Além do Destino

Ele é um Riddle.


- Vejo que não ganhei somente um filho, no dia de hoje. – disse Tom Sr., guiando Hermione num ritmo calmo. – Ganhei também uma filha, e fico feliz por isso.

- Por eu estar com seu filho? – arriscou a menina.

- Parece que você não compartilha o ódio pelo qual meu filho me observa agora.

Do outro lado do salão, Cecília observava Tom Sr. dançando com a jovem, enquanto afagava a mão da senhora a seu lado.

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Mary Riddle estava estática. A única coisa que ousava fazer era respirar.

- Minha Nossa Senhora... – sussurrava constantemente. – Não me sinto bem, a qualquer minuto, acho que...eu vou...desfalecer. – disse, olhando para Cecília. – Chame Thomas, chame-o!

Cecília olhou significante para Maggie, que tirou Mary do meio da multidão e levou-a para uma sala mais tranquila, sentando-a em um confortável sofá de couro negro. A mais jovem cruzou o salão até o círculo de pessoas, chegando ao seu destino.

- Thomas, por favor, Mary não se sente bem. – disse, quando o velho a olhou.

- Me esperem aqui, vou ver o que ela tem...deve ser a surpresa que a deixou tão sem palavras! – empolgou-se, porém Cecília somente revirou os olhos.

Por um momento, deixou-se observar o garoto a sua frente. Era jovem, porém aparentava ter seus 20 e poucos anos, em vez de 17. Simplesmente idêntico ao seu Tom Riddle, que o chamava assim internamente, num momento anterior à impostora mãe do rapaz. Tão parecido, tão altivo, frio e cortante. Sentiu seus dedos suarem suavemente, então se virou e saiu para o salão.

Tom Jr. continuava a conversar com quem o rodeava, assuntos impertinentes que julgou interessante. Alguns falavam de política, outros de dinheiro; e sabia bem como entretê-los.

Não soube dizer nada apenas quando entraram no mérito de seu passado, sua mãe e sua infância.

- Está feliz? – perguntou Hermione ao futuro sogro.

- Não sei, na realidade não entendo o que estou sentindo. – disse simplesmente.

- Tom esperou muito por este momento, senhor Riddle. – disse ela, tentando animá-lo de alguma forma. O homem parecia ter perdido toda a vivacidade nos olhos.

- Não minta, minha jovem, sei bem o que ele está sentindo. – replicou.

- Sabe?

- Ele deve me odiar, é claro. Eu abandonei a mãe dele e é por minha causa que ela está morta. Não o culpo por sentir-se assim, pois eu também me sentiria.

Hermione lembrou-se da conversa que teve com Tom tempos antes, a qual ele pediu para que ela pensasse como seu pai.

- O maior medo dele é sua rejeição. Estranho o seu medo ser o mesmo.

Tom Sr. parou a dança e a olhou profundamente.

- É demasiada jovem para se casar.

- Tom também é.

- O primeiro pedido de casamento que fiz, tinha 17 anos, também. – disse, olhando para o filho que ria alegremente...falso.

- Como sabe a idade exata do Tom? – perguntou. – Acho que em nenhum momento lhe disse.

- Lembro-me como se ontem mesmo chegasse aqui nesta casa, depois de não reconhecer nada que tinha vivido durante dois anos. – Ela tinha dito que estava grávida, mas não acreditei.

- Achava que ela era uma aberração, não é? Somente porque era desprovida de beleza? – a menina estava tentada a entender o ponto de vista do outro.

- Se beleza fosse o problema, não teria que me preocupar. Ela era capaz de fazer coisas, coisas que nós, criaturas normais, somos incapazes.

- E se eu e seu filho formos capazes de realizar as mesmas coisas? – falou um pouco mais agressiva.

- Não, vocês não seriam capazes. – disse por fim, vendo Cecília se aproximar.

- Seu pai pediu para chamar-lhe, querido. – disse ela, acariciando levemente o ombro de Tom. – Ah, Srta., fico feliz que esteja se divertindo. – falou falsamente.

- Obrigada. – respondeu Hermione, saindo da visão dos dois e indo até seu noivo.

Cecília guiou Tom onde Mary estava, juntamente com Thomas e Maggie. Estava completamente desfocada.

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- Eu tenho um neto... – começou, acusando o filho com o olhar. – E você, sua criatura horrenda, nunca me disse!- gritou,

Tom estremeceu.

- Ele não sabia, meu amor. – interveio Thomas, vendo a esposa exaltar-se. – Eu mesmo não sabia, se não fosse a Srta. Granger me avisar.

- Quem é a Srta. Granger? – perguntou Cecília.

- Aquela mocinha que eu estava dançando. – disse Tom, cabisbaixo. – Ela é futura esposa dele.

A boca de Cecília formou um “O” perfeito.

- Mãe... – disse Tom. – Por Deus, diga alguma coisa.

Mary olhou pacificamente para ele, enquanto Thomas segurava-lhe a mão.

- Eu não sei o que dizer, olhe para ele! – ela disse, olhando por cima do ombro de Cecília, vendo o menino conversar abertamente com os convidados, juntamente de Hermione. – Ele é...perfeito. É lindo, e... é tão parecido com você! – completou.

Isto era completamente inesperado. Thomas beijou o rosto da esposa alegremente, levantando-a e levando-a até o neto. Maggie acompanhou sua senhora, sem antes olhar para Cecília como se pedisse desculpas.

É claro que Cecília estava odiando a aceitação da família Riddle para com o novo membro. Ele seria bem capaz de estragar todos os seus planos.

- Espero que esteja bem. – disse para Tom, pegando de leve a sua mão. – Mas mais uma vez a sombra daquela fedelha se coloca entre você e eu.

- Cecília... – começou o outro. – Eu nunca acreditei que realmente fosse verdade...um filho! – disse, descrente. – Eu tenho um filho!

- Sim, um que eu jamais terei. – acusou-o, saindo de perto dele. – Você, mesmo que não queira ou não perceba, continua me traindo, continua me magoando.

Vendo a moça se afastar, Tom surrou a mesa e caiu sentado, sem ações e sem palavras. A noite seria longa, constatou, mas não poderia negar que se sentia extremamente atraído pela ideia de possuir um filho, apesar de também amedronta-lo.

- Tom, - disse Thomas, afastando-o dos outros e guiando-o até uma senhora de vestido vermelho. – esta é sua avó, Mary.

Tom Jr. sorriu levemente, ao ver os olhos de Mary lacrimejar.

Esta, com certeza, foi uma das cenas mais impressionantes que ele poderia guardar na memória. A senhora não pediu permissão nem disse uma palavra, somente o abraçou carinhosamente e beijou-lhe o rosto, erguendo-se. Ele, assim como o filho, era bem mais alto que ela.

Hermione não conteve a emoção e deixou uma lágrima quente e solitária escorrer pelo seu rosto. Sentiu uma leve chacoalhada de Thomas.

Mary demorou a soltar o neto, e este demorou a compreender o que se passava; não tinha o que dizer, mas a avó também não queria ouvir. Tinha os olhos azuis esverdeados fixos nos azuis acinzentados do outro.

- Mary, querida. – disse Thomas, abraçando os ombros da esposa.

- Tom Riddle II. – sussurrou para o jovem. – Eu jamais imaginei que viveria para ver você, meu querido.

Os olhos de Tom vacilaram. Hermione podia jurar que ele deixaria uma de suas lágrimas presas ser liberta.

- Eu...nunca pensei que tinha uma avó. – disse calmamente, vendo Mary sorrir.

Tom Riddle Sr. levantou-se. Era hora de arcar com seus feitos.

- Seja muitíssimo bem-vindo entre nós, meu neto. – disse ela, pegando uma das mãos do rapaz e estendendo a outra para Hermione. – Para mim, e para todos aqui presentes – disse em alto e bom tom. – vocês são parte da família.

Uma salva de palmas ecoou por todo o salão da mansão Riddle.

* * *

Hermione sentou-se confortavelmente em uma das poltronas enquanto conversava com sua futura sogra. Em apenas horas, Mary Riddle mostrou-se altiva, mas cheia de bondade. Contou-lhe sobre o jardim e toda sua tradição, mostrou-lhe alguns retratos e perguntou sobre a escola e a família da menina. Esta conseguiu esquivar-se da verdade, misturando fatos reais com outros falsos.

- E sobre o pedido de casamente de meu neto? – ela sorriu, vendo a aliança. – Quando lhe pediu?

- Antes de partirmos, para ser exata. Estávamos na escola.

- Entendo. Creio que ele teve de mentir para ficarem juntos no hotel. – Hermione corou.

- Sim, acho que sim. – ela sorriu envergonhada para a senhora a sua frente.

- Isso não será mais problema, vocês ficarão aqui de qualquer forma, é uma ordem! – disse, balançando o corpo.

Hermione sorriu sinceramente.

- Não creio que seja uma boa ideia. – disse. – Tom tem muito carinho agora pela senhora e seu esposo, mas creio que seu filho, o pai dele, não tenha ficado muito feliz com a novidade.

- Não julgue Tom, querida. Ele está surpreso, talvez até afoito, devemos dar um tempo para colocar os pensamentos em ordem. Vi vocês dois dançando. Conversou algo com ele? – perguntou Mary, aceitando uma pequena taça de vinho.

- Pouco, mas falamos sobre isso. Ele ficou surpreso com a ação do filho ter me pedido em casamento... eu não entendi.

- Foi por causa da idade. – Mary explicou. – Meu filho pediu Cecília, aquela adorável moça que já conheceste, em casamento na mesma idade que meu neto lhe pediu. Foi meses antes de completar 18 anos e ser praticamente raptado por Mérope Gaunt. Cecília ficou desolada, pobrezinha, e até hoje lembra meu filho do ocorrido.

- A senhora a conhecia...a mãe de Tom Jr.?

- A família era desprezível, mas a pobrezinha nunca abria a boca. Moram longe daqui, e depois de voltar, Tom nunca mais teve problemas com eles.

- Ainda tem algum Gaunt aqui em Little Hangleton? – perguntou Hermione, corroendo-se de curiosidade e uma estranha sensação de perigo.

- Tem um, o irmão de Merope, tio de Tom. – falou a senhora, com destreza. – Depois do pai, é o mais irredutível ser que habita a face da Terra. Deve estar velho e desenfreado.

- E o avô de Tom...Marvolo? – questionou novamente. – É um dos nomes que Mérope colocou no filho. – explicou, quando Mary a olhou exasperada.

- Marvolo morreu na cadeia, segundo alguns policiais muito gentis que defendem nossa segurança. – bebericou o vinho. – Ele era totalmente agressivo, vivia ameaçando nossa família. Vejo que, pela graça do bom Senhor, meu neto não tem nada daquela família horrenda. – adicionou.

Hermione não conseguiu deixar de pensar em toda a magia que circundava Tom, herdada pela família de Mérope. Todos eles, sem exceção, eram descendentes do grande Salazar Sonserina e, assim, possuíam um grau mágico em questão.

- Acha que faria mal se contasse a Tom sobre o tio? – perguntou Hermione.

- Não, é a família dele também, de qualquer forma. Mas tome cuidado, - alertou-a. – com a face que tem, lembrando tanto do meu rapaz, seria quase previsível a raiva do outro. Ele acusava meu filho de ter corrompido a graça da família dele quando, na verdade, a irmã tinha praticamente enterrado a nossa. – ela parou. – Agora só posso rezar pela pobrezinha, que morreu para colocar meu neto no mundo.

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Hermione olhou nos olhos de Mary, pois os dela estavam desfocados pensando na morte dolorosa de Mérope Riddle.

- Aposto que ela está feliz neste momento. Aposto que ela desejou isso. – disse a menina.

- Sinto-me culpada, sabe? – uma lágrima escorreu no rosto da mais velha. – Sou mãe e sei bem o que estou sentindo. Eu sempre julguei a moça e nem percebi que talvez ela também tivesse algo a declarar, mas jamais teria essa chance... ela me deu o maior tesouro que eu poderia querer, depois de um filho.

- Creio que ela perdoará a senhora, Mary, depois de tamanha e sincera declaração de afeto. – disse Hermione, pegando nas mãos da outra.

Escondido na entrada da pequena sala, Tom Senior observava e ouvia sua própria mãe, e não pode deixar de sentir um nó em sua garganta.

- Observando? – perguntou Tom Jr. – Não esperava ouvir isso, também.

Tom Senior congelou. Olhar para o filho era olhar para ele mesmo.

- Entendo que esteja surpreso. – continuou, vendo o pai sem reação. – E não o culpo.

- Não estou surpreso. – disse finalmente. – Surpresa é uma palavra fraca para o que estou sentindo.

- Por que não conversamos, então? – perguntou o mais jovem, vendo a confusão nos olhos do pai.

Tom Riddle se aproximou, passando uma das mãos pelos ombros do filho, temeroso, guiando-o.

- Acho que esta é uma ótima ideia. – disse com um sorriso, enquanto andava até os jardins.

O mais novo teve a capacidade de observar cada detalhe, e focou-se na mente do pai com facilidade. Era trouxa e desconhecia toda a magia, sendo fácil de manipular. O jardim estava pouco iluminado e, se desejasse realizar alguma maldade, ali seria o lugar perfeito.

Num ímpeto esse pensamento esvaziou-se de sua mente. Sentia-se, de alguma forma, incapaz de machucar o homem a sua frente.

- Sempre venho aqui quando preciso pensar. – indicou um banco ornamental, um pouco úmido pelo sereno. Tom Senior sentou-se nele. – Então...você é meu filho.

- Engraçado ouvi-lo falar assim. Desacreditava da minha existência? – perguntou o mais novo de forma irredutível.

- Simplesmente achei que não existisse. Arrependo-me ardentemente por isso.

- Você sempre teve tudo. – acusou Tom. – Eu nunca tive nada.

- Se eu soubesse, eu...

- Nem se atreveu a procurar, nem passou pela sua cabeça, um dia, que minha mãe falava a verdade quando lhe disse que estava grávida! – interrompeu o jovem, e seus olhos azuis fecharam-se em fendas.

Não que isso representasse ódio ou raiva. Estava levemente misturado com tristeza e solidão.

- Você é tão orgulhoso quanto eu. – disse Tom Jr, vendo seu pai apoiar o rosto nas mãos. – Tem alguma ideia de como eu sofri?

- Tom... – chamou o mais velho, e ele estremeceu. Era uma sensação nova ouvir o pai chamando-o pelo nome, pela primeira vez.

- Você não tem nenhuma ideia do quanto eu sofri. – concluiu. – Você jamais terá ideia, pois sempre estará confinado ao seu ninho de luxo.

- Sei que é inútil pedir desculpas... – disse Tom Sr., levantando o rosto e olhando para o filho. – mas o farei mesmo assim.

- Ninguém pede desculpas para mim, Senhor Riddle, a não ser que esteja realmente arrependido... e o senhor não está. – disse com uma voz lasciva, que lembrava Lord Voldemort.

- E como posso provar meu arrependimento? – perguntou, levantando-se e encarando o menor.

- Morrendo. É uma boa maneira de começar. – disse Tom Jr., dando-lhe as costas e saindo do jardim.

Tom Riddle Sr. olhava o filho caminhar apressadamente para dentro do salão com tristeza e medo. Não entendendo mais do que já sabia, as últimas palavras do rapaz corroeram seu íntimo ao achar que poderia ganhar o perdão dele somente por existir.

- Não... – sussurrou para si mesmo. – Ele é um Riddle. Pensa, age e sente-se exatamente como um. Traído por alguém.

Levantou-se com determinação a provar a seu filho que realmente se arrependia por tudo o que tivera de passar. Mostraria para ele que as coisas ainda não estavam perdidas e que por trás de toda a confusão que o consumia internamente, ele se sentia ligeiramente feliz. Uma felicidade que apostava que cresceria a cada dia que convivesse com ele.