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Primeiro peão


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Ela está dormindo no sofá de casa. Seus cabelos bagunçados, alguns fios sob seu rosto.

Parece que ela está tendo um pesadelo, sua testa está franzida e esta emitindo pequenos gemidos em intervalos curtos de tempo.

Não sei o que fazer.

É melhor acordá-la e abraçá-la dizendo que está tudo bem? – não que eu tenha essa coragem.

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Ou é melhor deixar que ela acorde por conta própria e fingir surpresa por ela estar assustada e segurar sua mão a confortando?

É fico com a segunda opção.

Sou covarde.

Estou sentado no tapete, o fogo da lareira crepitando a minha frente. Em cima da mesinha de centro um jornal amassado. Ainda dá para ler fragmentos da noticia principal:

“Harry Potter o herói ou vilão?

Testemunhas afirmam que a batalha na floresta em Hogwarts e o duelo final não passou de uma possível farsa...”

Babacas! Aposto que quem amassou este jornal foi o Harry. Não posso culpá-lo por estar revoltado. Mesmo tendo “salvado” a comunidade bruxa inteira esses idiotas insistem em inventarem mentiras absurdas.

Peguei o jornal e fiz uma bola amassando com toda minha força. Joguei na lareira e as chamas se alimentaram queimando rapidamente o papel.

- Não! – Hermione gritou ao meu lado.

Ela abriu os olhos, sentou-se e olhou para os lados assustada, procurando algum mal escondido nas sombras que nos rodeavam. Então ela finalmente me viu.

- Ah! Que susto Rony! – exclamou colocando a mão no coração.

- Obrigado pelo elogio, sei que pareço um monstro.

Ela estreitou seus olhos e franziu a testa, com aquele olhar típico Hermione, que eu amo tanto.

Confesso que às vezes digo essas coisas para ela me dar esse olhar.

- Você está bem? – perguntei antes que ela implicasse comigo.

As rugas em sua testa se acentuaram e ela desviou seu olhar de mim.

- Era só um pesadelo – sussurrou.

- Eu não perguntei se era um pesadelo, perguntei se você está bem.

Eu levantei do chão e sentei ao lado dela no sofá. Ela ainda estava calada e olhava algum ponto na parede a sua frente pensativa. Movi meus dedos devagar ao encontro dos dedos dela, demorei mais do que o previsível para entrelaçar nossas mãos, meu polegar ficou fazendo círculos no dorso da mão dela.

Ela retribuiu meu aperto e voltou seu olhar para mim.

- Eu to ótima – fingiu um sorriso.

Mentirosa.

- Com que estava sonhando? – mudei de assunto, ela não me falaria mesmo.

Hermione me encarou... Os olhos dela estavam tristes. Eu a encarava de volta, podia sentir sua respiração se misturando com a minha.

- Meus pais.

Os pais dela estão na Austrália.

Ano passado depois de eu e Hermione decidirmos que acompanharíamos o Harry na caça as Horcruxes, ela lançou um feitiço de memória nos pais e os fez pensarem que são Wendell e Monica Wilkins, um casal sem filhos cuja ambição na vida era se mudar para a Austrália.

Foi à maneira que ela encontrou para protegê-los dessa guerra.

- ...Eu não sei... – ela desviou o seu olhar do meu, provavelmente para esconder seus olhos lacrimejados que eu já havia notado – Eu não sei como eles estão e, e...

- Está com medo? – completei o difícil sentimento que ela custava a dizer.

Ela não respondeu mas deitou sua cabeça no meu ombro, passou seus braços envolta do meu pescoço e ficou assim, apenas assim.

Devo dizer que este simples ato fez inúmeras reações no meu corpo, como o subto calor que surgiu, como o palpitar acelerado do meu coração e como a imensa vontade que senti de puxar seu rosto próximo ao meu e grudar pela segunda vez meus lábios com os lábios dela.

Mas apenas ignorei todas essas reações e fiquei passando minha mão pelas costas dela, enquanto sentia sua respiração irregular no meu pescoço. Fechei os olhos esperando que esse momento durasse para sempre.

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- Rony!

A voz era da Gina.

Me recusei a abrir meus olhos.

- Ronald! – ela gritou me dando um tapa na testa.

Já disse que minha irmã é adorável?

- O que quer Ginevra? – perguntei olhando para ela.

A Hermione continuava do mesmo jeito, aquele simples jeito tão grandioso.

Minha irmã estava com um short elástico, uma blusa de moletom cinza e amarrava seus tênis.

- A mãe está te chamando para ir colocar a mesa do jantar.

- Eu não escutei ela chamar.

- Ha Ha muito engraçado – disse debochadamente apontando o dedo indicador na minha cara – você sabe que ela não fala mais. Vai logo.

- Porque você não vai?

Eu realmente não queria sair do melhor abraço do mundo.

- Vou correr – respondeu simplesmente.

- Você corre todo dia, só hoje não, vai lá, vai? – implorei.

- E você também come todo dia. Vai logo.

Terminou começando a correr para fora da casa.

Me aconcheguei novamente no sofá e fechei meus olhos.

A Hermione se mexeu e retirou seus braços envolta de mim. Senti seus lábios na minha bochecha e o calor do corpo dela se afastar.

Abri meus olhos e a vi de costas, caminhando devagar em direção as escadas.

Droga Gina.

Fui para a cozinha e vi minha mãe de frente a um enorme caldeirão onde o aroma da sopa de cebola era sentido.

Me dirigi ao armário e peguei seis pratos, já que meu pai e o Jorge não comem com a gente.

- Mãe vou comer no quarto ta? Preciso continuar estudando.

O Percy entrou correndo na cozinha, pegou um prato da minha mão, colocou um pouco de sopa e voltou correndo escada acima.

Minha mãe virou para trás e pegou dois pratos, os encheu de sopa e foi levar, uma ao meu pai e outro ao Jorge.

Ok! Cinco pratos.

Os coloquei na mesa, junto com as colheres. Peguei o pão do café da manhã e coloquei no centro.

Mamãe voltou com os dois pratos cheios e com os olhos vermelhos pelo choro. Jogou os dois utensílios na pia e subiu escada acima. Ouvi uma porta bater.

Ela foi chorar no banheiro.

Ok! Quatro pratos.

Retirei um prato da ponta e me sentei de frente a mesa.

Quando foi que minha grande família feliz morreu e eu não percebi?

Fiquei sentando uns dez minutos olhando o nada, quando ouvi um bater de bico na janela.

A abri e um coruja cinza, desconhecida, me entregou um envelope. Sem esperar por água, comida ou minha possível resposta, levantou vôo sumindo no céu avermelhado do fim da tarde.

O envelope é volumoso.

Nele está escrito Ronald Weasley em uma letra estranha.

Passo a mão.

Sinto alguma coisa dentro.

Uma gota de suor escorre do meu rosto quando resolvo abrir.

Eu tremo.

Coloco minha mão dentro.

Tiro um peão de xadrez.

Um peão branco.

Um peão branco do jogo de xadrez trouxa.

Volto a colocar minha mão dentro e retiro um pedaço de pergaminho.

Seguro com cuidado como se fosse amassar. Leio:

“Início do jogo:

O peão. Começo simples mas não fácil.

Garagem – Senhor de Pijamas listrados.

O salve”.

Início do jogo?

Eu realmente pensei que tudo de estranho já havia acontecido na minha vida, mas essa carta ganhou de todas.

Quem me enviaria um lance desses?

O que foi que fiz para receber uma carta com um peão dentro e palavras que não fazem sentido nenhum?

Guardo a carta e o peão no bolso do jeans e volto a sentar da mesa.

Tento entender o que está acontecendo e quem me enviou esse negócio.

Será que foi a Hermione?

O Harry?

A Gina?

Não faço a menor idéia.

Alguma coisa me diz para jogar fora, mas minha consciência dói só de pensar.

Jogo? Como assim início do jogo?

A curiosidade me bate.

“Talvez seja o destino” penso “Talvez deva tentar decifrar o que significa tudo isso”.