Her Last Song

Capítulo 23


Acordei um tanto zonza pelas luzes brancas e fortes nos meus olhos.Olhei para o lado e vi uma mulher ajeitando as cortinas da janela próxima a mim.Foi quando percebi que estava em um hospital.Eu tentei chamá-la,mas a máscara de oxigênio em meu rosto não deixou.Ela saiu do quarto lentamente e fechou a porta com cuidado,sem reparar que eu havia acordado.Olhei ao redor do quarto e vi um homem deitado completamente torto em um pequeno sofá branco a poucos metros da minha cama.Apertei um poucos os olhos pra tentar reconhecer quem era: Mikey.

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O chamei algumas vezes,baixo e ele não me ouviu.Olhei pra minha mão e vi a aliança de Gerard nela,resolvi bater no ferro da cama,pra chamar a atenção de Mikey e segundos depois,ele acordou,assustado.

-Emy!? –ele disse,ainda sonolento.

-Hm...-tentei responder.

-Garota,você está bem?O que houve com você?-ele perguntou preocupado,enquanto se aproximava de mim.

Quando ele fez aquela pergunta,imediatamente me lembrei do que aconteceu antes de eu acordar naquele hospital.

-Emy?-ele chamou.

-Porque...-tentei falar- eu estou aqui?

-Sei lá,você teve um troço!Gerard correu com você pra cá.Eu não sei de muita coisa,só que você desmaiou,ele te trouxe pra cá,porque você não estava respirando.Ele me ligou em seguida e enquanto falava com os médicos,pediu pra ficar aqui com você,quando cheguei.

Eu estava confusa.

-Eu não estava...respirando?

-Não...-ele disse,como se fosse culpa dele.

Tentei me lembrar se havia acontecido alguma coisa a mais,mas não consegui.Achei estranho...eu sequer havia me sentido mal e de repente não respirei mais?

-Eu vou chamar o Gee,ele quer muito falar com você.Está muito preocupado,coitado.-ele disse,antes de beijar minha testa.

Eu assenti e esperei por Gerard.Ele entrou afobado no quarto,minutos depois.

-Emy!-ele correu até mim,e segurou minha mão com força.Encostou a testa na minha e beijou meus lábios demoradamente.Senti ligeiramente o gosto do café em sua boca.

-Como está se sentindo?-ele perguntou,acariciando meus cabelos,jogando-os carinhosamente para trás.

-Bem...

-Consegue respirar direito,sem fazer força?

Concordei com a cabeça.

Gerard se deitou delicadamente por cima de mim e me abraçou.

-Você me assustou...-ele sussurrou no meu cabelo.

-Você me deixou muito mais assustada,quando soube daqueles comprimidos.

Ele me soltou e me olhou com tristeza.

-Eu sinto muito...e eu juro Emy...eu só usei uma vez e te prometo que não vou mais tocar naquilo.Por você,pela gente!

O olhei em seus olhos.

-É a primeira vez que não sinto confiança quando olho pra você.

Ele engoliu seco e abaixou a cabeça.Não falou mais nada.

O médico entrou no quarto logo em seguida.

-Boa noite.-ele disse ao parar aos pés da minha cama.-Como se sente,Emy?

-Estou bem,mas não estou entendendo nada.

-Imaginei que sim.Nós precisamos conversar,os seus exames já chegaram e eu tenho muitas coisas pra lhe dizer.

Olhei assustada pra Gerard.Ele se aproximou de mim novamente,e tornou a segurar minha mão.

-Emy,eu avaliei seus exames agora pouco e dei uma olhada no seu histórico...essa anemia persistente nunca te preocupou?

Olhei assustada pra ele.

-Eu tinha anemia quando era criança,não era tão freqüente quanto agora,mas eu achei que fosse normal,porque eu admito...que não me alimentava direito e estava sendo correndo com os meus compromissos.Não me cuidava direito...

Ele assentiu.

-E sempre que você deu entradas aqui,todos os médicos que te avaliaram só disseram que você tinha anemia?

-Sim...eu não cheguei a fazer exames aprofundados e só o que eu tinha que fazer era seguir uma dieta específica e descansar por algumas semanas.

Ele sacudiu a cabeça,negando.

-Eu teria uma explicação pra eles terem lhe recomendado isso,se nada constasse no seu exame de sangue antes,mas acho completamente improvável que isso não tenha acontecido.

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-Então?-Gerard perguntou.

-Nos exames anteriores há indícios de células blásticas,mas nada foi constatado clinicamente.Não acredito que ninguém tenha notado isso.

-Doutor,me diz o que está acontecendo,por favor!-eu pedi,impaciente.

-Emy,os seus exames apontam para uma proliferação excessiva de células imaturas na medula óssea.E elas infiltraram alguns dos tecidos do seu organismo.A proliferação rápida dessas células,ocuparam cada vez mais depressa a medula óssea, e impediram as suas células normais,como as suas plaquetas,de se reproduzirem normalmente.E com isso,elas foram expulsas da medula.

-O que isso quer dizer?

-Por isso,os sintomas de anemia que você apresentou.É o que chamamos de Síndrome Anêmica.Todas aquelas dores de cabeça,a perda de peso,de apetite,o cansaço,os desmaios,a perda de peso...-ele me ignorou e continuou falando.

Ele pausou um pouco e eu fechei os olhos,pra respirar fundo.

Os abri devagar,pra esperar pelo que ele iria me dizer.

-Você está com leucemia,Emy.Aguda.

Senti uma descarga fria percorrer todo o meu corpo e a minha respiração ir embora.Sentia a mesma tontura de horas atrás.Desviei meus olhos do médico e olhei para as minhas mãos,sendo uma delas,apertada com força pela mão fria de Gerard.Ele estava pálido.Estava tão em choque quanto eu.

Como nunca percebi?Por quê nunca me importei?

-Emy...-o médico me chamou,me despertando.-Nós vamos fazer mais alguns exames específicos e dar entrada no tratamento.A doença está em um estado um tanto avançado.

-Eu vou morrer?-era só o que se passava pela minha cabeça.

Pra mim,leucemia já era morte na certa.

Pude ver que ele pensou antes de me dizer.

-Não pense dessa forma.Pense somente na sua recuperação.Vamos fazer de tudo para você ficar boa logo,logo.-ele tentou sorriu simpático,pra amenizar o impacto da notícia.

Mas não funcionou.

Ele olhou para os aparelhos ligados à mim e fez algumas anotações na prancheta.Logo,pediu licença e se retirou,prometendo voltar em breve.

Eu chorei.

Era tudo o que eu podia fazer.Chorei de medo,de nervoso,de angústia....de desespero.

-Meu Deus,eu vou morrer! -falei pra mim mesma,esquecendo de Gerard ali.

-Não fale isso,Emy!Você não vai morrer!Vai ficar boa logo,vai sair dessa e em pouco tempo vai estar na escola e seguindo a sua rotina normal.E você não pode me deixar,você prometeu!Nós ainda temos que casar e ter filhos e realizar todos os milhares de planos que fizemos juntos!-Gerard disse,chorando.

Ele se ajoelhou no chão,sem soltar a minha mão.Ele estava tão fragilizado,como eu nunca tinha visto.Gerard chorava de soluçar e aquilo me partiu o coração.Não devia ter feito aquela promessa.Mas eu não tinha esperteza o suficiente pra saber que não podia mudar certas coisas...

Eu acariciei os cabelos dele enquanto ele chorava alto e despreocupado se alguém iria ou não vê-lo naquela situação.

-Me perdoa,Emy!Por tudo o que fiz que te magoou.Pelas coisas que eu deixei de fazer e pelas vezes em que te deixei sozinha.Me perdoa por ter ficado tão longe,pelas coisas erradas que disse pra você e...

-Shiiu....não fala nada.

-Eu preciso...

-Eu te perdôo de tudo,meu amor.Tudo.Mesmo que eu ache desnecessário,porque você não fez nada,além de me amar.

Ele levantou o rosto vermelho e molhado de lágrimas e encarou o meu olhar.

-Só...me ajuda a passar por isso.-eu pedi.

Ele assentiu,antes que eu terminasse de dizer.

-Nós vamos conseguir,meu amor!-ele disse com firmeza.

O que me encheu de força e esperança.

Ele tirou a máscara de oxigênio do meu rosto bem devagar e me beijou com cuidado por um longo tempo.Gerard me beijou,até eu dormir.