A Herdeira

Reviravoltas


Amanheceu um lindo dia, nublado e prestes a chover. Isso era uma beleza.

- Gabriela! Gabriela, acorde! – gritou Lucas, meu irmão mais velho e tutor.

Eu não me lembro muito bem, mas Lucas me contou que nossos pais morreram em um acidente de carro quando eu tinha cinco anos. No testamento que deixaram, meu irmão seria meu “pai” quando completasse 18 anos. Nossa diferença de idade não é tão grande já que tenho 16 e ele 21.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Estou indo. – gritei de volta.

Levantei-me preguiçosamente, saboreando cada minuto que ficava deitada e em seguida fui ao banheiro tomar banho. Já estava de férias do meu 2º grau, havia passado na média sem recuperação, graças a Deus. Ao sair do banho entrei em meu roupão e fui à cozinha, já estava morrendo de fome.

- Lucas, o que tem para comer? – perguntei entrando na cozinha.

E parei no mesmo instante. Havia um homem sentado na minha cadeira me encarando e eu estava só de roupão! Meu rosto devia estar ficando vermelho. O olhei de novo e saí correndo, bati a porta ao voltar para meu quarto. O que eu devia fazer? Tinha um homem desconhecido na minha cozinha. Será que era um ladrão? Ou, será que Lucas era gay, agora!? Pelo amor de Deus!

- Gabi? Posso entrar? – perguntou Lucas batendo na porta.

- Cla-claro. – respondi, gaguejando estupidamente.

Meu irmão entrou sem falar nada, sentou na minha cama e fitou o vazio como se coisa nenhuma estivesse acontecendo.

- Lucas!? – explodi de curiosidade.

- Parece que já conheceu o Vincent.

- Quem é ele? – perguntei mais cautelosa agora, indo me sentar na cama ao seu lado.

- Bem, eu não sei explicar. – respondeu olhando as mãos, parecendo culpado.

- Lucas, por favor, não me fale que você é gay? – perguntei, sem ao menos querer a resposta.

- É claro que não, pequena. – respondeu contendo um riso.

- Ufa! Mas quem é ele? – perguntei novamente.

- Olha pequena, isso eu não posso responder.

O olhei pasma, sem entender nada.

- Como assim “eu não posso responder”? – soltei.

- Gabi, você vai viajar nessas férias. Bom, para ser mais exato, essa tarde você vai viajar para Randifor. Não me pergunte o porquê ou aonde é. E eu não vou com você, por isso o Vincent. É ele quem vai com você.

Era um pesadelo, só podia ser. Levantei a minha mão e com toda a força dei uma tapa na minha cara. E doeu bastante, mas consegui suprimir o grito.

- Gabriela! – Espantou-se Lucas.

- Desculpe, achei que estava sonhando. – Falei em um tom irônico, porém olhando para minhas mãos com medo de chorar.

- Ei, pequena. O que houve? – perguntou erguendo meu rosto para poder me olhar nos olhos. Ele tinha olhos verdes tão amigáveis que podiam ver a verdade em qualquer um.

- Olha, eu sei que dou muito trabalho e tudo, Lucas, mas posso melhorar. Juro. – Falei, com receio de perder a única pessoa que tinha.

- Pequena, calma. Não é nada disso. – falou Lucas me aninhando em seu peito.

- Mas, se não é isso, o que é? – perguntei receosa.

- Eu não quero explicar, entenda. Quando você chegar lá vai saber.

- Isso parece à mesma coisa que me abandonar. – falei sem me importar.

Encaramos-nos por um tempo impossível de contar, até que alguém bateu na porta.

- Pode entrar. – falou Lucas, me beijando na bochecha.

Quando Vincent entrou, me toquei que ainda estava com o roupão e saí correndo para o banheiro.

Que azar, realmente sou uma tapada, esqueci de pegar a roupa!

- Lucas? – Falei e pigarreei timidamente.

- O que foi?

- Escolhe uma roupa para mim?

- Claro. Qualquer uma?

- Ta, valeu. – respondi, sem me importar com a pergunta.

-Toma. – falou Lucas. Abri a porta do banheiro e peguei a roupa.

Congelei. Era o detestável conjunto de natal do ano passado: uma saia tipo evangélica e uma blusa rosa tamanho família.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Lucas, esta não. – falei, jogando a roupa no chão.

- Ok, calma. – respondeu tentando não rir. – Toma.

Abri a porta e peguei. Um vestido rosa de renda, realmente odeio rosa, mas era melhor que nada. Vesti-me e optei por uma trança no cabelo, para que quando secasse não parecesse uma juba loura. Ao sair, não havia ninguém no quarto. Calcei minha sapatilha preta, peguei minha bolsa onde enfiei meu caderno de desenhos (que Lucas e todos achavam que era um diário) e botei meu celular e meu estojo.

Desci para a cozinha a fim de poder ficar sozinha. Todavia, isso não era possível, pois Lucas e Vincent tiveram a mesma idéia. Entrei sem me importar em ser educada, peguei um copo de água e saí para a sala de estar.

- Gabi, poderia voltar? – perguntou meu irmão. E tive que voltar. Acredite, se eu não voltasse...

- Sim? – perguntei sem humor ao entrar na cozinha (de novo).

- Venha conhecer Vincent. – pediu, me puxando para o seu lado. – Vincent, está é Gabriela. Gabi, este é Vincent.

- Oi. – falei.

- Está pronta? – perguntou, sem ao menos responder ao meu “oi”.

- É agora? Mas e minha mala? – perguntei tentando retardar a viajem.

- É agora, eu já fiz sua mala. – respondeu Lucas.

Assenti e saí da cozinha. Era a primeira vez que ficaria muito tempo longe da minha única pessoa da família.

Quando voltei, só quem estava lá era Vincent. Foi aí que notei que, provavelmente, ele teria a mesma idade que meu irmão e era bonito, forte, alto, loiro...

- Gabi! Gabi venha aqui, por favor! – gritou Lucas me tirando de meus devaneios. Quanto tempo eu tinha ficado assim?...

- Vamos, aqui no meu quarto. Vincent, se quiser, pode subir também. – acrescentou.

E lá vou eu. Realmente eu não queria que Vincent subisse, mas, às vezes, acontece tudo ao contrário.

- Lucas, está aí? – perguntei bobamente enquanto Vincent, atrás de mim, se mantinha neutro.

- Entrem, podem entrar.

Olhei para meu irmão com três enormes pacotes de presente e no chão umas cinco malas, somente uma si encontrava aberta, acho que para botar os pacotes. Voltei a olhar para Lucas que agora tinha um sorriso contagiante no rosto, olhando para mim.

- O que foi? – perguntei me olhando, para ver se tinha alguma coisa errada.

- Não há nada de errado com você, mas outro dia você era uma criança que precisava que eu desse comida na sua boquinha e agora nem disso precisa. – respondeu meio emocionado. Eu devia ter jogado pedra na cruz, era um mico atrás do outro!

- Vincent, poderia levar essas malas para o carro? Daqui a pouco Gabi também estará indo. - e foi isso que ele fez sem falar nada. Lucas me deu um dos pacotes e disse:

– Agora, abra.

Era um notebook. Algo que tinha implorado para ter.

- Obrigada. – agradeci com um sorriso, mas sem deixar de pensar quanto ele gastou por aquilo.

Lucas esperou calado enquanto eu abria os outros presentes. Um deles eram vários cadernos escritos na capa “Diário” e o outro um Mp4 com as minhas músicas favoritas gravadas nele e guardei o mesmo na minha bolsa. Quando Lucas terminou de botar o notebook e os diários na mala nem precisou falar que tinha chegado a hora, pois eu já sabia. Eu não parava de pensar que aquilo me parecia um adeus e não uma simples viagem que depois eu iria voltar. Estava tão agoniada que quando vi uma limusine na frente da minha casinha gritei inconscientemente:

- Que merda é essa!? – fiquei rubra quando percebi o que tinha dito e entrei na limusine tentando esquecer o que tinha feito.

E no fim, não consegui me despedir do meu irmão apropriadamente. Somente um “tchau” e mais nada.

No caminho até o aeroporto ninguém ousou falar uma palavra. Liguei meu Mp4 e fiquei escutando Talkde Coldplay até chegarmos ao aeroporto, onde nos dirigimos para um jatinho. Eu realmente estava curiosa para saber de onde Lucas pegou dinheiro para custear tudo isso. Acabei dormindo enquanto olhava o céu menos nublado agora.

Senti alguém me chamando, o que me obrigou a abrir os olhos. Havia dormido por quanto tempo? Ainda estava sonolenta e grogue. Na janela, por trás das nuvens pude ver uma pequena cidade e nas montanhas avistei um dos mais belos castelos, na verdade, aquele era o primeiro castelo que eu já tinha visto, assim, mais perto e ao vivo.

- É lindo. – falei sem pensar.

- É seu reino, princesa. – falou Vincent.

- O que? Meu reino? – falei confusa.

- Sim. – o loiro respondeu sem mentir.