Pelo silêncio que se seguiu, Bill imaginou que ela estivesse com a mesma expressão de quando se viram pela primeira vez.

- Katherine?

- Oi? Ham... eu...

- Eu não uso o cabelo pra cima pra ir num restaurante, fica tranquila.

- Hein? Ah... Claro... claro que sim. Onde nos encontramos?

- Pensei no Scheffer. O que você acha?

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- Uma ótima ideia.

- Às sete?

- Às sete. Combinado.

- Até mais tarde, então.

- Até.

- Um beijo.

- Outro... Tchau.

Bill desligou o telefone com um sorriso de orelha a orelha. Deu uma longa espreguiçada e levantou-se.

Encontrou Tom à mesa. Fingiu ignorar a presença do irmão, mas o próprio quebrou o gelo dizendo:

- Aí, Bill, foi mal por ontem.

- Hmpf.

- É sério... foi mal. Eu tava brincando e acabou saindo o que não devia.

- Tá. – resmungou.

- Eu sei que você detesta falar nisso, mas foi sem querer, desculpa mesmo.

- Tá, Tom, que seja; caso você não perceba, está me fazendo lembrar dessa maldita história de novo.

Percebendo o fora, Tom achou melhor não falar nada.

- Tá desculpado. – disse Bill após alguns segundos. - Mas presta atenção no que tu fala, ainda mais de brincadeira.

- Vou tentar.

Bill chegou ao restaurante com dez minutos de antecedência. Às sete em ponto, a pessoa que ele esperava entrou no recinto. O maître foi ao seu encontro e acompanhou-a até a mesa onde Bill a aguardava. No ato um garçom entregou-lhes o cardápio.

- Olá – disse ele.

- Boa noite. Como vai?

- Bem. Melhor agora. E você?

- Também.

- Você tá linda.

- Obrigada. Você também.

- O que você acha de uma taça de vinho?

- Vinho? Mas você é menor de idade. Tecnicamente, você não pode beber.

- Tecnicamente. São detalhes. Mas se você estiver tão preocupada com a minha integridade e ansiando por não ser apontada como minha responsável caso haja a necessidade de eu ir parar num centro de detenção... – ele riu. – Vamos parar por aqui, isso não é assunto que se comente. Eu não sou tão chave de cadeira assim.

- Imagino.

- Bom... Eu vou pedir um ravióli. E você?

- O mesmo. Ravióli é o meu prato favorito.

- Sério? Também adoro massa.

Aquele foi o primeiro de muitos encontros que se seguiriam.

Três meses se passaram e Bill e Katherine estavam juntos. Ela já contara para Bill no que trabalhava e o que realmente aconteceu na tarde em que se conheceram.

Flashback *

- Eu trabalho emprestando dinheiro pra gente endividada. Mas isso não é por bondade. Se alguém me pede dinheiro emprestado e não paga no prazo, eu tenho o direito de sugar até as porcas dos circuitos dos eletrodomésticos dessa pessoa. Herdei esse talento do meu pai, e depois que ele morreu, parece que foi mais refinado ainda. Eu chego a não ser a mesma pessoa que tá aqui contando isso pra você quando tô dentro da minha sala.

- Então você é...

- Uma agiota. Esse não é o trabalho mais seguro do mundo, mas eu gosto de fazê-lo. Me faz muito bem, até porque eu estou continuando o trabalho do meu pai.

- O seu pai. Você fala tanto dele. Qual era o nome dele?

- Você já ouviu falar em William Bach, Bill? Pois o meu pai era o próprio.

- Já vi que isso tem alguma coisa a ver com o que aconteceu no dia em que nos conhecemos. Por que você não me conta?

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- E por que você não me conta por que nunca quer dormir comigo?

- Não muda de assunto. A gente não tá falando disso agora. Por favor.

Ela suspirou e começou a contar:

- Um cara tinha me entregado aquela pulseira que eu joguei longe como pagamento de uma dívida. Não é raro eu receber joias com esse fim. Eu geralmente vendo, mas quando alguma me interessa em particular, como era o caso daquela, eu pego pra mim. Bom, naquela hora, quando eu tava contigo na sorveteria, Gustav me mandou uma mensagem avisando que tinha um rastreador, e depois me ligou e disse que tinha cinco capangas de Hans Weinberg nos meus calcanhares. O cara que me deu a pulseira era um pobre-diabo que deve ter sido ameaçado ou recebido alguma propina de Weinberg pra aceitar participar disso. Hans Weinberg era um rival do meu pai e não ficou nada feliz quando eu peguei os negócios dele e porque eu sou melhor que ele. Tanto que armou esse esquema pra tentar me seqüestrar e me matar.

- O quê?!

- Por isso que eu precisei sair correndo pra qualquer lugar que não fosse a minha casa.

- Olha... – disse ele surpreso – que vida que você leva. Eu vou ser sincero com você, eu não gostei nada disso. É muito perigoso; quer dizer então que você acorda todos os dias e sai de casa depois do almoço pra correr risco de vida? Eu não gosto disso. Talvez seja hora de pensar em parar, não?

- Não. É claro que não. É o meu trabalho, é o que eu faço. Eu gosto de você, Bill, mas me recuso a abrir mão da minha vida de antes só por sua causa.

- Eu to falando isso pro seu bem. Porque eu me preocupo com a sua segurança!

- Você tem algum moral pra falar sobre a minha segurança? Você é dois anos mais novo que eu, nem terminou o colegial ainda! Tenha a santa paciência!

- O que não significa que eu seja um pirralho imaturo que não sabe como é o mundo através do vidro da janela! Eu não quero brigar com você.

- Tá... Me desculpe. Mas não tente querer mudar o que eu faço porque você acha errado. E eu vou continuar querendo saber por que diabos você nunca dorme comigo.