Sweet Diary

Dois à Quatro anos [parte 2]


O homem que estava do outro lado da porta então surgiu pra dentro do grande salão que geralmente usávamos pra passar o tempo brincando de se esconder - ou melhor dizendo, eles usavam pra se esconder. Eu não - Ele usava chapéu, um chapéu parecido com o de um detetive que eu gostava e que vi em alguns filmes.

Ele nos sorriu, balançando a cabeça, e então vi Charlotte tomar fôlego pra falar alguma coisa:

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- Cumprimentem o senhor Watari, crianças!

Todos gritaram um cumprimento, menos eu, o que fez Charlotte parar o olhar em mim e logo depois o senhor Watari, mas ele, diferente de Charlotte, sorriu.

Além de sorrir ele ficou por um longo tempo me olhando, o que me incomodou. Eu então dei de ombros e me virei, desviando meus olhos dele.

Charlotte o puxou pelo braço, querendo mostrar todos os aposentos do orfanato, se gabando pelo nosso comportamento, enquanto ele ainda ficava com os olhos grudados em mim e ainda sorrindo, o que era mais estranho.

Todos nós fomos para o pátio, estava Sol e as crianças queriam brincar. Eu odiava o Sol, preferia muito mais o frio, o frio que é mais comum aqui em Winchester.

Por isso fui até um canto próximo à um muro baixo, sentei atrás dele e me ajeitei, pegando meu caderno, pedaços de biscoitos no meu bolso esquerdo e logo depois busquei no meu bolso direito da calça, cinco almofadinhas costuradas à mão e então comecei a jogá-las pra cima e a pegar uma. Duas. Três. Quatro e assim por diante.

Fiz isso com a mãe esquerda enquanto escrevia com a mão direita, e aos poucos ia mordiscando pedaços de biscoito nesse meio tempo. Lá ninguém me veria sentado do jeito que eu estava e eu podia ficar tranquilo e sozinho comigo mesmo.

Sem que eu percebesse, senti uma mão grande no meu ombro, levantei assustado, olhando quem estava atrás de mim. Era aquele velho.

- Não queria assustá-lo meu jovem.

- Eu não me assustei.

- Você lembra de mim?

Olhei pra minhas almofadinhas no chão, próximo aos pedaços de biscoito que roubei da cozinha, aquilo iria me trazer alguns probleminhas.

- Na verdade. Não.

Ele sorriu, e mais uma vez eu não entendi nada.

- Fui eu quem o trouxe pra essa instituição.

Eu senti meus olhos arregalarem, precisava cuidar mais das minhas expressões faciais. Talvez treinar um pouco meu lado mórbido seria mais legal.

- Foi você?

Eu então entendi porque eu estava tão surpreso, porque eu estava curioso também.

- Sim, fui eu.

- E... E você me encontrou onde?

Ele balançou a cabeça, tirando o chapéu legal de detetive, mostrando os cabelos que eram... Da cor dos cabelos de Lizzie...

Ele olhou pra mim novamente e eu estava com os olhos arregalados de verdade, olhando para os cabelos que eram exatamente do mesmo tom dos cabelos de Lizzie. Ele sorriu desta vez.

- Você foi encontrado em um lugar mágico...

- Hey! Eu não acredito nisso! Me diga, ande, vamos logo, não venha com histórias fantásticas. Quero saber em que lata de lixo me encontrou.

Ele ergueu as sobrancelhas, parecendo ultrajado.

- Em uma lata de lixo? Que horror! Quem jogaria uma criança em uma lata de lixo?

Ergui meus ombros e depois os soltei.

- Bem, alguns dos meninos daqui foram encontrados em latas de lixo, Charlotte cansa de falar isso pra eles os fazendo chorar feito beberrões. E isso me irrita. Detesto choro de criança.

- Mas você é uma criança.

- Eu sei - resmunguei, movendo os ombros de novo.

- Hunpf... Charlotte - ele resmungou consigo mesmo. Tomara que ele a mande embora!

- Pois bem, você gosta de morar aqui?

Voltei para o meu jogo de almofadinhas, as soltando pra cima e logo depois as pegando novamente. Quando ele pensou que eu não estava lhe dando atenção eu lhe respondi:

- Um pouco. Depois de um tempo aprendi a gostar. Eles me deixam em paz, o que é muito bom.

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- Você gosta de se isolar?

Mexo com a cabeça soltando um "Uhum" pelas narinas e ele fica satisfeito com a minha resposta curta.

Na verdade eu gostava muito de me isolar, só não sentia isso quando estava com Lizzie, ela cuidava de mim e falava pouco, o que eu gostava. E agora, com esse homem que tem os cabelos da mesma cor dos dela, ele também me fazia bem.

- Acho que daqui por diante teremos uma bela amizade - ele sorriu, apertando os olhinhos e mostrando os dentes debaixo do bigode e logo depois estendeu uma das mãos pra mim. Eu olhei pra mão dele e a peguei entre o dedo polegar e o indicador. Ele sorriu.

- Que jeito estranho de se cumprimentar alguém.

- Eu sei.

- Agora preciso ir, mas prometo que virei mais vezes lhe visitar.

- Tudo bem, eu espero - disse enquanto voltava para o meu jogo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.