(Nem) Todo Mundo Odeia a Emily

Todo mundo odeia não saber agir.



“Ai, que ódio de mim!”

Qual é o cúmulo do absurdo? Acho que é correr sozinho e chegar em segundo lugar. Não, não é isso não. O cúmulo do absurdo é Thomas Schultz vir no meu quarto e querer usurpar minha guitarra se aproveitando da minha desvantagem em relacionamentos amorosos. Isso sim é o cúmulo.


É o fim querer se aproveitar de mim só porque eu estou doente... Doente de amor. Eu sei que isso soa meio – muito – estúpido mas de repente todas aquelas músicas idiotas de amor parecem fazer sentido.


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Esse novo sentimento me faz ficar confusa, perdida, desesperada, amedrontada e... Com fome. Isso, estou com fome e apaixonada por um alemão que conheço não tem nem uma semana.


Depois de três horas consegui proteger o gesso no meu braço com um papel plástico e fui tomar banho, ou tentar me matar, que é como prefiro definir esses momentos trágicos dos meus dias.


Enfim... Depois que terminei de tentar me matar, coloquei um short jeans, uma camiseta preta do AC/DC e um dos meus all star que achei jogado pelo quarto.


Fui pra cozinha comer alguma coisa. O problema era que só tinha o cereal barato que a minha mãe compra. Pra completar eu esqueci de fechar a caixa e por isso ele não estava mais crocante. Trágico, trágico... Eu poderia até pedir uma pizza. PODERIA, se eu tivesse dinheiro, é claro.


Mãe desalmada essa minha, se ela estivesse tão preocupada como disse que estava por causa do meu pulso pelo menos teria feito alguma coisa pra eu comer.


Ah, achei um pacote de cookies também quando fui pegar o leite na geladeira. Sim, o pacote estava dentro da geladeira. Anormal seria se ele estivesse no armário.


Achei mais algumas coisas comestíveis e também não comestíveis jogadas pela cozinha e comi até ver estrelas.


Até me engasguei com o chá gelado quando comecei a rir ao lembrar do Thomas me pedindo desculpas e de como deixei todo mundo preocupado quando machuquei o pulso. O Thomas pedindo desculpas? Tá aí uma coisa que não se vê todo dia. Mas então meu sorriso foi murchando, murchando... Me lembrei que eu caí por causa da Zooey, e Zooey me lembra líderes de torcida, e líderes de torcida me lembram Samantha, e Samantha me lembra Lukas, e Lukas me lembra... “estou ferrada”.


O Thomas é um mentiroso e acho que só estava dizendo que o Lukas gosta da Samantha pra pegar a minha guitarra, mas e se for verdade? E se for? Caramba, a primeira vez que estou apaixonada na vida e ainda não consigo ser feliz. Vida cruel, Manuel!


Mas então eu fui sorrindo de novo ao me lembrar do Lukas e de como ele sorri. Vou na casa dele agora! Quer dizer... Daqui a pouquinho, vou só matar as borboletas no meu estômago e já volto.


_X_


Ai, será que eu devo? Será? Será? Ah, foda-se!


Toquei a campainha quando uma coragem que não sei de onde veio e me atingiu em um surto epilético descomunal. Ok. Eu só estou um pouquinho nervosa, quase nem se percebe.


Eu nunca acreditei em amor, e agora estou apaixonada... Como eu posso saber como devo agir?


O que eu devo dizer pro Lukas? “Vim buscar a matéria, quer namorar comigo?”, isso?


Abri o meu melhor sorriso quando percebi que a porta estava sendo destrancada. Mas aí, quando abriram a porta, meu sorriso murchou e fiz cara de quem chupou limão. Adivinha quem era?


Thomas me olhou de cima em baixo, fazendo uma cara de desprezo.


–Ô, LUKAS, É PRA VOCÊ! – Thomas gritou, saindo de casa e esbarrando em mim de propósito. Melhor que saia mesmo, e que morra também!


Fiquei parada com cara de tacho em frente à porta aberta, quando Lukas apareceu todo sorridente.


–Emily! Como está o braço?


–Bom. – Dei de ombros. Minha voz saiu tão ‘doce’ que acho que consegui perfurar meus próprios tímpanos. Pobre Lukas, eu não quero matar meu futuro namorado. Quer dizer... É, ele é meu e pronto. Acabou!


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–Entra. – Ele segurou a minha mão direita, me puxando pra dentro enquanto com a sua mão livre fechava a porta. Ele soltou a minha mão e ficamos no meio da sala. – Por que não foi na escola hoje? Fiquei preocupado, já estava indo pra sua casa.


–Estava? – Quer dizer que... Ele estava? Viu? Ele me ama! – Eu não fui porque meu braço estava doendo muito. – Sim, eu menti. Mas é só pra ele ficar com dó de mim. – Então... Queria saber se você pode me emprestar a matéria. – Sorri.


–Ah, claro. Vamos ir pro meu quarto. – Bem que dizem que quando se está apaixonado qualquer coisa que a outra pessoa faça é motivo para nos dar “esperança”. Essa frase significou muito pra mim, ok?


–Ham... Claro. – O segui apressada subindo as escadas para o segundo andar. Entramos na segunda porta e lá estávamos nós, no quarto já conhecido por mim.


Uma coisa que notei no Lukas, vulgo meu namorado, é ele tem a mania de ficar segurando na minha mão e guinado pra qualquer lugar que seja. Foi isso que ele fez. Segurou em minha mão e me fez sentar na cama dele, enquanto procurava algo pelo quarto.


–Ah, achei! – Exclamou feliz, pegando a mochila e também se sentando na cama, de frente para mim. – Olha só, faltou copiar alguns exercícios de Física. – Eu queria dizer: “Deixa pra lá, eu não vou copiar mesmo. E... Eu te amo, um beijo.”, mas antes que eu fizesse isso ele interrompeu meus pensamentos. – Acho que o Thomas copiou. Ele deixou a mochila dele lá embaixo, vou lá buscar. Não sai daí. – Falou, já saindo do quarto.


Como se eu fosse sair daqui. Ai, que ódio de mim! Toda vez que ele está por perto eu fico sem ação.


Eu podia ficar me xingando até ele voltar, mas como não tenho educação, decidi fuçar nas coisas dele. Abri a mochila dele. Tinha uns três cadernos, algumas coisas... E, o que são esses papeis?


Peguei o tufo de papel no fundo da mochila e eram... Textos? Versos? Sim, textos, e todos eles escritos por Lukas, que assinava seu nome no final de cada mensagem. Peguei uma folha e comecei a ler. Tinha cada coisa bonita escrita. Será que era ele mesmo que escrevia? Eram coisas tão... Perfeitas. Coisas sobre a vida, sobre união, sobre amizade... Amor. Ai, meu Deus. Eu acho que amo o Lukas mais do que eu pensava.


Ouvi passos na escada e soquei tudo de volta pra dentro da mochila dele.


–Aqui, ó. Achei. – Balançou o caderno em uma das mãos, voltando a se sentar de frente para mim. – Então, tem... – O deixei falando sozinho enquanto entrava no meu estado de transe de novo. Ele é tão... Lindo. Tão perfeito. Como eu vou dizer pra ele que o amo? Como?


Não importa, já tenho a resposta: Através de uma carta, é claro. Se ele gosta tanto de versos e textos, por que não? É, essa é a solução! Aí eu vou escrever que o amo, ele vai ver que a Samantha não tem nada a ver com ele e me responder dizendo que me ama também, e seremos felizes para sempre. Perfeito, não?


–Não, eu não acho. – Ele me disse, assim, do nada. Será que ele lê mentes? Ai, me acode que eu vou ter um treco.


–O quê?!


–“Não, eu não acho”, foi isso que o professor de Filosofia disse quando um aluno perguntou se ele achava que Deus havia criado tudo. – Me respondeu. Ai, que alívio. Até suspirei com uma expressão estranha, o que o fez rir.


Cara, como eu sou idiota.