Capítulo 17

POV Demi Adams

Toquei há campainha da casa dos Salvatore e foi o Stefan que me abriu a porta.

-Demi? O que estás aqui a fazer?

-O Damon, está?

-Está no quarto – respondeu ele. – Que se passa?

-Preciso de esclarecer uma coisa com ele.

-Demi, o que aconteceu quando eu não estive em casa? Ele fez-te alguma coisa?

-Não, ele não me fez nada de mal, Stefan! Posso entrar?

-Sim, claro – falou ele e deixou-me entrar.

-Eu sei o caminho até ao quarto dele, obrigada, Stefan – falei e subi as escadas a correr.

Quando cheguei à porta do quarto dele abri-a de rompante, sem me preocupar em bater, não fosse ele sentir-me e fugir pela janela.

Ele estava deitado na cama, agarrado ao meu casaco. O seu olhar estava distante e por momentos pensei que ele não me tinha notado, mas virou o seu rosto para mim a lamentar-se pelo olhar.

-Desculpa.

-Eu tenho uma pergunta para te fazer – falei. Eu não podia desviar-me daquilo que tinha para saber. Eu tinha de saber se tinha sido ele a alimentar-se da Vicky.

-Diz.

-Foste tu que atacaste a Vicky naquela noite?

-Qual noite?

-Na noite da festa do início das aulas. Na mesmo noite que quase mataste o Riley.

Ele enrijeceu e levantou-se da cama. Ficou a centímetros de distância de mim e eu conseguia sentir a sua respiração. Levantei o rosto e fixei o seu olhar. Eu precisava de uma resposta.

-Sim, fui eu.

Ofeguei. Ele era um monstro! Ele quase tinha-a matado! Ele quase matou o Riley, quase me matou a mim, alimentou-se de mim, apagou-me a memória, estava a magoar a Caroline, eu sabia-o! Ele não andava com a Caroline por causa de gostar dele, ele andava com ela porque era a sua refeição segura. E de certeza que depois também lhe apagava a memória.

-Oh. Meu Deus – falei e afastei-me dele. Onde estava a minha coragem naquele momento? Eu sabia que ele era um vampiro, mas nunca tinha visto a dura realidade que aquilo implicava. Ele podia matar-me!

-Por favor, Demi, tudo menos isso – pediu ele e deu um passo na minha direcção. Voltámos a ficar a centímetros um do outro, eu podia tocar-lhe.

-Porque fizeste aquilo? – perguntei horrorizada. As minhas faces estavam a arder, assim como os meus olhos. Aos poucos fui ficando com a minha visão turva devido às lágrimas que ameaçavam brotar.

-Porque estava descontrolado, porque uns segundos atrás eu queria ter-te matado, mas depois o Riley afastou-me de ti, eu estava furioso e ela foi o primeiro humano que vi à minha frente para depositar a minha raiva e angústia por ter ansiado matar-te! – falou ele rapidamente, sem sequer ter respirado um segundo.

Eu estava confusa. Então, tinha sido eu a culpada do acto dele. Se não tivesse acontecido nada comigo, ele não teria quase matado a Vicky. Houve uma onda de culpa que me preencheu por completo, e senti a boca do estômago a contorcer-se e o meu rosto a ficar molhado. Malditas lágrimas!

-Por favor, não chores! – pediu ele, enxugando algumas lágrimas.

-Porquê? Porquê tu?

-Que estás para aí a falar? – perguntou-me confuso.

-Porquê? – indaguei e abracei-o com receio das minhas forças se irem abaixo. Eu não me estava a sentir nada bem com tudo isto, e o meu corpo estava a dizer isso.

-Demi, o que se passa?

Agarrei-me mais a ele, porque estava a sentir que estava a perder as forças. Talvez precisasse de uma água com açúcar para aumentar…

-Demi! – gritou ele.

Eu já não me estava a sentir. Estava a ir-me embora.

-Demi, responde-me!

Apaguei.

POV Damon Salvatore

Mal ela desmaiou nos meus braços, levei-a para a minha cama e instintivamente cortei o meu pulso e levei-o há boca dela. Tive que a obrigar a bebê-lo senão ela não engoliria uma gota sequer.

-Stefan! – exclamei e ele apareceu no meu quarto, um segundo depois.

-O que lhe fizeste? – perguntou ele num modo acusador.

-Traz-me água para ela, por favor. Sem perguntas – disse, e na última parte foi num tom ameaçador. Porque é que ela não acordava?

Ele desapareceu do meu quarto e quando apareceu trazia um copo cheio de água.

-Obrigado, Stefan – falei e depois acrescentei. – Eu tomo conta a partir de agora.

-O que lhe fizeste?

-Eu disse sem perguntas! – gritei e voltei a olhar para o rosto dela. Stefan pousou o copo de água junto à mesa-de-cabeceira e depois desapareceu, fechando a porta. Deve de ser mesmo burro, pensando que eu não ia saber que ele iria ouvir, a partir de agora, tudo o que acontecesse no meu quarto!

Os olhos dela estremeceram e depois ela acordou. Ah, graças aos Céus, ela estava viva!

-Damon?

-Oi – falei, sorrindo de alívio.

-Desmaiei?

-Parece que sim. Perdeste as forças.

-Hum.

Ela olhou em redor e viu o copo com água.

-Posso?

-Claro que sim – falei e peguei no copo para lhe dar. Ele bebeu tudo num segundo e depois voltou a recostar-se. Respirou fundo e fechou os olhos.

-Está tudo bem?

Ela negou com a cabeça e acrescentou:

-Tenho a cabeça ás voltas. Acho que vou cair.

-Estás a ter tonturas – afirmei. – Eu tenho uma solução.

-Ai sim? E qual é?

-Podes beber do meu sangue – falei. Ela olhou-me aterrorizada e perguntou:

-Isso não me vai transformar?

-Não, e tu tens a prova disso: dei-te do meu sangue quando tiveste o acidente de carro e antes de beber o copo com água dei-te um pouco do meu para melhorares a recuperação.

-Não te importas?

-Não – respondi e fiz um corte no pulso. Ela olhou para o corte a pensar duas vezes. Aos poucos, fui sentindo a ferida a fechar-se e fiquei à espera dela. Levantou um pouco as costas e olhou-me.

-Desculpa, não consigo – admitiu ela.

-Estás muito fraca. Ao menos deixa-me levar-te a casa.

-Quero ficar aqui – falou ela e depois corou um pouco. – Desculpa, não devia de estar a impor a minha presença.

-Não faz mal. Também quero que fiques.

Deitei-me ao lado dela e rodeei-a com os meus braços. Ela aninhou-se no meu peito e respirou fundo.

-Então, tu alimentas-te de sangue humano, certo?

-Não precisamos de falar disso – tentei desviar o assunto.

-Mas eu quero. Quero conhecer-te melhor.

Respirei fundo, aspirando o perfume dos seus cabelos.

-Sim, alimento-me de sangue humano.

-E a Caroline é a tua… doadora?

-Mais ou menos isso. Eu apago-lhe a memória, assim, ela não sabe bem o que lhe acontece.

-Porque fazes isso? Quer dizer, não há outra forma de te alimentares sem ser de sangue humano?

-Como o meu irmão? – falei, um pouco irónico. – Ele só se alimenta de sangue de animais, por isso é um fraco. Não pode ver uma gota de sangue humano e começa logo a salivar!

Eu sabia que ele estava a ouvir, foi só por causa disso que lhe falei daquilo. Quer dizer, não estou muito longe da verdade, certo?

-Mas tu resistes ao sangue humano, certo?

-Sim – falei, mas depois pensei melhor. – Quer dizer, ás vezes.

-Esse ás vezes, é por exemplo com o meu sangue?

-Não. Quer dizer, sim – suspirei e evitei não rolar os olhos. – Acontece quando estou mais faminto. Mas no teu caso foi diferente. Não sei como, mas foi.

-Eu devia de ir para casa – disse ela e depois perguntou: - Vais assistir ao cometa?

-Ainda não tenho a certeza – respondi. – Depois digo-te alguma coisa.

-OK.

Ela levantou-se devagar e depois deu-me um beijo na face.

-Até logo.

Ela pegou nas coisas dela e saiu do quarto. Eu fiquei a pensar na questão: se eu não estava com fome, porque tinha reagido daquela forma com ela? Eis uma boa questão. Tenho que ir investigar.