Innocent Lie
00-A: Cinzas de Sonhos (I)
PROPAGANDA:
Ultimamente andei lendo poucas, porém boas histórias; e eu prometi a mim mesma, depois de tanto tempo, que faria sim propaganda dessas obras ótimas, mesmo porque espalhar coisas bem feitas é o dever de todo o escritor e leitor que se preste (ou deveria ser). Pois bem, cumprindo essa promessa, vamos aos fatos.
~ “Meet me on the Equinox”, por Tay_DS & Kyra_Spring (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/117169/Meet_Me_On_The_Equinox). Porque poucas fics conseguiram deixar-me tão concentrada em frente a um computador, me perguntando o que estava acontecendo e, mais importante, por que eu não conseguia parar absolutamente de ler.
~ “Einsamkeit”, por Srta_Syn_FF7 (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/106059/Einsamkeit). Hetalia e GermanyxItaly, por si só, já são pérolas; quando combinados em uma história absurdamente bem feita, é como ter o sétimo céu bem ao alcance dos olhos.
~ “Frostnätter”, por Srta_Syn_FF7 & Temari_Sabaku (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/120475/Frostnatter). Quando me pergunto se algum dia superarei meu vício por SwedenxFinland e me aparecem obras como essa, eu tenho a certeza que não, jamais vou conseguir. E isso me deixa feliz...
~ “No Espelho”, por Yumesangai (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/107134/No_Espelho). A continuação de “Do Outro Lado do Espelho” promete ser tão primorosa quanto sua predecessora. É quase mágico ver como a felicidade de Xion torna-se a nossa própria...
~ “Fly”, por Tay_DS (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/77639/Fly). Papavras me faltam para descrever a mistura perfeita de Soriku e drama que é esta história. Só posso dizer que é um efeito universal: Fly rouba sim nossas palavras, nossa respiração e nosso coração.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Para minha dear, que sempre me inspira.
E para Drih, a quem eu ainda devo um presente digno.
Feliz aniversário atrasadíssimo, querida. (L)
INNOCENT LIE
Petit Ange
“And what I dreamed in my last dream was a monochrome vision without end.”
~ Corruption Garden (Luka Megurine).
00-A: Cinzas de Sonhos (I).
“Eu não ligo. Você continua sendo meu irmão.”
A residência já era naturalmente silenciosa, verdade seja dita. Mas tudo era muito pior – um milhão de vezes mais silencioso e frio – quando o irmão estava em casa.
A questão é: ele sempre estava em casa. Mas, ao mesmo tempo, nunca “estava”. O garoto não sabia explicar com clareza o que era a sensação – infelizmente, seu vocabulário não era extenso e cheio de atalhos como o do gêmeo –, mas ela existia e persistia por todas as horas de um dia: era a sensação de que vivia sozinho.
Não era assim no começo, porém.
O calendário não mostrava aquela divisão de mundos – o antes “daquilo” e o depois “daquilo” –, e talvez, sinceramente, nem o próprio garoto lembrava-se muito de quando tudo se oficializou de fato, mas a verdade é que nem tudo era silêncio e mágoa no começo. Houve uma época em que eles, de fato, foram irmãos de verdade, no mais puro sentido da palavra.
O que Ventus tinha no mesmo quarto (não. Ele agora dormia em outro quarto, longe daquele) agora não era o gêmeo; era só uma casca de ser humano. Não havia melhor palavra para definir.
- Roxy?
O gêmeo mais novo não gostava muito daquele apelido. Achava-o “idiota”; mas ele reclamava do próprio nome, de qualquer forma, o loiro se lembrou com um sorrisinho (“por que, de todos os nomes possíveis, Roxas? Onde nossa mãe estava com a cabeça na hora?”).
- O que?
Havia, em média, duas coisas que Roxas fazia agora, e era aquilo que resumia o que restava de sua vida: uma espera.
Ele lia. Sentava-se em sua cama – os lençóis eram azul-escuros com desenhos pretos. Ele gostava do preto como formigas gostam de açúcar –, colocava fones de ouvido (não sabia o que Roxas escutava agora. Antigamente, sabia dos gostos musicais dele – na verdade, antigamente Ventus “o conhecia”. Hoje, não mais) e lia por várias horas, sem parar. Ventus se perguntava como não se cansava; e então, com uma pontada de culpa, se lembrava que não havia mais o que fazer se não ler e esperar. Como se faz quando sentamos no escritório de um dentista e pegamos uma revista para folhear. Era triste.
- Você não vai dormir? – perguntou.
O loiro meneou a cabeça. – Não agora, obrigado.
Ventus chegou a abrir a boca para dizer “mas nós temos aula amanhã”. Calou-se, com a graça dos céus, antes que pudesse cometer aquele erro colossal.
Roxas sorriu.
- Estou em quarentena, Ven – mesmo assim, ele soube o que o irmão ia dizer. Ventus não conhecia mais Roxas; mas Roxas ainda conhecia Ventus. – Você sabe que não posso mais ir para a escola.
- Se fosse assim, então você também não poderia estar falando comigo.
- Ven, foi você quem entrou aqui – sorriu.
O gêmeo mais velho engoliu em seco – droga, era verdade.
- Mesmo assim...
- “Mesmo assim” o quê? Papai tirou-o daqui logo no início, lembra?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!- E eu nunca disse que gostei daquilo – resmungou, num tom baixo.
- Eu sei, Ven. Mas você não deveria mais vir aqui – ele avisou. – É perigoso. Não sabemos se eu posso...
- Roxy – o gêmeo interrompeu-o.
“Roxy, é verdade que, quando o papai está em casa, você come em pratos separados dos nossos, você toma banho em um banheiro separado, você até mesmo assiste TV em um outro lugar. É verdade que você até mesmo tranca-se em seu quarto como um rato em uma gaiola porque assim não vai precisar agüentar isso e nem o olhar dele. Eu sei disso, Roxy. Mas, para mim, você continua sendo o Roxy, o meu irmão que dormia no mesmo quarto que eu até os 14 anos e nunca reclamou disso e que sempre me deixava vencer nos jogos de propósito, mesmo que não alardeasse isso.”
Ventus não conseguiu dizer isso.
Ele nunca conseguia.
A garganta apertava-se involuntariamente, negando-se a descarregar aquele tipo de verdade. A mente oscilava entre uma angústia de morte e a dor da vida.
Tudo o que podia fazer era encarar seu irmão – os olhos azuis de ambos encontravam-se, numa profusão silenciosa e insossa – e Ventus rezava. Rezava, talvez, da forma mais sincera que alguém podia rezar ou desejar, para que Roxas entendesse. Para que, de alguma forma, pudesse “ler”.
- O que foi?
Mas era inútil. Roxy não conseguia mais “ler”.
- Eu não ligo. Você continua sendo meu irmão.
- Não devia agir como se tudo estivesse na mais santa paz. Você sabe que não é mais assim, Ven.
O loiro suspirou.
- ...Diz o garoto em quarentena que vai sair de casa agora.
Roxas sorriu, e deu o último nó em seu tênis.
De fato, ao invés de estar de pijama – como Ventus –, o gêmeo caçula por oito minutos estava vestido daquela forma casual e angustiante de sempre. Ultimamente, ele andava abusando do preto em todos os detalhes.
- Vai contar para o papai? – continuou sorrindo. Levantou-se da cama onde estava sentado até então.
- Sabe que não vou – Ventus resmungou, fingindo um tom ofendido.
“E mesmo que eu contasse que você saiu de casa, Roxy, você sabe que ele não poderia fazer muita coisa a respeito. Ele está na Europa agora.”
Nunca fora de engolir palavras, mas ultimamente – da mesma forma que tudo mudou de repente por ali –, Ven andava engolindo muitas frases que queria dizer e nunca o fazia. E a cada palavra não dita, aquele peso inexplicavelmente ácido e escaldante como areia de um deserto crescia.
E crescia rápido.
- Só queria saber onde você vai... – completou.
Roxas deu de ombros:
- Axel.
O nome já era a explicação, de fato.
Já fazia algum tempo que Roxas respondia usando esse nome. Ventus não fazia idéia de quem era “Axel”, quantos anos ou o que fazia. Nem se essa pessoa sabia do “problema” de seu irmão (achava que sim, porém). E claro que isso o preocupava até demais! Mas quando tentou falar a respeito nas primeiras vezes – ao menos perguntar quem era o tal “Axel” –, o que recebeu foi um silêncio evasivo e secreto.
Aquele era um assunto de Roxas e somente Roxas. Era isso que significava; ao menos, esse silêncio foi a única coisa que sobrou da transição entre um loiro e o “outro”, o que convivia com ele agora.
A única coisa que agora restava era uma pergunta que era, ao mesmo tempo, inútil e irritante aos ouvidos de Ven:
- Você volta hoje?
Roxas sempre sorria ante a pergunta.
Era um sorriso estranho, o daquele Roxas que Ventus não conhecia mais: era carinhoso e tolerante como o sorriso do antigo irmão, mas... Havia também uma pontinha de um ódio velado, palpável e passivo. Um ódio que Ven não compreendia.
- Acho que não.
A resposta sempre fazia o gêmeo mais velho estremecer misteriosamente.
(“Vou ficar sozinho nessa casa imensa de novo?”)
- Ah... – e engoliu em seco.
Arriscou uma olhada hesitante para a janela, sem saber bem o que dizer, e observou uma noite fechada cujo vento gelado soprava como um aviso de morte.
- Leve um guarda-chuva. Vai chover de novo.
- Claro, “mamãe” – o caçula sorriu.
Ven, porém, não o fez. – Cuide-se, Roxy. Por favor.
- Vou fazer isso – assentiu. – Até mais, Ven.
E saiu tão rapidamente quanto inexplicavelmente.
Ventus sentou-se na cama do gêmeo, desnorteado. Desde “aquele” dia, sempre sentia-se incrivelmente cansado depois de conversar com Roxas.
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