Sozinha. Leah estava sozinha sobre o seu túmulo. A própria Morte havia a abandonado, recusando-a.

Não teve coragem de abandonar sua lápide. Conseguia ver o portão de ferro fundido do cemitério, mas não ousava ir até lá. Tinha medo do vazio, daquela inexistência consciente que experimentou quando a Morte a transformou em nada. Seria aquilo a morte? O desespero de existir e não ser existente ao mesmo tempo? Ou aquilo era apenas parte da tortura intermediária?

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O tempo passava de maneira peculiar. Algumas vezes o sol se punha e nascia várias vezes durante apenas uma hora e outras ele ficava colado no mesmo lugar por semanas. Entre o silêncio e a solidão, Leah não dormia.

Em todo o tempo que Leah ficou não-morta no cemitério, ela viu várias pessoas aparecendo, levando flores e lamentos, mas nunca para ela. Tentava falar com os visitantes. Gritava com eles, chorava e implorava por um olhar, um sorriso ou um gesto de desprezo. Só quando tentou pegar um deles pelos ombros e forçá-lo a encará-la que ela realmente entendeu por que. Embora ela sentisse o toque frio do mármore ou a brisa gelada das noites, ela não tinha um corpo. Estava ali como apenas uma presença, um fantasma.

Algumas horas ou meses depois da Morte ter desaparecido, uma figura passou pelo portão de ferro. Um jovem de calças jeans e camiseta preta, carregando alguns lírios brancos. Leah sentiu um frio no estômago, se tivesse um, quando ele atravessou o cemitério e parou em frente ao seu túmulo.

- Oi. – Ele falou, delicadamente colocando os lírios onde Leah estava sentada há pouco, com a voz falha. – Eu sei que devia ter vindo antes.

Leah ficou em silêncio, observando aquele homem. Ela o conhecia? O que ele fazia ali?

- Mas eu fiquei com tanta raiva do que você fez, Leah. – Ele continuou, passando a mão no cabelo escuro. – Eu tinha prometido a mim mesmo que não... Droga, Leah, por que você foi fazer uma merda dessas?

O homem ficou calado, com algumas poucas e grossas lágrimas escorrendo. Leah tentou encostar a mão no ombro dele, quis dar algum conforto, mas sua mão passou por ele como se fosse fumaça. Ele falou um pouco mais, os tormentos vazios e sem fim que passou desde que Leah fez o que fez, antes de ir embora em silêncio. Leah caiu no chão de joelhos depois que ele partiu, chorando lágrimas que não existiam. Ela não conseguia lembrar da única pessoa que lhe prestara luto.

O vazio do cemitério era torturante, mas o vazio de memórias conseguia ser pior.