Era tudo inversamente proporcional: quanto menos dias faltavam para o baile, mais animadas as meninas ficavam. Todos os dias era o mesmo assunto entre elas. Eu fingia estar animada também; não queria acabar com a alegria delas.

Na verdade, eu conseguia suportar isso só pelo fato de saber que, ao voltar para casa, escreveria músicas. Com William. E isso era cada vez mais estranho.

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As tardes nunca eram monótonas: criamos, descartamos, conversamos, rimos, brigamos. Tudo isso, não necessariamente nessa ordem.

Muitas letras foram escritas, umas usadas, outras não. Porém, William ainda não tinha o que a gravadora queria.

-O que será que falta? Já falamos sobre férias, escola e amigos. Temos açúcar, tempero e tudo o que há de bom!- mordia a caneta enquanto se balançava desesperado. - Falta o elemento ‘X’?-perguntou mais para si mesmo.

- Hey, não estamos fazendo as meninas super poderosas e sim uma música!- falei e ele me olhou sério. – Desculpe. É só ter calma, nós vamos conseguir resolver essa equação. - senti-me estranha ao pronunciar ‘Nós’ referindo-se a ele e eu como uma entidade só. Nunca pensei que faria isso.

-Sua nerd.

Ignorei o comentário e coloquei os pés no sofá, deitando-me.

-Que você está fazendo?

-Pensando. - dei de ombros.

-Ah é, tinha me esquecido de que você só raciocina deitada.

-Vai se ferrar!

-Sorry.- riu.

Mal havia me deitado, quando, automaticamente, dei um pulo.

-Girl, você me assusta.

-Já sei o que falta!

-O quê?

-Amor platônico?

-Tá perguntando ou afirmando?

-Tanto faz, tive apenas um insight.

-Hmm, pode ser isso mesmo! O que seria a adolescência sem decepções amorosas, não é?

-Sei lá!- respondi indiferente.

-Como assim? Você nunca gostou de ninguém?

-Não, eu tinha mais o que fazer. - olhei minhas unhas despreocupadamente.

-Não é assim que funciona. - rebateu.

-Bom, eu tinha as amigas, a escola e a banda; não tinha tempo para me preocupar com isso e, para falar a verdade, nunca me importei.

-Nunca, nunca? Nem um garoto? Nenhunzinho? Você é lésbica?- falou alto.

-NÃO! Para com isso, pelo amor de Deus!

-E o Gabe?

-Ele é meu ídolo, não quer dizer que seja meu amor platônico. - resmunguei.

-Hmmm.- eu odiava quando ele fazia milhões de perguntas para no final dizer apenas um “Hmm” desinteressado. Como me irritava!

-E então, gostou do tema?

-Aham, é bom!- calou-se por um tempo. - Engraçado como estava o tempo todo na minha frente e eu não me toquei!

-Como?

-Nada, só pensando alto. - recolheu os papéis espalhados pela mesinha de centro; letras que havíamos escrito a tarde inteira.

-Ok.-disse desconfiada, no entanto, dei de ombros.- Vamos terminar logo? Falta pouco...

-Daqui para frente é comigo. Não preciso mais de ajuda. Er, talvez você deva fazer seu dever de casa. Deve ter acumulado um monte, não é?

-Não, está em dia...

-Hmm, que... eficiente.- parecia desconcertado com alguma coisa. E desde quando ele se importava com meu dever de casa?

Saiu da sala, me deixando sozinha e sem entender nada.