(Nem) Todo Mundo Odeia a Emily

Todo mundo odeia não saber.


“-Não sei. Me fala sobre tudo.”



Enfim saímos do ônibus. A primeira coisa que me ocorreu após pisar no “meio do nada”, foi um certo pensamente cheio de dúvidas e vindo não de onde: Quem é Samantha? Eu nem ao menos sei o sobrenome dela.

Brincadeira. A primeira coisa que me ocorreu foi um mosquito entrando dentro do meu olho. Sim, bem dentro dele!

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E enquanto eu tentava tirar o mosquito do olho, recebi um super tapa nas costas dado pelo Gregory. Beleza de vida.

–E aí, Emy?! – Valeu mesmo Gregory! Agora nem sequer me lembro do que eu tava pensando. Só sei que a primeira gaveta da cozinha sempre é a de talheres, e...

–Oi, capeta. – Me recompus assim que tirei o mosquito magrelo do meu olho.

Já comentei o quando odeio mato e insetos? Na verdade, já comentei que odeio tudo, exceto o Lukas? Bom, vou comentar então: era uma ve-

–Oi, Emy. Quer chocolate? – Anthony, você é um fofo.

–Claro. – Peguei a barra inteira das mãos do coitado, que ficou olhando pra mim como se me matasse em pensamento. Ignorei-o.

–Eu odeio esses insetos! – Viu? Lukas e eu combinamos perfeitamente.

–Muito bem, muito bem! – O professor de Ciências começou a falar para os alunos que se reuniam em volta dele.

Só agora vi como é que as líderes de torcida estão: todas cheias de repelente, choramingando e batendo na própria pele. Pensando bem, essa viagem pode não ser tão ruim assim...

...

...

Pausa dramática pra dizer que é MENTIRA!

– Os alunos que já estiveram aqui no ano passado já sabem como é que funciona. Temos um dormitório apenas, o que significa que eu e os outros coordenadores também vamos estar lá, por isso, juízo! – Ezra continuou a falar. Grande merda, isso sim!

Só agora percebi que Anthony ainda olhava mortalmente para mim. Medo. Tirei apenas um pedaço do chocolate e devolvi o resto do tablete pra ele, que sorriu.

–Valeu, Gust. – Sorri também. Deus, como estou mudada.

–Disponha, Emy. – Aham. Tá.

Ok. Só sei que perdi tudo o que o Ezra falou, falou e falou enquanto eu torrava no sol e era comida viva por mosquitos; isso quando eu não estava olhando para o mato nos meus pés, achando que era alguma cobra. Só entendi a parte do “hoje à noite vamos fazer um roda em volta da fogueira e amanhã começam as atividades!”.

Tipo assim, parando pra pensar... EM QUE MERDA EU FUI ME METER?!

Depois de uma pequena explicaçãozinha de uma hora, mais ou menos, sobre como nós vamos conhecer a floresta e as plantas, como a natureza é bela, sobre como as pessoas donas da casa e do dormitório onde vamos ficar foram gentis em nos deixar participar dessa atividade educativa e blá blá blá, finalmente fomos dispensados para irmos no dormitório e conhecer o lugar. Como se eu fosse sequer querer conhecer o lugar, né? Não conheci da primeira vez e não é agora que vou conhecer. Faça-me o favor! Tudo o que sei é que eu sempre fico no dormitório, e por mim eu ficaria a viagem inteira lá, mas sempre tem um infeliz pra ir me atormentar e me mandar fazer alguma coisa.

Explicando melhor o lugar, cujo qual eu nem conheço, há uma espécie de celeiro enorme – carinhosamente chamado de dormitório – e um casarão um pouco mais afastado. É como uma fazenda no meio de uma floresta. Maravilha.

Fomos em direção ao dormitório que é repleto de beliches e que cheira a alguma coisa não muito boa. A primeira coisa que fiz foi dar um salto ninja e ir parar na cama de cima de uma beliche qualquer. Brincadeira. Eu não dei um salto ninja, apenas demorei umas três horas pra subir, mas tudo bem. É que a minha mochila está realmente pesada.

Ok. Admito. Não era “uma beliche qualquer”. Era a beliche bem ao lado da do Lukas - e infelizmente a do Thomas-, e como as camas são perto uma das outras, digamos que eu esteja “bem posicionada”.

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Mas os meninos logo saíram do dormitório; não sem antes perguntarem se eu não iria junto e eu responder que não. Na verdade, nem olhei pra eles. Estava mesmo é olhando para o “teto” de madeira desse galpão velho e pensando na vida.

Sim, eu até estava pensando na vida, até que o pensamento de mais cedo voltou na minha mente. Quem é Samantha? Apenas mais uma pessoa criada pelo destino só pra ajudar a arruinar a minha vida? O Lukas está mesmo interessado nela? Por que essa garota vive? Só sei que Samantha boa, é Samantha morta!

E sim, eu até estava pensando na Samantha, até que algum infeliz começou a batucar na madeira debaixo do meu colchão, já que eu estava na cama de cima.

Fiz a minha melhor cara de “você vai morrer, filho de uma boa mãe” e virei até a beirada da cama, de modo que a minha cabeça ficou pra fora dela e eu pude enxergar quem era o futuro cadáver que ousou interromper meus pensamentos.

–Só podia ser você mesmo! – Exclamei irritada. – Essa é a minha cama! Exclusivamente minha! E ninguém ocupa o “andar de baixo”!

–Sério? Não vi seu nome escrito nela, garota estúpida. – Thomas deu um sorrisinho sacana.

–É, você não viu meu nome escrito porque apenas pessoas bonitas podem ver! – Nossa, estou mais idiota que o normal.

–Parabéns, Emily. Você superou o seu nível de idiotice. Deve ser esse ar sem poluição afetando o seu pequeno cérebro. – Ele finalmente falou enquanto sorria. Tá vendo só?

Revirei os olhos e apenas coloquei minha cabeça de volta no travesseiro. Acho que já comentei que não suporto o Thomas, não é? Vou apenas ignorá-lo. Isso!

Voltei a observar o teto no galpão, até que ele começou a batucar na madeira de novo. QUE ÓDIO, QUE ÓDIO, QUE ÓDIO, QUE ÓDIO! Mas vou apenas respirar e me acalmar. Isso. Uffa...

De repente os barulhos pararam. Pude ouvir outros alunos conversando e rindo um pouco mais distante. Silêncio, pelo menos na MINHA beliche.

Voltei a ter pensamentos mirabolantes, até que um deles me atingiu como uma flecha no coração. O que eu sei sobre o Lukas? Só sei que ele veio da Alemanha, tem um irmão gêmeo, é lindo e fofo... Como eu me apaixonei por uma pessoa que eu nem conheço? Qual é cor preferida dele? O que ele gosta de fazer? O que ele pensa sobre a viajem do homem à lua? Só sei que eu gosto dele, e essas perguntas não têm muita importância, até porque já tenho a resposta para todas elas: Thomas.

Olhei para a cama de baixo novamente, encarando Thomas que não percebeu que eu fazia isso. Até que ele finalmente voltou seu olhar para mim, e ficamos nos olhando. Eu com uma sobrancelha arqueada e ele com aquela cara de “não fui eu!”.

Ele suspirou, desviando o olhar.

–Vou procurar alguma garota pra mim, se é que me entende. – Sorriu maliciosamente, se levantando.

–Thomas, espera! – Falei, me sentando na cama e fazendo ele se virar para mim.

–O que foi agora? – Ele perguntou. Ah, por que diabos eu estou fazendo isso?

–Me fala sobre... o Lukas? – Simplesmente falei, observando a cara de confuso dele logo após isso.

–Não entendi. Te falar sobre o Lukas? Falar o quê?

–Sobre... ele. – Dei de ombros. – Eu acho que não o conheço o bastante.

–Nem sequer o conhece e já o ama?

–É, ué. O amor é assim. – Dei de ombros mais uma vez, balançando as minhas perninhas de grilo que ficaram para fora da cama. – Não que eu entenda muito sobre ele, o amor. Mas eu também nem entendo muito do Lukas, só sei que eu gosto dele.

–Que seja. – Ele revirou os olhos, subindo para a beliche de cima e se sentando ao meu lado na cama. – O que quer saber?

–Não sei. Me fala sobre tudo.

–Nós nascemos em primeiro de setembro e ele não gosta de garotas como você, o que me lembra que você tem que ir cumprir as “Regras de Conquistas”. Só. Nós tivemos uma bela conversa. Até mais. – Como assim? Ele já ia descendo da cama quando eu puxei os dreads dele. É, sou má. – Au! Tá louca, sua... louca? – Perguntou, olhando para mim.

–Me conta sobre ele. Sério! – Insisti.

–Por que não vai você mesma conversar com ele? Talvez você descubra tudo, e vai ser melhor se ele te contar sobre ele mesmo.

–Não vai, não. Você é o irmão gêmeo dele!

–Não vou te contar nada. Achei que tinha ficado bem claro que eu te odeio, apesar de estar te ajudando. – Ele disse, finalmente descendo em um pulo só.

Não, Thomas... Volta, volta, volta! Argh! Tudo bem, eu vou tentar conversar com o Lukas... Claro, conversar. Só que mais tarde, sozinhos. Sinto falta de falar com ele. Mas por hora...

–Thomas!

–Eu já disse que não, Emily! – Ele falou, sem se virar e continuando a caminhar.

–Não, não é sobre isso! – Também desci da cama, correndo para alcançá-lo. – É sobre a “talzinha”.

–Que “talzinha”? – Ele olhou para mim, parando de andar.

–A Samantha, idiota! – Também parei e expliquei como se fosse obvio.

–O que é que tem a Samantha idiota?

–Não idiota, eu chamei você de idiota, se bem que a Samantha também é idiota e-

–Emily! – Cortou o meu monólogo, fazendo um gesto com as mãos para que eu adiantasse o assunto. Ele estava mesmo interessado em ir “pegar” alguma garota. Veado! Ops, saiu sem querer.

–Tá, tá. Acredite ou não eu estava pensando, e estava pensando sobre a Samantha. O que nós sabemos sobre ela, hum? Se queremos cumprir as ‘Regras de Conquista” direito, temos que saber mais sobre essa coisinha!

–É. – Fez uma cara séria, realmente parecendo pensar sobre isso. – Boa sorte tentando. – Sorriu, me dando as costas mais uma vez.

–Não, Thomas! Você tem que me ajudar! – Praticamente implorei. Que isso, Emily?

–Eu disse que a minha ajuda era só sobre as “Regras de Conquista”.

–Você não disse, não. Nunca disse. – Falei, fazendo ele parar de andar, mas sem se virar.

–Pois é, né? Estou dizendo agora. Se vira, Emily. – Justificou, voltando a andar. Não sei se foi impressão, mas acho que notei um Thomas muito rude em suas palavras. Mais do que o normal. Ah, também te odeio Thomas! Mil chutes no fígado!