Gatah em Chamas

A Família


Sim, eu queria o Tom. Eu me entregara completamente à ele por meio do nosso beijo.
Ele me beijava tão intensamente que eu podia sentir o seu desejo. Agora estava mais claro do que nunca e não restavam dúvidas. Eu o queria como nunca quisera ninguém antes.
Senti a mão do meu namorado apertando a minha bunda e nós dois sorrimos no mesmo instante. Depois senti sua mão afrouxando e deslizando sobre a minha pele nua causando-me arrepios por todo o corpo, até ele cravar as suas unhas na minha coxa. Um desejo incontrolável começava a me consumir por dentro, como chamas ardentes.
Eu estava consciente do meu corpo pressionado contra o dele, do meu corpo em chamas e do nó que se formavam na minha garganta de tanto desejo. Eu estava consciente de que tínhamos apenas catorze anos de idade. Eu estava consciente de que os pais dele poderiam aparecer a qualquer instante. Eu estava consciente da mão do Tom na minha bunda, por baixo do meu vestido. E, sim, eu estava completamente consciente da elevação dura em sua calça. E eu esperava estar totalmente consciente do que íamos fazer.
Deixei o meu lado selvagem, sensual e safado se apoderar totalmente de mim (algo que eu nunca fizera ou me atrevera em pensar em fazer). O meu lado racional estava desligado porque eu sabia, de alguma forma, que se eu pensasse por aquele lado eu pararia tudo e iria embora, constrangida. Mas aquele não era um momento que pedia racionalidade. Muito pelo contrário; agora nós agíamos por impulso, direcionados pelo desejo, sem nos preocuparmos com vergonha ou constrangimento. Sem pensar muito; apenas vivendo. Era um momento nosso, que pertencia apenas a nós dois.
Na verdade, em muitas ocasiões eu me perguntara quando aquilo iria acontecer e, principalmente, como e com quem. Eu achava que seria totalmente vergonhoso; como eu teria coragem de fazer aquilo? Mas, vivenciando o que eu estava passando, era tudo natural. Tão fácil e tão simples que ninguém pode imaginar antes de realmente fazer. Foi especial, não dávamos a mínima para o exterior. Como eu já disse, um momento apenas nosso.

Eu acordei com um sorriso no rosto. Meu sono fora tão calmo e tão tranquilo que eu me sentia totalmente descansada de tudo o que ocorrera no dia anterior. E olhe que aconteceu uma porrada de coisas num dia só!
Eu sempre imaginara qual seria a sensação de amanhecer nos braços do meu namorado. É uma sensação de segurança e pura felicidade. Conforto e nenhuma preocupação. É perfeito.
Me espreguicei demoradamente me lembrando do que ocorrera no dia anterior, e não pude evitar um sorriso malicioso. Fora perfeito! Eu experimentara um dos momentos de pura felicidade na minha vida. Uma vida que, neste momento, estava às mil maravilhas e eu desejava como nunca que continuasse assim.
Finalmente abri os olhos e percebi uma claridade ofuscante na sala. A enorme janela que ocupava quase toda a parede deixava entrar uma luz cegante.
A primeira coisa que vi após a infernal cegueira causada pela luz foi o Tom. Ele ainda dormia profundamente, e eu fiquei algum tempo admirando a sua beleza aconchegada em seus braços, escutando a sua respiração reconfortante, que transmitia tranquilidade e segurança. Ele ainda guardava um mínimo sorriso de felicidade no rosto, como eu estivera.
Esperei um bom tempo pelo meu namorado enfim acordar, mas não me incomodei. Era maravilhoso ficar observando a sua perfeição enquanto ele dormia, sem saber do meu olhar. Ele enfim deu uma mexida com a cabeça e suspirou profundamente, me envolvendo mais apertado ainda com os seus braços. Abriu minimamente os olhos, e não pude deixar de rir com o seu incômodo com a claridade. Pelo jeito não fora só eu.
— Bom dia — sussurrei beijando delicadamente seus lábios.
— Bom dia — suspirou ele tirando uma mecha de cabelo do meu rosto. Depois sorriu maliciosamente para mim e usou um tom de voz sarcástico. — Não conhecia aquele seu lado de ontem.
— Nem eu — confessei.
Me aconcheguei em seus braços dando um suspiro.
— Você é maravilhoso, sabia?
— Maravilhoso para mim foi você ontem — riu-se ele.
Levantei uma sobrancelha, preferindo nem responder ao seu comentário.
— Quando sua prima chega?
— Não faço a menor ideia.
Em resposta, ouvimos a campainha soar. Bufei praguejando aquela maldita prima.
— Tenha paciência com ela — pediu Tom.
Ele levantou se espreguiçando e foi atender a tal Marcela, ainda todo bagunçado de uma boa noite de sono. Me levantei também e arrumei meu vestido azul que estava usando no dia anterior. Minha mente vagueava ansiosa para saber a aparência da prima. Seria ela bonita? Se fosse, como eu ia poder competir com ela? E a sua reação quando soubesse da nova namorada de seu amado… Inferno. Não queria nem imaginar o que ela e sua mãe fissurada poderiam fazer. Levei instintivamente minha mão ao meu pescoço, protegendo-o. Logo depois me toquei do que eu tinha feito e tirei rapidamente as mãos. Ninguém vai cortar o seu pescoço, Agatah. Pelo menos não agora.
— Tom! — exclamou animada uma voz absurdamente alta e incomodantemente animada. Imaginei-a abraçando meu namorado e passando a mão em sua bunda… Argh, precisava parar com esses pensamentos!
— Oi Marcela! — Não gostei nem um pouco do tom de voz animado do Tom.
Eu simplesmente não podia mais ficar parada lá, enquanto a menina que dá em cima do meu namorado estava na sala junto dele, provavelmente se oferecendo como uma puta. Sim, eu sou ciumenta e sim, eu sou possessiva. E o Tom não pode reclamar nada, porque ele também é como eu. Você sabe.
Subi furiosamente a escada em direção à sala, super ansiosa para saber a aparência da garota.
Abri um pouco estrondosamente a porta e dei de cara com a Marcela abraçada com o Tom. Sim, a maldita Marcela com o meu Tom. Logo quando eles finalmente se separaram (já estava na hora), olhei a figura que me artomentara todo esse tempo.
A Marcela era um pouco mais alta do que eu, dona de um cabelo dourado ondulado e comprido (bonitos demais, para o meu azar), olhos azuis que fitavam irritantemente meu namorado com um desejo muito aparente, esbelta e peituda demais.
Eu estava ferrada.
Me perguntei profundamente e sinceramente não soube responder de maneira nenhuma porque o Tom não namorou ela. Inferno, ela era pior do que a Erika! Olhei a diferença aparente dos dois e tenho certeza de que eu não imaginaria de forma alguma que eles eram primos.
A Marcela ficou sorrindo para o Tom até ele pigarrear e me apresentar.
— Bom, Mah… — Mah? Que porra intimidade era aquela? — Essa é a Agatah.
Ela me olhou de cima a baixo, aparentemente fazendo a mesma avaliação que eu. Pude ver em seu olhar como ela me classificara: concorrente. E pelo jeito não me considerou uma concorrente à sua altura.
— Agatah, prazer — disse um pouco falsa e fria demais. O Tom me olhou, repreendendo-me.
— Marcela — apresentou-se ela, sorrindo. Ela realmente gostou de mim ou ela era tão boa atriz para agradar o Tom a ponto de parecer tão verdadeira com aquele sorriso? Não me senti culpada pelo meu sorriso frio, enquanto ela me retribuía com um sorriso brilhante. Só podia ser farsa daquela piranha.
Quando soltei a mão dela, uma vontade incontrolável de limpar minhas mãos no meu vestido para tirar aquele toque de piriguete dela se apoderou de mim. Mas eu resisti duramente e mexi minha mão, desconfortável.
Passou-se alguns segundos em um puro silêncio até eu quebrá-lo.
— Então quer dizer que você também vai à festa, hein?
— É — respondeu ela. — E você dormiu aqui, pelo jeito?
— É. Nós somos...
— Amigos muito próximos — cortou-me Tom rapidamente. Não gostei nem um pouco daquela atitude. Nem entendi, tão pouco. Qual era o problema do Tom para dizer que éramos namorados? Ele tinha me jurado que eu não precisava me preocupar em relação à Marcela, mas agora ele simplesmente esconde o fato de estarmos namorando? Que merda era aquela? Cravei minhas unhas na minha mão de tanto nervosismo me segurando para não gritar: "Porra, nós somos namorados, ok vadia? Agora volta pro seu pasto, vaca, e nos deixe em paz".
Lancei um olhar meio desentendido e meio ameaçador para o Tom, que parecia estar confuso. Se ele não falasse eu é que iria falar.
— Amigos próximos? — Marcela erguia sua sobrancelha loura para nós, incrédula. — Amigos?
— Bem, na verdade... — começou Tom ainda meio confuso. Revirei os olhos para ele. Abri a boca para falar a palavra "namorados" até que ele me interrompeu, soltando tudo de uma vez. — Estamos namorando.
A reação de sua prima foi primeiro confusa, como se ela estivesse raciocinando as palavras ainda. Depois ela ficou séria, tipo "como?!". Aí ela ficou muito, muito brava e nervosa, mas rapidamente sorriu, escondendo seu nervosismo.
— Jura? Desde quando? — perguntou ela aparentemente escondendo sua raiva.
— Ontem — respondi antes que o Tom mentisse mais uma vez.
— Ontem? E ela dormiu na sua casa?! — Ela abandonou seus esforços de fingir se manter calma.
— Bem... — começou Tom.
— Marcela! — exclamou uma voz desconhecida. Era doce, suave, melodiosa, maternal, e transmitia segurança e tranquilidade.
— Sra. Eagle! — respondeu a maldita. Foi engraçado como ela mudou seu estado de espírito tão facilmente, de furiosa para meiga.
— Você veio! — A dona da voz era uma mulher aparentemente jovem demais para ser mãe, mas velha demais para ser nova. Era alta, com aparência delicada e meiga, vestindo roupas elegantes. Tinha cabelos cheios e escuros escorridos pelas suas costas e olhos azuis constratantes. Era linda. E só podia ser a mãe do meu namorado. — E como está a sua mãe?
— Ótima, é claro — disse a Marcela, sorrindo.
— Que bom... — Ela desviou os olhos e notou a minha presença, desentendida. — E... Quem é você?
— Ela é a Agatah, mãe. — disse o Tom. Ela abriu um sorriso enorme ao escutar o meu nome. — Aquela que eu tinha dito pra você... Eu a convidei pra dormir aqui hoje.
— Agatah, eu sou a sua futura sogra, Stephanie Eagle! — Recebi um abraço muito animado e gentil dela, que me fez sentir extremamente confortável. E seu perfume era delicioso, uma mistura de lavanda com um cheiro doce... Não sei explicar muito bem. Só sei que era maravilhoso.
Infelizmente ela me soltou e me fitou com aqueles olhos azuis penetrantes como os do filho.
— O Tom já te pediu em namoro? — perguntou ela com um tom de brincadeira na voz. Pude ver o Tom corando e a Marcela ficando vermelha não de vergonha, e sim de inveja. Eu corei junto com o meu namorado antes dele responder:
— Bem, já mãe...
— Ora, então precisamos comemorar depois! — disse ela sorrindo. — Agora você também é da família!
— Olá, Stephanie! — cumprimentou uma voz estranhamente familiar.
— Mãe! — exclamou a Marcela. Acho que a tia obsessiva do Tom chegara. Agora eu não pude deixar de pensar no meu querido pescoço.
Inferno.

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