- Silêncio na corte, por favor! - gritava o merítissimo juiz enquanto batia o malhete.

Todos estavam em euforia, gritavam e xingavam. Apenas um homem, um homem somente se mantinha em silêncio. Um silêncio mortal e corrosivo, até mesmo pra quem o olhava de fora.

- Ele é um alienígena. IMPOSTOR!

- Maldita farsa, herói vigarista!

- Já disse pra ficarem em silêncio! - repetiu o juiz retornando a bater novamente o malhete.

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Todos iam se recompondo aos poucos, se sentando em suas cadeiras. E assim, o Juiz ia tomando aos poucos a palavra.

- Temos aqui um homem que deseja que sua identidade verdadeira não seja divulgada, por isso o chamaremos apenas de como ele é popularmente conhecido: Wonderman.

Um som de repulsa das testemunha soou em uníssono, como uma onda fria e gélida jorrando sobre o homem que estava de pé, com uma máscara preta que cobria somente os olhos, roupa de neoprene preta e branca, luvas pretas e botas de couro também pretas, uma capa suntuoso com um enorme "WM" emoldurava o modelito por completo.

- Você foi culpado por explodir um prédio, ajudar inconscientemente uma seita de criminoso e destruir um museu público, correto?

Ele suspira, os olhos petrificados por baixo da máscara negra, assentindo devagar com a cabeça, parecendo carregar o peso de um mundo inteiro nas costas. Ou talvez o peso de uma cidade inteira.

- Está correto, senhor meritíssimo - ele concorda, abrindo a boca pela primeira vez, exibindo uma voz grave, dolorida, mas que ainda assim lembrava com exatidão um locutor de telenovelas da época.

- Sendo assim, o réu assume e admite o que fez, sem ser necessário um conssentimento e acordo entre a corte, por isso, declaro a sessão encerrada e o senhor Wonderman culpado.

Ele bate definitivamente o malhete na mesa. Mas era como se batesse no coração indestrutível daquele homem, que apenas com um malhete de madeira maciça, fosse capaz de fazê-lo em pedaços.

Um som de alívio soa entre os murmúrios logo atrás do homem.

- Sua pena será se manter o mais longe possível dessa cidade, no mínimo mil e trezentos quilômetros de distância, ou do contrário terei que prendê-lo na penitenciária especial. E acredite! Seus poderes não serão páreos naquele lugar - o juiz agora se referia somente à ele, totalmente alheio aos outros participantes da sessão.

- Eu entendo, senhor meritíssimo - ele murmura, assentindo com a cabeça, observando lentamente enquanto dois homens enormes do tamanho de armários o seguravam nos braços, meio hesitantes, cientes de que o poder de Wonderman era capaz de jogá-los longe, mesmo por suas forças e tamanhos incríveis. Mas ele simplesmente se deixa levar, sem reagir.

Enquanto as testemunhas da corte se dispersavam, comemorando cinicamente a vitória sobre o herói fracassado, um telespectador assistia com exímia atenção, Wonderman sendo levado embora da cidade, um telespectador que ora se sentia vingado e ora se sentia despedaçado por ver aquele que um dia foi seu herói tão mergulhado em fracasso e inglória. Mas ele sorria, aquele pequeno menino que recentemente virara um orfão de mãe, e agora de pai. Agora sorria.