Férias Frustradas

14 - situação crítica


- Athena. – disse ele, abrindo a porta da biblioteca.

- O que você quer?

Ela levantou os olhos do livro que lia, O Símbolo Perdido, de Dan Brown.

- Afrodite, ela precisa falar com você.

Apesar de manter a pose, ela percebia que tinha alguma coisa errada. Com ele.

O que poderia ter acontecido para deixá-lo assim?

Ela deveria ter continuado com a mesma expressão, porque ele logo disse:

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- Por favor, Athena. Não torne isso mais difícil.

A que nível eu cheguei? Pedindo ‘por favor’ para a chata sabe-tudo da Athena.

Ela suspirou, fechando o livro.

Se ele tinha falado daquele jeito, é porque era alguma coisa realmente importante.

Passou por ele, não trocando um único olhar, e desceu as escadas.

Afrodite estava na tela como sempre, mas os olhos eram tristes, e a expressão, séria.

“Olá Athena”, ela disse “Vocês precisam voltar”

Athena olhou para trás, procurando Poseidon - que estava encostado na parede com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa, imerso em pensamentos – e tentando descobrir se era alguma brincadeira de muito mal gosto.

- A-ah. E isso é bom, certo?

“Pra você, sim”, Afrodite suspirou “Queria que vocês ficassem aí...”

- É por um bem maior Afrodite, quem sabe na próxima. – disse Poseidon, a voz rouca.

- O que está acontecendo? – Athena perguntou, cruzando os braços, alternando o olhar entre ele e Afrodite.

- Problemas, Athena, problemas. Ou você achou que com nós dois aqui, presos, o mundo continuaria o mesmo? Nós deveríamos estar exercendo nossas funções, mas, com os diversos altos e baixos que temos, acabamos esquecendo delas. – ele falou, e ela pôde sentir uma amargura na voz.

- Nosso universo se desequilibrou.

“Foi. É triste isso”, a deusa suspirou “Mas é a verdade”

- Então...?

- Zeus está exigindo nossa volta – disse Poseidon, aproximando-se – E ele não quer mais nós dois juntos e sozinhos por motivos óbvios.

Ela franziu o cenho, um pouco confusa.

- Ah vamos lá, Athena, você não é tão lerda assim. Ele não quer mais brigas, não quer mais que aquilo aconteça, não quer mais distração da nossa parte.

- Como ele sabe daquilo? – ela sussurrou.

- Ele é o deus dos deuses – Poseidon revirou os olhos, visivelmente achando injusto aquela denominação – Ele sabe de tudo, pelo menos, tudo que tenha a ver com essas coisas.

Ela fechou os olhos quando escutou trovões.

- Não o insulte e nem o ofenda. – ela disse, com os dentes cerrados.

- Ah claro, esqueci que você defende cegamente o papai.

Mimada.

- Você não tem o direito.

Idiota.

- Você não sabe dos meus direitos, você me deve respeito, garota.

É, mas quando aquilo aconteceu, eu não era uma garota.

- Eu não devo respeito à ninguém, apenas ao meu pai.

- Eu sou seu tio. Sou um dos Três Grandes, você é obrigada a me respeitar e a se submeter à mim. Não meta a mão no fogo Athena, sabe que vai se queimar.

- Eu sou sua sobrinha, não sua serva.

- É basicamente tudo a mesma coisa. – ele abriu aquele sorriso gélido e superior que a deixava receosa. Às vezes, ela sabia, ele parecia um psicopata.

- Você não sabe o que fala.

- ‘Senhor’ soaria melhor, na sua posição.

- E qual seria a minha posição? Eu sou tão imortal quanto você. Sou tão deusa quanto você. Então você também me deve respeito.

Era impressão dela, ou a casa estaria tremendo um pouco?

Os olhos deles estavam mesmo mais escuros e sombrios?

Com um assombro, ela percebeu, ele estava se controlando, e ia chegar uma hora que isso não seria mais possível.

“Er, acho melhor arrumarem suas coisas, certo?”, falou Afrodite, numa tentativa de parar os dois antes que fosse tarde “Hermes vai buscá-los”

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- É. Muito melhor. – murmurou Athena, ainda encarando seus olhos fixamente.

Ainda com aquela pose de que não se deixaria abalar, ela subiu as escadas novamente.

Pelo menos, iria sair daquele inferno.

Iria ter seu espaço de volta, longe, bem longe dele.

Mas, ela não entendia, por que ele estava tão... Triste?

Além de furioso e tudo o mais, ela podia perceber uma tristeza em seus olhos.

Suspirando, Athena se jogou na cama.

Ela tinha uma mínima intuição de que aquilo ainda não havia acabado.

E suas intuições costumavam estar certas.

On the first page of our story the future seemed so bright

Then this thing turned out so evil, I don’t know why I’m still surprised.

.

.

.

Poseidon foi até a sala de jantar e fuçou até encontrar diversas garrafas com álcool.

Pegou um copo de whisky e se apoiou na janela.

De longe, ele podia avistar aquela cidade movimentada que eles nem ao menos sabiam o nome ou onde ficava.

Não estava preocupado com suas malas, arrumaria todas, sim, mas com calma. Coisa que ele sabia que não conseguiria manter se ela estivesse no quarto.

Poseidon não sabia ao certo porque estava daquele jeito. Talvez fosse pela indiferença dela – sim, ele já tinha se conformado que estava incomodado e que se importava com aquilo – ou... Talvez pelo que tinha acabado de saber por Afrodite.

Ele suspirou, fechando os olhos, saboreando seus últimos momentos num lugar com paz. Porque quando ele saísse dali, paz é o que não teria por um bom tempo.

Por que isso está acontecendo? Por que justo comigo?

Ele sabia muito bem que com o tanto de poder que tinha e com a grande importância que representava para o Olimpo e o mundo, nunca estaria livre dos problemas, das confusões, mas era tão difícil de entender que ele só queria um pouco de paz? Uma só vezinha na vida?

Pelo jeito era. Muito.

Ele não sabia o que faria quando saísse dali. Estava confuso. Teria de controlar a situação, mas ‘como’ é a questão.

Se fosse em qualquer outra maldita hora, ele resolveria as coisas sozinho ou, se a situação fosse muito crítica, engoliria seu orgulho e falaria com a pessoa mais indicada praquele tipo de coisa: A própria e célebre deusa da sabedoria.

Mas, do jeito que se encontrava, desamparado, desconsolado, confuso, irritado, furioso, tudo ao mesmo tempo, não tinha a mínima ideia do que faria, realmente. Além de que estava óbvio que ele não recorreria à Athena, certo?

Mais uma vez ele suspirou, pensando na vida, e em como ele estava decididamente numa situação muito, muito crítica.