- Miranda

O som de meninas gritando me fez acordar.

- Norah, desliga a TV. – Reclamei e voltei a dormir. Mas o som continuava. – Pronto, acordei! – Levantei, mas não tinha ninguém no quarto e a TV estava desligada.

O som vinha lá de fora. Fui até a janela e vi um bando de meninas gritando em volta de um Range Rover preto. Tinha uma chorando também. “Maldito clipe que não me deixa dormir!”, pensei.

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- Miranda? – Uma mulher me chamou do outro lado da porta.

- Já vou sair, relaxa! – Falei, já sem paciência.

Vesti minha melhor blusa, um jeans e uma sapatilha, enfiei minha nova redação na mochila, peguei a blusa que a moça da arara havia me emprestado e saí do quarto, fazendo uma cara sarcástica para a moça.

- Obrigada. – Ela falou.

- Disponha.

Desci para tomar o café-da-manhã.

- Mãe, você viu a minha câmera? – Desci gritando.

A porta foi aberta. Virei só para ver se não era a moça da arara. Não, não era. Era melhor que isso, era o Usher.

- Olá, família! – Ele falou, como se fizesse parte dela.

- Ahn, oi... Usher. – Respondi, meio sem jeito.

Ele me fitou.

- Você não é a garota das fotos?

- Hã? É... Mãe, se você achar a câmera, deixa no meu quarto tá? E... Tchau, Usher.

- É a garota das fotos. – Ele falou mais para si mesmo do que para mim.

Fui para a porta. Quase que café voa em mim de novo. “Ah, que menino mal educado!”, pensei, fuzilando ele com o olhar. Vi a moça das roupas perto de uma van, na garagem. Devolvi a blusa e agradeci novamente.

~x~

- Devia ler suas redações antes de entregá-las, Srta. Stephen. – A professora falou.

Apenas sorri e voltei para o meu lugar. Eu estava meio que preocupada com minha câmera. Estava com medo de tê-la esquecido com o Justin... Ah, Justin Bieber. Tentei não pensar muito naquilo. Ó Deus! Ele era muito curioso. Fez com que me lembrasse de coisas, das quais não queria lembrar. Mas ele era fofo. Não podia culpá-lo, ele não sabia, e nem iria saber. Uma questão estava martelando em minha cabeça: caso eu tivesse deixado minha câmera com ele, como faria para pegá-la de volta? Não podia simplesmente ligar para a telefonista e pedir o número de Justin Bieber.

~x~

- Miranda! – Lizzie gritou meu nome ao sair do salão de desembarque.

- Eu! – Respondi rindo.

O aeroporto estava meio vazio, e grito dela ecoou.

- Ah! Que saudades! Nova York não é nada sem você! – Ela disse.

- Ah, que besteira. Já pegou todas as malas? Nenhuma foi extraviada?

- Ninguém tem a mesma sorte que a sua Miranda. Minhas malas chegaram sãs e salvas. – Ela se gabou.

Eu ri, recordando do fato de que todas as vezes que eu viajava de avião, pelo menos uma mala era extraviada, sempre para o Canadá.

- Então vamos. Estou doida para saber se minha mãe achou minha câmera.

Ela revirou os olhos.

- Existe um pequeno aparelho que pode reduzir sua aflição, algo chamado celular. – Ela falou, sarcasticamente.

Ignorei-a, tinha coisas mais relevantes para falar.

- Você não vai acreditar: o Usher está gravando um clipe lá em casa!

Os olhos dela brilharam.

- Mas já é a 3ª vez esse ano que algum astro pede sua casa para algo. Queria eu morar numa das mansões mais lindas de Atlanta. – Ela me deu uma cotovelada de leve ao dizer isso.

Foi a minha vez de revirar os olhos.

- Fique você sabendo que não tem nada de demais. – Garanti.

- Ah, claro que não deve ser nada de demais acordar e encontrar a Britney Spears ou o Usher sentado no seu sofá zapeando pela TV. – Ela falou com uma certa ironia que eu até gostei. Liguei o carro e saímos do aeroporto de Atlanta.

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~x~

- Ah, droga! – Reclamei quando vi todo aquele alvoroço na frente de casa. – Ainda estão aqui?

Estacionei o carro em um lugar qualquer e procurei o maldito crachá dentro da minha bolsa. Não estava lá.

- Ah, ótimo. – Reclamei de novo. – Vem, Lizzie.

Tinha um homem na porta. Uma espécie de segurança, eu acho.

- Identificação, por favor.

- Ér, não é necessária. Moro aqui. – Falei, avançando, mas ele me barrou.

- Mas eu moro aqui! – Falei, exasperada.

- Só entra com o crachá. – Ele declarou o óbvio.

Virei para Lizzie, cochichando alto.

- Entra pelos fundos. – Falei e ela sorriu, assentindo. Ela disfarçou um pouco e começou a andar. O homem a seguiu. Aproveitei para entrar, mas ele me notou.

- Ei! – Ele gritou e veio atrás de mim.

Entrei correndo e voei escada acima. Tentei abrir a porta do meu quarto, mas estava trancada. Bati desesperada.

- Justin! Cuidado! – Ouvi o homem gritando já no último degrau da escada.

- Justin? Como... – Comecei a falar, mas a porta foi aberta e eu entrei, correndo.

Tinha alguém na minha frente, mas eu nem liguei. Empurrei o ser vivo e tranquei a porta. Encostei a cabeça na madeira fria da porta. Senti alguém me encarando. Suspirei e virei.

- Justin

Eu estava de toalha, devia ter me escondido ou algo assim. Mas o choque foi maior e eu fiquei ali de toalha olhando para ela.

- A-ah, Justin Bieber? – Ela quebrou o silêncio constrangedor.

- Oi garota-que-não-disse-seu-nome-naquele-dia. – Eu disse e ela riu.

- É Miranda. – Ela abriu um sorriso tímido.

Ela olhou para uma cadeira que tinha uma blusa manchada de café, depois olhou para mim, bom, não para mim, mas para a toalha.

Eu me senti um idiota ao ligar os pontos: manchei a blusa dela e ainda estava no quarto dela com a toalha dela. E ainda tinha a câmera.

- Ah, você esqueceu isso comigo. – Falei, enquanto pegava a câmera na mochila que eu tinha trago.

Quando ela viu o objeto, seus olhos brilharam, ela o pegou e depois me abraçou.

Com essa do abraço, confesso que ela me pegou desprevenido. Mas também confesso que gostei do abraço.

Ela foi guardar a câmera numa cômoda cheia de porta-retratos. Meus olhos passearam por seu corpo. Havia algo de diferente em seu físico que não havia na maioria das outras garotas, algo bom, que eu particularmente gostei.

- Será que você podia... Se vestir? – Ela perguntou, arrancando-me de meus devaneios.

Percebi que ela tentava não olhar demais para mim. Aquilo me divertiu.

- Claro. – Entrei no banheiro e tentei me vestir o mais rápido possível.

Quando saí, vi Miranda olhando para o céu, na sacada.

- Miranda, você está bem? – Perguntei ao perceber que ela prendia a respiração e ficava vermelha. Ela limpou uma lágrima rapidamente.

Fiquei de frente para ela, que virou o rosto, tentando disfarçar.

- Quer falar sobre alguma coisa? – Perguntei.

- Por que eu falaria com você? – Ela perguntou de volta, não de um modo arrogante, mas de um modo derrotado, talvez.

- Sei lá. Falar com alguém estranho pode ser melhor que falar com alguém conhecido. Funciona com os psicólogos, não funciona? – Argumentei.

Ela sorriu. Estava prestes a falar algo quando Kenny me chamou do lado de fora.

- Justin? Você ainda está vivo? – Ele perguntou.

- Acho que o homem que estava atrás de mim agora está atrás de você. – Ela falou.

Fui até a porta e a destranquei.

- Estou bem, Kenny.

- Tem certeza? – Ele certificou-se. Assenti. – E o que eu faço com a outra moça?

- Ahn... Veja o que ela quer e analise se pode fazer o que ela quer. – Falei, num tom categórico.

- Certo. Apresse-se, Scooter está te esperando. – Ele falou e foi embora.

Virei para ela novamente, mas ela remexia em sua mochila. Tirou um papel.

- Acho que eu troquei isso sem querer. Não sei por que não notei antes que não era minha. Quer dizer, minha vida não é assim tão boa. – Ela falou, mas depois pareceu se arrepender, porque olhou para mim como quem se desculpa.

- Minha vida não é assim tão perfeita como a maioria das pessoas pensa. As pessoas são egoístas de achar quer suas vidas são piores que a minha e...

Ela apenas colocou o papel e minhas mãos e sorriu, mas não era um sorriso completo, não era o sorriso que eu estava começando a gostar de ver.

- Sinto muito por sua vida não perfeita, mas não se esqueça que cada pessoa ao seu redor está travando uma batalha por dentro. Boa noite, Justin. Obrigada pela câmera. – Ela falou e abriu a porta para mim.

Quis perguntar o que eu fiz de errado. Mas, ao passar pela porta, ela me chamou, a voz ainda baixa.

- Vou te ver amanhã? – Ela perguntou.

- Você quer me ver amanhã? – Joguei um charme para cima dela.

Ela riu, acho que deu certo. Além do sorriso, estava começando a gostar de sua risada também.

- É só que... Sim ou não? – Ela não conseguiu terminar a frase.

- Sim.

Ela abaixou um pouco a cabeça e sorriu.

- Boa noite. – Ela falou e fechou a porta.

Saí da casa um pouco mais devagar que de costume. Antes de entrar no carro, ainda pude vê-la enxugando algumas lágrimas pela janela. Fechei a porta e pedi para Kenny nos levar ao McDonald’s.

Enquanto Kenny devorava um BigMac e Scooter degustava suas batatas já frias, procurei no Google qual era o período escolar correspondente ao de Miranda. Sorri ao ver que hoje fora o último dia de aula dela.

~x~

- Obrigado, Sue. – Agradeci à assistente que trouxe os cafés. – Pode deixar que eu levo.

Chaz andava de um lado para o outro na casa, estava começando a me irritar. A senhora Stephen chamou Scooter num canto e falou com ele. Logo mais todos os membros da família saíram, menos Miranda. Scooter veio falar comigo.

- Eles vão sair para resolver assuntos de família e acham que a mais nova não deve estar junto, portanto ela vai ficar. Isso pode ser bom, talvez ela possa distrair o Chaz. – Ele falou.

- Bem, vou lá acordar ela. E...

- Olha lá, hein, Bieber! Ela é a princesinha do rei da casa. Não queremos confusão, não é? – Scooter me advertiu.

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Apenas sorri e disparei escada acima com os dois cafés nas mãos. Bati na porta.