No Quarto 30

Capítulo Único


A sineta da porta tocou acordando o balconista. Emergiu no recinto, um jovem de aspecto cansado. Com uma roupa qualquer, o cabelo desgrenhado e apenas uma sacola na mão, ele se dirigiu ao senhor atrás do balcão pedindo-lhe um quarto vago, ao que este respondeu que todos estavam livres.

O garoto esboçou um sorriso de satisfação e rapidamente pediu o 30, entregando ao balconista a diária do hotel abandonado, enquanto recebia as chaves. Ele subiu em disparada para seu quarto.

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Já dentro do cômodo, abriu a sacola e retirou dela algus papeis e uma caneta. Olhou bem ao redor, observando o papel de parede desbotado, a madeira gasta em alguns pontos, o teto com marcas de goteira e o sangue seco em partes do chão que um dia fora branco. Apertou a caneta na mão e voltou-se para a folha branca e começou a manchá-la com a tinta de sua carta suicida.

Nessa carta, relatou suas 29 frustradas tentativas de suicídio, muitas delas interrompidas por um amigo ou parente dando um sermão de como a vida vale a pena, todavía ele tinha certeza de que somente na 30ª conseguiria. Afinal, 30 era o seu número da "sorte", nasceu em 30/03 (n/a: pra quem não entendeu, 03 é 30 ao contrário, como se a barrinha fosse um espelho!), quando seus pais tinham trinta, a idade em que se apaixonou e a atual, etc. E nessa tarde nebulosa de 30 de junho (n/a: junho= 03+03), não foi diferente.

Ele terminou a carta suicida em meia hora, não havia muito a contar, exceto que estava nesta situação por causa de uma garota por quem se apaixonara na faculdade - que o expulsou no trigésimo primeiro dia - e descobriu que nunca teria a chance de fazê-la feliz.

Às três e meia, com tudo pronto, adaga brilhando pela lâmpada e as costas na janela - se a faca não adiantasse, a queda resolveria tudo -, a porta se abriu num estrondo e uma mulher de aproximadamente 25 anos adentrou o recinto. Seu rosto preocupado, seus cabelos bagunçados e seus olhos pretos como carvão foram as únicas coisas que o fizeram hesitar.

Ela, cautelosamente, foi ao seu encontro e abraçou-o, fazendo-o soltar a adaga, beijou-lhe as maçãs do rosto, até então pálidas, e perguntou o que estava fazendo, ao que instantaneamente ele entregou a carta.

Leu atentamente e em silêncio. Ao levantar os olhos do papel quando terminou, ele pôde ver uma lágrima em seu rosto no único segundo que levou para ela beijar-lhe.

O beijo foi seguido pelas desculpas chorosas dela e pelas juras de amor de ambos regadas por lágrimas. E assim permaneceram por uma hora, até os dois estarem prontos para o árduo mundo real.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.