Suicídio

Capítulo 2


Leah não esperava acordar. Não esperava nada, na verdade. Apenas queria acabar com tudo, colocar um ponto final naquela, assim chamada, vida. Mas o monitor cardíaco a tirou daquela ilusão mais rápido do que ela poderia imaginar. O pii agudo e insistente que trouxe de volta sua consciência.

- Que merda é...? – Ela tentou falar, mas a voz no saiu.

- Você é repugnante. – Uma mulher vestida de negro sentou na borda do colchão duro de Leah. – Eu já vi muitas, acredite, mas poucas me enojam tanto quanto as do seu tipo.

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Leah tentou voltar a falar, mas não teve sucesso. Sua voz a abandonara por completo.

- Não. – A mulher levantou de forma teatral e fechou as cortinas. – Eu estou cansada de pessoas como você. Vermes, pragas trapaceiras que pensam que podem saltar fora quando bem entendem. Vocês não veem a morte como ela deve ser. Uma conquista. Algo que se deve passar anos e mais anos procurando, perseguindo. Ah, não. Vocês querem pegar esse atalho, esse caminho fácil. O suicídio, minha cara pérfida, não é conquista nenhuma.

Leah viu as grossas ataduras em volta do seu pulso, levemente manchados com o sangue que deveria ter abandonado todo o seu corpo. Aquela mulher estranha continuava olhando para Leah, xingando-a de covarde. O pii do monitor continuava, a intervalos constantes, martelando na cabeça da enferma. Ela tossiu algumas vezes, antes de conseguir ter o controle da fala novamente.

- Pode parar com o showzinho e chamar a minha família? – Leah disse, afundando no travesseiro. – Ou uma enfermeira...

A mulher estremeceu de raiva quando percebeu que Leah não estava lhe dando ouvidos.

- Por que você se importa? – Ela perguntou, irada. – Você se matou.

- Sim, mas... – Leah sentiu um calafrio. – Eu não morri. Pode chamar a minha mãe, então?

A mulher e aproximou da cama de Leah com um sorriso malicioso no rosto.

- Quem disse que você não morreu?

Como um movimento súbito, a mulher tocou na testa de Leah. Partindo do ponto onde havia sido tocada, Leah sentiu-se desaparecer, como se perdesse a matéria de que era feira, como se evaporasse.

Perdida entre imagens e lembranças, Leah não era nada além de desepero. Não tinha forma, não tinha consciência, não tinha nada. Quando finalmente sentiu algo, quando sentiu que voltou a ser alguma coisa, ela tremia, deitada sobre a grama de algum campo aberto.

- Que tipo de coisa é você? – Leah perguntou, com a voz falha, para a mulher, que continuava ao seu lado.

- Eu, seu pedaço ignóbil de matéria – A mulher respondeu, entre os dentes. – Eu sou aquela que já foi vista com a foice ou com quatro mil asas. Eu sou quem todos temem e quem todos encontram. Eu sou a porra da Morte, aquela que tem que limpar toda a merda que os mortais como você fazem.