para o chão novamente. Imaginei se manter as coisas brancas seria uma regra do lugar. E se eu derrubasse café no chão? Alguém correria para limpar?

“Bom dia.” Falou Ares fingindo ser gentil e educado. “Queremos um quarto, por favor.”

Olhei para ele assustada. Por favor?! Que medo...

“Claro.” Assentiu uma das duas garotas. Agora eu podia ver que eram garotas. Chegamos perto do balcão e, enquanto uma mexia no computador, a outra me analisou curiosa.

“Que roupa é essa, senhorita?” Perguntou ela ainda sorrindo.

“Ah, é mesmo!” Exclamou a outra olhando para mim sorridente. “É tão... Diferente!”

É, é o meu pijama. Levei alguns segundos para poder enxergar novamente a cor laranja do meu pijama. Aquele lugar parecia um tipo de centro terapêutico. Será que os quartos eram todos brancos também?!

“Ahm... Última moda em Paris.” Menti.

“Uuuuuuh! Paris!” Exclamaram juntas encantadas. “Já esteve em Paris?!”

“Bem... Não.” Falei.

“Ah... Mas como...?” Perguntou uma delas.

“É... Presente.” Inventei.

“Voltando ao assunto do quarto...” Interveio Ares antes que ele começasse a perguntar mais coisas sobre o meu pijama. Me senti feliz por elas duas serem um tanto retardadas. Se fossem pessoas normais, eu teria ficado envergonhada por estar usando aquilo.

“Ah sim. Preciso do nome de vocês dois.” Pediu a que tinha cabelo loiro. Aos poucos a minha visão estava voltando ao normal.

“Ares Smith.” Contou Ares com uma pose triunfante, e eu tive que me segurar para não rir.

“E você deve ser a senhora Smith.” Presumiu a garota.

“Não!” Exclamei com nojo, mas logo lembrei que devia fingir.

Ainda não.” Interveio ele com um sorriso um tanto forçado.

“É. Ainda não.” Concordei sorrindo também. “Meu nome é Alice Kelly.”

“Alice... A... Li... Ce...” Soletrou a loira. “Kelly... Ke...Lly.”

“Quer ajuda para soletrar Smith?” Perguntou Ares zombando. Dei uma cotovelada nele.

“O que?” Perguntou ela sorrindo inocente.

“Nada não.” Sorriu ele de volta. “Então... Qual é o quarto?”

“Uhm... Temos o 413.” Disse ela. “É lindo! Fica perto do lago. Simplesmente... Divino!”

Divino? Acho que ela era filha de Afrodite...

“Ótimo. Esse aí serve.” Falou Ares.

A garota anotou o tempo que nós ficaríamos no hotel, e depois nos entregou a chave. Ela apontou para a porta e disse como chegar ao quarto. Nós assentimos e fomos direto para lá.

Quando finalmente saímos daquela maldita recepção, eu consegui enxergar novamente. Olhei para o vasto campo de grama que dividia espaço com pequenos chalés, lagos, piscinas, e várias outras construções com cores diferentes e tive uma ligeira vontade de cantar “What a wonderful world”.

“Para onde agora...?” Murmurou Ares para si mesmo, enquanto olhava em volta.

“Não sei.” Falei fingindo estar confusa também. “Talvez devêssemos seguir aquela placa que diz ‘quarto 330-450’.”

“Talvez você devesse entrar em uma escola de gênios, já que é tão esperta.” Resmungou ele de volta.

“Eu já acabei a escola.” Comentei.

“Ooooh! Que gênio!” Comentou ele de volta. “Vamos logo, Kelly.”

Nós seguimos por um caminho de cimento que dava perto da piscina. Viramos a esquerda algumas vezes, e depois á direita... Enquanto isso eu pude notar que o hotel era bem maior do que aparentava ser. Algumas pessoas estavam na piscina. Outras estavam andando perto do lago, e algumas só conversando enquanto andavam.

Quando finalmente paramos na frente da porta com a placa “Quarto 413”, nós dois suspiramos. Ares abriu a porta e acendeu as luzes.

O quarto era bem grande. As paredes não eram brancas, para a minha sorte. Eram decoradas com pequenos tijolos, o que dava um aspecto rústico ao lugar. Tinha uma porta que dava para o closet (um armário não muito grande, mas maior do que eu esperava que um hotel tivesse), uma que dava para o banheiro e uma para a varanda.

O único problema... Era que só tinha uma cama.

“É minha!” Exclamei junto com Ares. Nós nos entreolhamos, e depois olhamos para a cama. Eu saí correndo e me joguei nela, o problema era que... Ele fez o mesmo. “Não!”

Ares caiu do meu lado na cama, e eu suspirei aliviada por não ter morrido esmagada.

“Nossa... Eu vi a minha vida toda passar diante dos meus olhos.” Comentei levantando as mãos para o ar.

“Exagerada.” Resmungou ele. “Agora se manda da minha cama.”

Ares me empurrou e eu caí da cama. Já era a terceira vez do dia que ele me jogava no chão, e aquilo já estava me irritando.

“Escuta aqui, você não vai ficar com cama inteira!” Protestei.

“Vou sim.” Afirmou ele se ajeitando de um jeito confortável. “Se quiser, fique com o sofá.”

“Não tem sofá!” Exclamei apontando para o quarto.

“O problema não é meu, pirralha.” Retrucou ele.

“Cadê o seu maldito cavalheirismo?! Vai me fazer dormir no chão?!” Perguntei cruzando os braços.

“Ficou no lado de fora do quarto.” Respondeu ele sorrindo. “E... Sim. Vou fazer você dormir no chão.”

“Isso não é justo!” Reclamei. “Não vou passar duas semanas no chão!”

“Aaah, para de reclamar!” Exclamou ele. “É fraca demais para dormir no chão, Kelly? Como você é fresca!”

Oh! O cara que namora a Deusa do amor me chamou de fresca. Foi nesse momento que eu tive uma ótima idéia.

“Você pode falar isso de mim, mas aposto que você mesmo não consegue dormir no chão.” Desafiei. Ares olhou para mim com um sorriso torto.

“Sinto cheiro de aposta.” Sorriu ele. “Acha que eu não consigo? Ótimo. Então vamos fazer o seguinte... De noite, nós dois ficamos deitados no chão. Aquele que dormir por último tem o direito de ficar com a cama.”

Pensei no assunto.

“Mas vamos ter essa disputa toda noite.” Completei.

“Quer pensar que ter a chance de ganhar de mim?” Perguntou ele rindo. “Tudo bem. Pode ser. Você vai perder mesmo.”

“Vai sonhando.” Resmunguei.

“Vou sonhando nessa cama mesmo.” Sorriu ele fechando os olhos. “Fica quieta aí no canto, e vê se não me incomoda.”

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

“Ah ta! Você me acorda ás 5 da manhã, eu estou morrendo de sono, e é você que vai tirar um chochilo?!” Exclamei. “Nem pense nisso, senão...!”

“Senão o que?!” Quis saber ele. “Vai. Completa a frase.”

“Senão eu não vou te deixar dormir.” Disse fuzilando ele com o olhar. “Vou te infernizar toda a vez que você cair no sono.”

Ares bufou fazendo parecer que não ligava para a minha ameaça, mas por fim acabou revirando os olhos e levantando da cama.

“Você é uma peste mesmo, não é?! Que droga...” Resmungou ele se levantando.

“Aonde você vai?” Perguntei ao vê-lo indo para a porta.

“Aonde nós vamos.” Corrigiu ele. “Vamos andar por aí, já que você não vai me deixar em paz para dormir.”

“Ahm... Só um minuto.” Disse eu olhando que ainda estava de pijama. Peguei a minha mala, e Ares começou a resmungar sobre como eu era lenta. Ignorando ele, troquei de roupa no banheiro. Coloquei uma bermuda jeans e uma camisa de mangas curtas roxa. Tinha uma branca, mas ainda estava com trauma dessa cor. “Pronto.”

“Já era hora.” Resmungou ele. “Vai logo. Passa na minha frente.”

Com seu jeito doce e delicado (sarcasmo, se você não notou) Ares me levou para fora do quarto. Nós ficamos andando pelo hotel por algumas horas. Toda vez que passava alguma garota de biquíni ou coisa do tipo, Ares convenientemente parava para descansar “a vista”.

“Ela já foi embora. Podemos continuar?” Pedi revirando os olhos.

“Não estava olhando para ela.” Disse ele fingindo-se de inocente.

“Aham.” Concordei. “E eu sou Atena.”

Nós paramos em uma mesa perto da piscina, onde ele podia descansar a sua vista ainda mais. Enquanto ele olhava para as garotas mergulhando, eu olhava para o lago. Era enorme mesmo.

Eu nunca me dei muito bem com lagos, até porque... Não sei nadar muito bem. Já quase morri afogada algumas vezes quando passei uns dias na casa de um tio do Will no Alabama. Sim... Muito caipira.

“Bonito, não é?” Perguntou uma voz.

“É...” Concordou Ares distraído, mas então ele franziu o cenho e se virou para ver quem tinha dito aquilo. “Ah... É você.”

“Quem?” Perguntei olhando para a pessoa.

Um homem de camisa havaiana, bermudas largas, e chinelos de dedos sorria para nós dois. Ele segurava um tipo de drink com guarda-chuva na mão.

“Olá, Alice Kelly.” Disse ele sorrindo.

“Ahm... Olá para você também.” Disse sorrindo. “Quem é você?”

O homem riu.

“Não me reconhece?” Perguntou ele. O homem puxou uma cadeira e sentou-se ao nosso lado.

“Ah... Se manda daqui.” Resmungou Ares revirando os olhos.

“Pare com isso.” Falei sem graça.

“Finalmente você achou alguém que tem educação, Ares.” Disse o homem rindo. “Meu nome é Poseidon. Agora você sabe quem eu sou?”

Engoli em seco. Aquele cara simples de bermudas era o Deus do mar?! Sempre tinha imaginado ele de um jeito mais dramático. Como... Aqueles caras super fortes, com barba comprida e olhar zangado. Mas... Isso era mais a imagem de Zeus, do que a dele.

“Prazer em conhecer.” Disse e ele apertou a minha mão com força. Era um tanto áspera, mas mesmo assim eu não liguei.

“O que você quer aqui?” Perguntou Ares.

“Vim ver com os meus próprios olhos essa história de você estar com a namorada do Apolo.” Disse ele olhando para mim. “Que mundo louco, hein?”

Eu dei uma risada nervosa.

“É... Nem te conto.” Falei sem graça.