Capítulo VI

— ... e então o príncipe disse que ficaria sempre comigo, e eu acabei dormindo no colo dele... – Rima confidenciava, com o rosto brilhando escarlate, inclinada sobre a mesa do café. Nadeshiko remexeu-se incomodada no sofá, olhando pela janela.

— Waa!!! Que sonho mais lindo, Rima-tan! Yaya também quer um príncipe para ela! – Yaya exclamou, levantando os braços para cima, animada.

— E como era o seu príncipe, Rima? – Amu disse, sem tirar os olhos de Nadeshiko, que disfarçou perfeitamente.

— Eu não sei bem, estava tão escuro... mas eu lembro muito bem dos olhos dele, eram dourados, cor de mel, e tinha cabelos bem compridos, bagunçados, escuros eu acho... ele também não usava roupas de príncipe, só uma camisa branca... e parecia bastante cansado!

Amu pareceu absorver a história, acenando com a cabeça afirmadamente, como quem acaba de entender tudo perfeitamente. Lançou o olhar de “você me deve explicações” para Nadeshiko e voltou a atenção para seu capuccino.

— Rima-tan, você não ia gostar de encontrar o seu Príncipe de verdade? – Yaya indagou.

— Eu adoraria... – Rima admitiu, corando ainda mais. Nadeshiko deu um pulo assustado, com o rosto ruborizando levemente. Amu sorriu para si mesma, discretamente.

— Com licença – uma voz grave foi ouvida ao lado da mesa, causando um silêncio repentino de surpresa em todos. O gerente do café estava parado, olhando seriamente para Amu, que repentinamente pareceu muito desconfortável, com o rosto corando e sem saber onde colocar as mãos – eu posso falar com você? – perguntou, ignorando todos os outros completamente.

Amu levantou-se, sem dizer nada, e seguiu o garoto de cabelos azulados até a porta atrás do balcão.— Uée, o que aconteceu com a Amu-tan? – Yaya bradou, olhando indiscretamente para onde Amu havia ido.

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Nadeshiko assista a calmamente aos treinos, sentada na escada. Tinha permissão para não participar das aulas de educação física, então ficava apenas observando Rima tropeçar pelos cantos enquanto tentava fingir que sabia o que estava fazendo. Era, em geral, um tempo bastante proveitoso e divertido para ela. Sentiu uma aproximação nada discreta as suas costas, e virou-se, com o sorriso pronto de dama no rosto, ignorando o fato de estarem atrapalhando sua diversão.

— Posso ajudar em algo, Amu-san?

— Claro que pode! Me conta o que aconteceu no sonho da Rima! – ela respondeu, rispidamente, sentando ao lado de Nadeshiko.

— Você não deveria estar na corrida de obstáculos, Amu-san? – perguntou educadamente, apontando para o uniforme de exercícios que a garota vestia.

— Não agora. Vamos, conte logo! Aconteceu alguma coisa com ela? – falou, ansiosamente.

— Vejamos... o que aconteceu com você, lá no café?

— D-d-d-do q-q-que você ta falando? – balbuciou, perdendo-se na linha de pensamentos.

— Viu?! Existem alguns assuntos particulares que não dizem respeito a mais ninguém. Ou você prefere que eu compartilhe seus segredos com todas? Sabe, eu não sou segurança da Família Mashiro à toa, tenho algumas pequenas habilidades com investigação, e poderia...

— T-tudo bem, já entendi! – ela disse, suspirando – Não vou me meter, feliz agora? – falou irritada, levantando-se.

— Bastante – Nadeshiko sorriu sarcástica, de uma maneira que não combinava com seu perfil usual.

— Esse sorriso besta não vai ficar aí muito tempo – Amu disse, maliciosa, olhando para trás – você vai ter uma surpresinha mais tarde! – disse afastando-se.Nadeshiko sorriu de volta e voltou a assistir Rima, sem se importar com o que quer que Amu estivesse insinuando.

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O sinal tocou melancolicamente no final da tarde, movimentando os alunos em direção aos seus clubes, atividades extra-curriculares, ou, no caso em questão, à saída.

Nadeshiko esperou por Rima na frente da sala dela, como sempre, e as duas foram juntas para a escada, conversando trivialidades. Amu as acompanhou, com um sorriso de escárnio nada característico, que assustou alguns kouhais que passavam.

Antes de chegarem a entrada, Rima pediu para comprar um suco, e seguiu para a máquina automática do corredor, enquanto Nadeshiko andava calmamente até o armário de sapatos, acompanhada de perto por Amu, que parecia esperar por algo ansiosamente.

Nadeshiko abriu seu armário, deixando cair um pequeno envelope aparentemente inofensivo, que balançava em espirais até o chão. Intrigada, ela o pegou, abrindo no mesmo instante e iniciando a leitura. À medida que ia avançando, seus olhos iam arregalando-se em supresa.

— V-você... já sabia disso, não é - ela disse , incrédula e acusadora para Amu, que ria descontroladamente.

— Já. Eu ia te avisar, mas voce não quis me contar o que aconteceu com a Rima-chan, e saiba que eu não aceito essa história de cachorros raivosos na rua! Bem, divirta-se, Nadeshiko-chan! - Amu saiu, na sua pose 'Cool and Spicy', carregando a pasta nas costas.

— Ei, o que aconteceu, Nadeshiko - Rima apareceu correndo, com três caixas de suco nas mãos - porque a Amu foi embora?

— Eu não sei, vai ver ela foi se agarrar em algum canto com aquele cara esquisito do café! - Nadeshiko sibilou entredentes, irritada.

— Ei, o que é isso? - Rima apontou para o pequeno papel branco que se destacava perto dos armários.

— Não, Rima... - Nadeshiko tentou impedi-la, sem sucesso.

—Isso... i-isso é...

Nadeshiko suspirou, sentindo sua paciência e compreensão vazando aos poucos pelos poros.

— É uma carta de Amor, Nadeshiko! Alguém se declarou para você!