A Lobisomem

Voltando ao Hospital e ao Quarto Branco


O quarto estava vazio quando eu cheguei pela lareira. Fiquei andando de um lado para o outro, bufando de raiva por causa do garoto Lupin, como uma besta enjaulada. Quando me dei conta do peso dessa ironia e de como eu seria, de fato, uma besta enjaulada em poucas horas, me joguei na cama e tentei dormir.

Encarei o teto pelo que pareceram horas antes de qualquer um entrar no quarto. O doutor Zimmer pareceu surpreso de eu estar acordada e me ofereceu uma poção diferente.

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- Essa é outra adaptação da poção original de acônito. - Ele explicou enquanto eu olhava desconfiada para o líquido roxo viscoso. - Foi desenvolvida por um grande mestre posologista...

- E vocês estão testando em mim. - Eu disse, desanimada, e tomei a coisa toda em um gole só. Não me atreveria a dizer que o gosto era agradável, mas era mais tolerável que a outra poção.

O medi-bruxo sorriu para mim e me deu um tapinha no ombro. Quando ele saiu, eu desabei na cama e esperei que a lua cheia aparecesse e fizesse o trabalho dela.

- Vamos logo com isso. - Eu disse, não sei se para a lua ou se para mim mesma.

Horas mais tarde, quando ela finalmente apareceu no céu, eu senti tudo aquilo que senti nas duas transformações anteriores. O frio, a explosão no meu corpo, o meu braço saindo do lugar. As facas invisíveis cortavam a minha carne e meus ossos assumiam uma nova forma. Minha voz saía como algo entre um grito e um uivo e eu estava, mais uma vez, deformada, longe de ser um ser humano e perfeitamente encaixada na categoria de monstro.

Mas algo estava diferente. Como das outras vezes, eu não controlava minhas ações e queria desesperadamente sair dali. Mesmo assim, eu tinha mais consciência de quem ou do que eu era, conseguia perceber o que estava ao meu redor com os meus sentidos ampliados por mil. Ouvia os enfermeiros que estavam atrás da porta à prova de som do quarto branco, podia sentir o cheiro deles. E, quando eu grite barra uivei, eu pude sentir o medo e o pânico deles.

Era assustador. Das outras vezes fora mais doloroso que assustador, era como se eu estivesse presa num outro corpo e apenas assistindo. Essa transformação foi igualmente dolorosa, se não mais, mas foi a primeira em que eu e o monstro éramos a mesma criatura.

O ciclo se rompeu e a lua deu lugar ao sol, me fazendo voltar à forma humana. Não foi por muito tempo, mas eu consegui ficar acordada e dar algumas voltas pelo quarto, mais uma vez, parcialmente destruído. Tudo se repetiu por mais uma noite, e na outra manhã eu já estava acordada, limpa e vestida quando os enfermeiros viriam para arrumar o quarto.

Mas não foram os enfermeiros que vieram. O doutor Zimmer veio sozinho, trazendo mais um de seus cálices.

- É bom ver você de pé, Elizabeth. - Ele me disse. - Mas você precisa tomar isso e vir comigo.

Eu peguei o cálice e sacudi o líquido como um enólogo antes de provar uma taça de vinho. Ele mudava de cor à medida que se mexia e exalava um odor adocicado, mas que logo se tornou azedo.

- É uma Poção de Ilusão. - Eu constatei.

- Sim, e você precisa tomá-la. - Ele disse e empurrou o cálice contra os meus lábios.

A poção desceu fácil, mudando de gosto assim como mudava de cor e cheiro.

- Por que eu precisei tomar essa poção? - Eu perguntei, impaciente e dolorida.

- Você tem uma audiência com o Conselho de Hogwarts agora. - Ele disse. - O prof. Longbottom conseguiu que a sua identidade fosse mantida sigilosa, para a sua proteção e a proteção dos alunos. Agora venha comigo.

- Audiência? - Eu ecoei, mas o doutor já estava a meio caminho do corredor, eu precisei correr para conseguir segui-lo. - Conselho? Por que ninguém me falou disso antes?

- Porque é um caso sigiloso. - Foi tudo que ele respondeu.

A Poção de Ilusão cria uma espécie de névoa ao redor da pessoa que a toma, fazendo com que as feições mudem e não sejam reconhecidas. O estranho é que, se você tomou a poção, as coisas que você enxerga também ficam entrando e saindo de foco, e isso me deixou tonta. O doutor Zimmer já estava bem carrancudo naquela hora, e não ficou muito feliz de ter que me levar pela mão até a sala de reuniões do Saint Mungus.

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- Ótimo, vocês estão aqui. - Eu ouvi uma mulher dizer, mas eu não tinha certeza de quem era ou para quem ela estava falando isso. - Doutor, acho que seria melhor se você fosse para o seu lugar, eu assumo daqui.

O medi-bruxo foi para algum lugar que eu não conseguia identificar e eu fiquei ali com aquela mulher. Eu estava com fome e atordoada, não muito bem recupera da transformação, sem falar que estava completamente perdida e sem saber o que estava acontecendo.

- Você sabe o que está acontecendo? - A mulher me perguntou, e eu amaldiçoei a poção por me impedir de conseguir vê-la direito. Fiz que não com a cabeça. - Um lobisomem em Hogwarts é uma coisa grande, não poderia passar despercebido pelo Conselho da escola. Você sabe o que é esse Conselho?

Eu me lembrei da conversa que eu tive com o professor Longbottom alguns dias antes, e as coisas estavam começando a fazer sentido.

- É um grupo de bruxos de famílias tradicionais que ditam as regras na escola. - Eu disse, esgotando tudo que eu sabia sobre o Conselho.

- Isso. - A mulher concordou. - Alguns desses bruxos acham que é muito perigoso tê-la na escola e querem expulsá-la, por isso dessa audiência. Eles não podem obrigá-la a mostrar sua identidade, isso vai contra as leis de proteção aos lobisomens, então eu e o prof. Longbottom conseguimos que você fosse tratada como uma testemunha anônima.

Eu fiquei sem fôlego e precisei me apoiar em alguma coisa para não cair. Eu acho que era uma cadeira, mas, nessa altura, eu não saberia dizer.

- Como assim, expulsar? Não é como se fosse minha culpa! - Eu disse assim que voltei a respirar, por mais que pensasse que talvez fosse um pouquinho culpa minha. - E os outros? O senhor Lupin e aquele tal de Wolff que o professor me falou? Por que o meu caso é diferente dos deles?

- Não é. - A mulher me garantiu. - Mas esses velhos do Conselho precisam ser convencidos disso. Nem todos são boas pessoas, Liz. Alguns deles não gostam de mestiços ou nascidos-trouxas ou qualquer coisa que seja diferente.

Eu não tenho vergonha de admitir que estava prestes a chorar.

- Quem é a senhora? - Eu perguntei quando me dei conta que ela sabia o meu nome, não, o meu apelido e eu nem conseguia ver se ela era morena ou loira. Eu pude ouvir a pausa que ela usava para sorrir.

- Eu sou Hermione Granger. - Ela disse. - E você pode me considerar sua advogada por hoje.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.