Portal para a alma


Começamos a correr pela floresta. Seth e eu já transformados atrás de Jasper que indicava o caminho. Corremos por alguns quilômetros chegando a um terreno de rochas maciças e poucas árvore. Jasper acalmou o ritmo da corrida até parar sobre uma grande rocha.

-Ninguém pode nós ouvir aqui.

Apenas assenti com a cabeça.

-Do que precisa Anala? – sua voz era calma e me passava muita tranqüilidade.-

Me afastei de Seth que ainda estava em sua forma de lobo – imagino que ainda estava assim por que se esqueceu de tirar a calca ao se transformar. Como nossas mentes conseguiam se comunicar quando ele estava transformado não me incomodei – voltei a forma normal de meu corpo.

Um espasmo forte percorreu meu corpo contraindo meus músculos. Meus olhos antes de cor azul passaram a brancos perdendo o foco. Não havia como distinguir a Iris e a pupila, era como se uma nevoa nublasse minha visão abrindo caminho a minha alma.

Seth se afastou e uivou. Jasper se colocou em posição ofensiva, sua mente analisava tudo ao redor buscando por respostas ou alguma outra coisa.

Os espasmos param e meu corpo não tocava mais o chão. Eu flutuava. Virei meu corpo em direção a Seth.

-Você não devia estar aqui criança.

Quando comecei a falar senti que não era mais dona de meu corpo. Minha mente estava sendo preenchida por outras memórias, outras vidas. Minha voz havia mudado, estava serena e muitas outras ecoavam sob ela. Havia uma leveza sobrenatural em meus movimentos e muita segurança em minhas palavras.

-Você só esta aqui para que entenda, para que não se prejudique ou aja de forma imatura criança. O seu amor pode ser sua morte, a morte dela, nossa desgraca.

Seth estava confuso e mantinha distancia. Enquanto as palavras saiam de meus lábios, tentava me posicionar próximo a seu corpo e ele recuava. Seus olhos não saiam dos meus e serviam como um espelho do que ele via. Minha face estava sem vida, meus olhos brancos pareciam fundir com o tom alvo de minha pela. Meus cabelos flutuavam em torno de meu rosto. Não me sentia mais a mesma pessoa, eu agora era plural.

Voltei-me para Jasper, ainda com o corpo arqueado e pronto para o ataque, tinha os olhos nervosos analisando todas as minhas ações.

-Quem é você? – sua voz saiu roca e um tanto nervosa –

-Calina, Anala, Luna, Catrina, Sabrina, Bonnie, Indra...as vozes se repetiam em sussurros, todas ao mesmo tempo. Toda uma geração estava em minha mente, às vozes se sobrepunham em um murmúrio triste, sussurravam seus lamentos e pedidos.

-Você precisa ajudá-la. Ajude-nos Jasper. Sinta dor, sinta a nossa dor. Mostre a ela. Traga a dor a seu corpo. Mostre a ela.

Um forte espasmo jogou meu corpo ao chão, minha cabeça arqueada, os dedos de minhas mãos afundavam na terra sentindo sua forca. Levantei-me buscando os olhos de Jasper. Um grito ecoou por minha garganta.

-VEJA.

Fortes feixes de luz branca saiam de meus olhos penetrando em seus olhos cor de mel. Tudo que havia escondido em minha mente a muitos anos emergiu em sua forma mais pura. Dor, muita dor. Jasper vivenciou comigo o amor, a perda, a violação de meu corpo e de minha alma, as torturas, a submissão...tudo que passei ao lado de Icaro gritava por meu corpo de forma violenta. Era como se meu corpo enviasse choques a cada lembrança e estes choques ficavam mais intensos.

A dor era tão grande que as lagrimas que vertiam de meus olhos eram de sangue.

O grito forte de Jasper ecoou pelas paredes de rocha ao sentir tudo o que eu sentia. Seth arfava e tremia, seu corpo prostrado no chão não conseguia compreender o que acontecia com Jasper.

-Por que esta fazendo isso comigo? – as palavras saiam entrecortadas.

-Desculpe Jasper, preciso que você seja meu espelho. – minha voz agora estava normal e refletia todo o meu medo.

-Ela precisa de você, da sua forca. Ensine a ela a usar a dor. Esta ‘e nossa única chance!!! – as vozes agora eram sussurros e se multiplicavam envolvendo nossos corpos –

Um espasmo mais forte me jogou em direção a uma arvore. O choque quebrou uma de minhas costelas e gemi alto. Meu corpo explodiu em chamas e se acalmou. Meus olhos voltaram a cor normal.

Seth voltou ao normal sem se preocupar com suas roupas ou a falta delas e correu a meu encontro.

-Anala. Meu amor! Você esta bem? O que foi tudo isso?

-Desculpe. –buscava pelo ar que não preenchia meus pulmões. Os ossos quebrados ou a pressão do impacto havia pressionado meus órgãos e dificultavam a entrada do ar e minha fala.

-Seth, corra para casa e chame Carlisle. Vou imobilizar o corpo dela, acredito que uma das costelas perfurou seu pulmão.

-Não. Não Seth. Eu já estou melhor. – olhei para Jasper – Não quero que saibam disso. Não quero que me vejam assim. Minha família ‘e meu ponto fraco, o lamento e pena deles deixaram minha energia mais fraca e logo Icaro me encontrara. Eu preciso que você me ajude, me faca entender a dor, compreender o ódio que sinto deste homem para que ele não interfira nas decisões de minha mente.

Jasper suspirou profundamente. Ele parecia não entender, eu havia o ajudado a controlar seu dom e agora eu pedia o mesmo. Mas no meu caso era diferente, eu nunca senti ódio, nunca quis matar por prazer e agora eu precisava destruir tudo de bom que poderia ser usado como fraqueza por Icaro, tudo que senti de amor por ele deveria ser destruído. Minha alma não mais perdoaria a sua.

-T udo bem bruxinha. Faremos do seu jeito por agora. – Algo fez seus olhos brilharem em entendimento a meu pedido, mas não perguntaria nada aqui, não com Seth ao meu lado.

Sorri e busquei pelas mãos de Seth a envolvendo por meus lábios. Aos poucos fui sentindo meu corpo voltar ao normal e forte para fazer o caminho de volta em direção a casa.

O caminho foi lento e silencioso. Um silencio cheio de angustia. Seth havia ficado com medo de mim

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-Nala? Eu sei que você ‘e forte. – o silencio foi quebrado por sua afirmação - Faz coisas incríveis, mas ele tem algo mais forte...quais as chances? Ele pode te machucar?

-Sim Seth, ele pode me matar. Não com forca física. Ele usa minhas fraquezas. Eu o conheço muito bem e sei que não hesitaria se tivesse a chance. E eu estou fazendo tudo o que posso para que ele não tenha esta chance.

-Se você fosse mais forte, se fosse indestrutível, teria mais chances?

Jasper que se mantinha em silencio ate o momento me olhou com uma das sobrancelhas arqueadas. Ele sabia que esta era a solução mais simples e a única que me daria chances.

-Eu sou forte Seth. Sou mais forte ainda com você ao meu lado. Não vou me tornar vampira Seth e espero que esta historia termine aqui. –Esta ultima parte eu falei muito seria e olhando em seus olhos, mas no fundo sabia que esta seria a melhor saída.

O clima ficou novamente pesado e agora já estávamos próximos a casa.

-Anala, Alice esta próxima. Ela deve ter sentido minha dor e veio ao meu encontro.

-Sim, também a sinto. Estamos quase em casa, vou contar a todos que preciso deles para treinar sobre pressão ate o dia do grande encontro, mas não passara disso. nada do que ocorreu antes deve ser mencionado. voces nao poderao interferir em meu encontro...

Ambos concordaram com a cabeça, nenhuma outra palavra foi dita ate que chegássemos em casa.

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-Ah minha bruxinha, você quer pressão? Vamos La fora, vou te mostrar como ‘e um abraço de urso.

Um som forte estalou pela sala. Rose já estava a seu lado rindo do tapa que desferiu sobre sua cabeça.

-Pare de ser engraçadinho Emmett. Nala precisa de nos juntos atormentando a mente dela e não o corpo.

-Tudo bem ursinha. Não precisava bater tão forte. – seu bico e olhos pidões venceram a cara severa de Rose em segundos –

Os dias se passaram tranquilamente. Todos me ajudavam nos treinos que se resumiam a pensamentos de dor, angustia e ódio. Cada um tinha sua historia e se prendia nas partes mais dolorosas para me ajudar. As dores de Carlisle me lembrava do homem que considerei um pai, um avo. Icaro havia matado o próprio pai por ciúmes. Carlisle fugiu da ira de um caçador, seu pai o teria matado sem pensar duas vezes se visse no que ele se transformou.

As lembrancas de Rose me mostraram seu lado vingativo, frio e muito racional. a forma como lidou com o odio foi infantil em alguns momentos, mas de forma geral aquela era a linha que eu teria que seguir para atingir meus objetivos. Jasper entendeu o que eu queria e sempre que eu estava com Rose ele me enviava as lembrancas de dor que tinha visto em mim. Aquilo acabava comigo por horas e aos poucos fui aprendendo a usar minhas fraquezas com forcas.

Nessie e Jacob não participavam destas reuniões para preservar a tranqüilidade do bebe. Agora faltavam apenas sete dias para seu nascimento. O lobinho ainda não tinha nome e nossas noites se resumiam a reuniões familiares e discussões sobre os nomes mais bizarros que já ouvi.

Amanha iria visitar Billy, estava longe dele há alguns dias e queria muito vê-lo. Um pequeno amigo meu também reivindicou minha presença na tribo. Samy estava com saudades e eu não resistia a sua voz que implorava por mim para brincar.

Sempre ouvi dizer que amor e odio eram iguais, um gerava o outro. Grande mentira esta, o amor que sentia por Icaro e seu pai nao se tranformou em odio, se transformou em forca em nome do amor que tinha por minha familia.

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