Eldunari

Promessa!


Escondida atrás de um arbusto, eu observando os soldados do império jantarem descontraídos perto de uma fogueira, - Devoravam com gosto a carne de um javali das montanhas que eles capturaram por perto dali antes do anoitecer. Atrás de mim estavam mais dezoito homens Varden e a minha frente tinham outros cinco. Na extremidade norte havia outro bando do nosso grupo, e ao leste se posicionavam mais guerreiros, todos esperando o sinal do comandante Roran. O plano era simples, cercar o comboio inimigo e aniquilar sem dar-lhes tempo para reação.

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Fomos informados para atingir o inimigo diretamente no pescoço, cortando a cabeça, caso esse fosse outro grupo dos mortos que riem. Quando perguntei a um dos homens ao meu lado o que exatamente o comandante queria dizer com isso, contaram-me sobre algumas batalhas que os Varden tiveram que enfrentar com soldados do império enfeitiçados que não sentiam dor e por isso duravam muito mais tempo em uma batalha, apenas cortando suas cabeças, eles morriam. Minha espinha dorsal arrepiou depois que ouvi isso. Homens que não sentem dor. Isso era horripilante.

Eu estava ali, disfarçada... como homem. - O sol já se escondia por trás das montanhas quando voltei de minha despedida na caverna. Em poucas horas eu tinha conseguido algumas roupas masculinas e dado umas ajeitadas aqui e acolá, voilà, o disfarce não podia ser melhor, eu era um perfeito homem. Enquanto o véu da noite cobria a todos, ninguém nem percebeu a invasora puxando seu cavalo negro e montando para acompanha-los na missão. – É claro que todos pensavam que eu era apenas mais um guerreiro ajudando na missão, ninguém poderia imaginar que quem estaria por trás daquelas vestes surradas e o rosto sujado de argila propositalmente para disfarçar a pele clara e sutil, era uma mulher frágil segundo seus conceitos machistas.

Quando me dei conta, Roran já tinha mandado o sinal de iniciar o ataque e eu estava avançando junto aos outros, de machado em riste, acompanhando o ritmo acelerado do coração de Donner em meus ouvidos, enquanto eu me colava ao seu corpo, contornando os músculos fortes do cavalo em brasa, aumentando o ritmo da corrida. Assim que ele saltou a balaustrada, me inclinei para o lado com a lâmina afiada do machado apontada para frente, mutilando quem estivesse no caminho. O tempo passou rapidamente e no decorrer da luta, houve um momento em que desci do cavalo e passei a lutar corpo a corpo. – Olhando por um ponto de vista, eu deveria não tocar nunca mais em uma arma de guerra, aquilo tudo deveria me mandar para longe dali, mas não era o que eu sentia, eu queria lutar mais do que nunca.

Talvez eu tivesse perdido a noção do bom, do correto, mas eu não me importava com isso. Apenas queria estar ali e descontar meus sentimentos. O único momento em que eu podia ser espontânea, em que eu sentia meu corpo vivo de alguma forma, em que todas as células do meu corpo vibravam e pediam por mais daquela adrenalina. Então eu continuei, apenas seguindo em frente, como se eu fosse a própria morte com sua foice, ceifando a vida daqueles homens na minha frente. Não me importava se eles estavam dominados por qualquer tipo de magia, eles sentiriam o ardor de minha lâmina cortando sua pele, afundando em sua carne e arrancando sua vida.

Em um determinado ponto da batalha, notei ao meu lado um Varden ser atingido no peito pela espada de um soldado. Eu não teria dado atenção à situação se não fosse pelo fato de ver um rapaz, de cabelos louros - devia ter uns 16 anos - correr em direção do homem ao meu lado, gritando “pai” até chegar a ele e segurá-lo nos braços enquanto o senhor caía devido ao golpe. Enquanto o garoto se curvava sobre o pai com lágrimas nos olhos, o soldado que tinha atacado o homem preparava-se para tirar a vida do filho também.

Enquanto ele levantava sua espada manchada de sangue pronto para desferir o próximo ataque, eu entrei no seu caminho entre o jovem e fui mais rápida, cravando o machado em seu ombro direito. O homem largou a espada com dor e antes que a arma caísse no chão eu a peguei no ar e finquei em seu coração dando o golpe final. Aqueles eram homens normais, sem feitiço algum os impedindo de sentir dor, mas ainda assim era melhor acabar com o problema de uma vez.

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Virei-me para o garoto debruçado sobre o corpo do pai e agachei-me ao seu lado. Muito sangue jorrava da ferida no peito do pobre homem.

– Vai ficar tudo bem com o senhor! – o garoto dizia tentando reconfortar mais a si mesmo do que ao próprio pai com isso. Abri a camisa ensanguentada do homem com o intuito de lançar uma magia para fechar o ferimento, mas suas mãos trêmulas seguraram as minhas, impedindo-me de fazer algo.

– Meu filho... – ele arfava usando suas últimas forças, levantando o braço para acariciar a face do rapaz à sua frente. - Eu sei que não permanecerei muito tempo vivo... me perdoe meu filho, por te abandonar...apenas me prometa... que você será um homem honesto e manterá seus princípios, n... não se precipite em ações impensadas e não arrisque sua vida em situações desnecessárias... por favor. Me prometa que você dará valor a vida! – então o homem sem esperar a resposta do filho, virou-se para mim, puxando meu braço com firmeza, respirando com dificuldade. – Cuide de meu filho, por favor! Eu lhe imploro, cuide do meu menino! Ele não tem a mais ninguém agora... cuide dele! – o homem soltou um gemido de dor, se esforçando para falar. – Prometa...!

Sem saber o que fazer exatamente, e vendo que ele não duraria muito mais, vi o desespero daquele homem em pedir para um completo desconhecido proteger seu filho. Ele estava confiando a vida de seu filho para mim. Eu apenas pronunciei as palavras, – Eu prometo! – então o homem soltou um último suspiro aliviado, a cabeça pendeu para o lado e a vida abandonou seu corpo.

O nascer do sol iluminava o caminho para onde seguíamos de volta para o acampamento dos Varden. Eu cavalgava um pouco mais devagar do que os outros, ficando para trás tentando encontrar um modo de confortar o garoto que tinha perdido seu pai, mas não me vinha nada que pudesse disser. Sendo assim apenas continuei acompanhando-o em silêncio ouvindo seu choro baixo que ele tentava abafar, encobrindo o rosto com o capuz de sua capa. – Assim que a luta terminou, todos acabaram o mais depressa possível as tarefas, para poderem retornar logo para o acampamento.

Durante o caminho tive tempo para colocar meus pensamentos em alguma ordem. Agora eu tinha uma nova tarefa que nem sabia como ia cumprir, prometi para aquele homem que cuidaria de seu filho, isso significava me tornar responsável pela vida dele. Como eu faria isso? De repente isso... era tão repentino... mas de qualquer forma eu prometi, então cumprirei! – pensei comigo mesma.

Tinha mais um problema que me lembrei, eu estava disfarçada de homem, então mais cedo ou mais tarde o rapaz descobriria a verdade sobre. Seria bom que eu fosse sincera com ele desde o começo... mais tarde eu falaria com ele!