Bloody Bones

Capítulo 4


O Silêncio na sala era potencialmente constrangedor por parte de Camille Saroyan. Ela havia superado sua paranóia, ela chamava “aquilo” de paranóia, já há alguns anos, mas tomar decisões pelo Jeffersonian sempre fora difícil. Algo estava a tomando. Um desespero, talvez. Mas ao pensar duas vezes, catalogou seu sentimento como traição. Parecia estar traindo Temperance Brennan e Seeley Booth com aquela singela reunião com toda a equipe que trabalhava com homicídios em parceria com o FBI – menos com Brennan e Booth.

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- Por que estamos aqui, Cam? – Hodgins quebrou o silêncio se remexendo na poltrona em que estava – Onde está a Dra. Brennan ou Booth?

- Onde eles estão? – Angela andou até a poltrona com Hodgins estava e sentou-se apoio para braços. – Vão entrar em férias? Brennan está meio estranha... Hey, deveríamos pegar férias Jack...

- Não, eles não estão de férias – Cam falou antes que Hodgins pudesse responder a pergunta de Angela – Apesar, provavelmente Booth já foi afastado do ramo de homicídios...

Todos abaixaram os olhares. Se o objetivo fosse ser uma surpresa, não obteve sucesso – todos já sabiam. Camille cruzou os braços, pensativa, tentando escolher as palavras certas. Talvez a saída de Booth fosse o fim daquela equipe.

- Sem Booth, não teremos Brennan.

Cam ergueu os olhos. Fora Angela quem falara. Claro, a melhor amiga de Temperance deveria saber o aconteceria. Todos sabiam a luta que Brennan e Booth travaram com o Agente Sullivan quando ele comentou o quanto lamentava a saída de Booth; o que ela faria na real saída dele?

- Ás vezes eu gostava quando os dois eram apenas parceiros – Confessou Cam – Nada contra o relacionamento dele, mas como trouxe alguns problemas para o FBI, também trás para nós do Jeffersonian.

- Mas Brennan talvez queira ficar... – Falou Wendell pela primeira vez – Ela adora esse lugar.

- Ela não ficará. – Sussurrou Lance Sweets.

Todos atribuíam secretamente a culpa a ele. Ele sabia. Ele sentia. Não era bem vindo. Desde sábado, quando Booth e Brennan resolveram “provar” o que eram, ele não dormira. As próximas palavras de Cam, Sweets já sabia. Por isso tapou os ouvidos, mas o silêncio depois da fala foi simbolicamente mais barulhento que a frase em si.

- Brennan pediu demissão.

É. Fora um domingo difícil.

* * *

Era um beco escuro e escondido de Washington. Booth estava sozinho, a não ser que se conte com um ladrãozinho de rua, agora morto, que jazia aos seus pés. Sentia-se satisfeito, mas isso não aliviava a culpa que sentia. Uma vida era uma vida. Mas quando se está com sede e tem alguém na sua frente, não há modo de resistir. O fato de ser um bandidinho de cafeteria aliviava um pouco a culpa, mas chegava nem perto de vetá-la.

Booth pegou o ladrão e pôs em cima dos ombros. Sentia-se forte também. Tinha que se desfazer do corpo rápido, tinha uma hora marcada com Sweets.

Brennan lambeu os dedos deliciando as últimas gotas de sangue. Fez uma nota mental de buscar por pessoas do tipo sanguíneo -O, deveriam ser mais saborosas. Puxou o corpo seco para uma espécie de churrasqueira improvisava e derramou um tipo de líquido explosivo, posteriormente botou fogo. Observou o corpo queimar até restar apenas cinzas. Respirou fundo, cansada, querendo algum tipo de comida humana para acabar com o tédio. Recolheu as cinzas e pôs num pote. Na sua próxima viagem ao litoral, as jogaria ao mar. Consultou o relógio. Chegaria atrasada ao compromisso.

Sweets virara a noite em cima de livros. Mentira que estava com uma gripe repentina para que Daisy, sua namorada, não viesse para sua casa. Fora a primeira mentira. Não adiantava ficar encolhido no canto do escritório, tinha que achar uma solução. Achar uma lógica no comportamento de Brennan e Booth parecia sua prioridade, porém, o desejo por sangue que os dois têm, sendo diferentes, o intrigava. Por que ela tinha desejo por sangue de pessoas próximas a ela e ele por pessoas desconhecidas? Por que os dois não gostavam do sangue de Sweets? Por que os dois sentiam-se seguros apenas um com o outro, onde tem uma atração pelo sangue, mas ao mesmo tempo algo os diz para proteger um ao outro? Essa última questão era a mais simples, qualquer leigo poderia responder. Os dois se amavam, apesar, todos sabiam disso.

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Sweets olhou para o relógio de parede e depois para a janela para ter certeza que o relógio não estava errado. 8h30. O sol já saíra timidamente. Seus vampiros logo chegariam.

Brennan levantou a mão para bater na porta do apartamento de Booth. Suspirou e abaixou-se, pegando a chave escondida em uma fresta ao lado da porta. Girou a chave na fechadura e abriu a porta. Booth não estava à vista.

- Booth? – Deu alguns passos – Parker?

- Hey, Bones! Aqui! – Booth a chamou, ele estava no quarto.

- Onde está Parker? – Ela parou na porta enquanto ele apertava o cinto. – Pensei que era seu final de semana com ele...

- Deixei com Rebecca... – Ele sentou na cama e olhou através da janela – Ele ficou tão triste... Não posso fazer isso novamente.

- Não tens escolha, é o melhor para ele...

- Já conversamos sobre isso.

- E você ainda está sendo teimoso!

- E você não está sendo? – Booth se levanta e veste uma camisa – E o assassinato? Você não deveria estar lá junto com os squints?

- Você não está trabalhando nesse homicídio.

- O FBI trabalha com o Jeffesonian. – Booth coloca os sapatos – Você trabalha para o Jeffesonian.

- E você para o FBI.

- Sim, e eu para o FBI – Booth andou até Brennan com toda a calma que sua recém alimentação lhe proporcionou – Se o FBI manda eu não trabalhar nesse homicídio, eu devo que obedecer. E se o Jeffersonian manda você trabalhar, você deve obedecer.

- Ninguém me mandou fazer nada.

- Porque ninguém precisa te lembrar que és a melhor de lá.

- Você está insinuando que eu deva ir ao Jeffersonian ao invés de ajudar Sweets?

- Não.

- Pois pareceu...

- Não vamos brigar, uh? Sweets nos espera.

- Por que você sempre foge?

- Bones, eu fui praticamente demitido do FBI. Você está querendo que eu deixe meu filho. Eu matei um cara hoje, e ah! Eu sou um vampiro!

- Não bote a culpa no que nós somos!

- Essa é a culpa! Eu não quero ser essa porcaria de ser! Eu nem quero estar vivo okay? Ah, e mais um motivo para eu ficar nervoso, eu-não-posso-morrer!

- Okay, certo.

- Espere. – Booth parou próximo à porta enquanto ela ia para o corredor. – Você não concorda comigo. Digo, geralmente.

- Então deverias valorizar meu ato de placa branca.

- Bandeira branca.

- Isso.

- Definitivamente não. – Disse Booth.

- Fora de cogitação – Concordou Brennan – Eu não vou sair do Jeffersonian. Eu deveria estar lá agora, para falar a verdade.

- Eu quero apenas ajudar – Sweets entregou café para os dois – E Booth, por mais que você me force, não posso fazer mais nada. Recebi um fax hoje pedindo para eu comunicar seu afastamento do FBI.

- Como? Afastado do FBI? Não apenas de trabalhar com a Bones?

- Lamento. – Sweets entregou uma cópia do fax para Booth – Mas vamos analisar novamente. Agente Booth não poderá trabalhar com outras pessoas, pelo menos até encontrarmos um nexo para o fato de não ter sede pelo meu sangue. E Dra. Brennan, você não consegue ficar no Jeffersonian nem por quinze minutos sem ver alguém que conheça.

- Se qualquer um deles viesse agora, na minha frente, eu não os atacaria. Estou sem sede.

- Vocês estão me dizendo... – Sweets afundou na poltrona – Que se... alimentaram antes de vir?

Booth e Brennan se entreolharam.

- Ou vocês se afastam por bem, ou vou ser obrigado a fazer isso.

- Pensei que queria nos ajudar! – Brennan pareceu estar muito irritada – Não vou sair!

- Hey Bones, me escuta. – Booth se virou para ela num dos momentos em que Lance Sweets é totalmente ignorado – Eu sei é difícil entender, mas por favor... Não somos apenas nós. É Angela. É Camille. É Parker. Ou mesmo um atendente do Royal Diner que muda a cada semana. Talvez não precise deixar tudo e correr para a Groelândia ou qualquer lugar estranho. Eu também não vou deixar Parker. Não sem antes prepará-lo de algum modo.

- Eu não sei o que isso significa...

- O que Booth quer dizer – Interferiu Sweets – é que você deve trabalhar nesse caso e depois sair. Vá preparando as pessoas.

- Por que eu tenho que preparar as pessoas e Booth não? Ele vai sair direto do FBI.

- Um; a escolha não foi minha. Dois; o que me prende não é com o FBI. Três; eu tenho um filho!

- Os itens dois e três são praticamente os mesmos.

- Bones, não complica. Você quer ou não preparar as pessoas?

- Não! Eu não vou sair do Jeffersonian.

- Quer saber? – Booth se levanta – Faça o que quiser. Eu estou fora do FBI e pretendo nunca mais pisar do Jeffersonian. E você Sweets, não sou mais seu problema.

Brennan queria impedi-lo de sair, mas estava surpresa de mais para fazer isso. Booth não olhou para trás. Por alguns dias Brennan pensou que ele a amava. Mas não. A deixou. Ele tinha prometido não abandoná-la. A antropóloga se levantou e jogou sua caneca de café na porta por onde Booth tinha saído.

- Dra Brennan!

- Ele me deixou! Como todos fizeram! Como você vai fazer!

- Acalme-se Dra. Brennan. Isso é psicologia reversa!

- Uma tentativa!

- Realmente, uma péssima psicologia reversa. Agora sente-se. – Sweets esperou ela se sentar para recomeçar a fala – Acredite em mim quando digo que esse não é o real objetivo de Booth. Ele permaneceu por anos reprimindo o sentimento. Ou pior, sendo ignorado.

- Então a culpa é minha?

- Por Deus, Dra. Brennan!

- Deus é...

- Eu sei. Tu não acreditas. Quer saber o que tens que fazer? Quer a solução? Eu te digo a solução. Assegure-se que está bem alimentada, vá ao Jeffersonian e trabalhe no caso. Eu também vou ajudar. Prepare o pessoal para sua saída. Em algumas horas Booth estará atrás de você.

Drª Brennan ainda não aceitara o fato que teria de sair do Jeffersonian. A saída de Booth da casa de Sweets daquele modo ainda ocupava grande parte de seus pensamentos. Ele estava errado em deixá-la. Em momentos como esses, um precisava do outro. Ela odiava admitir, mas precisava dele. Precisava dele como uma molécula de oxigênio precisava de duas de hidrogênio para haver água. Mas se ela precisa tanto dele, por que reluta em sair do Jeffersonian?

- Temperance!

O chamado de Sully a fez despertar. Acabara de entrar no laboratório, estavam todos ali. Menos Booth.

- Onde está Booth – Ela pergunta.

Silêncio. Ninguém precisava responder. Sully parecia nervoso enquanto botava e tirava as mãos dos bolsos. Brennan olhou um por um. Drª. Saroyan, a Cam. Sentiria a falta dela. Ela conquistara seu respeito com honra, era a chefe de Brennan e merecia esse cargo. Hodgins. Eficiência em pessoa. Se ela acreditasse em almas e se estas tivessem cores, a de Jack Hodgins seria azul. Não sabia o motivo, mas seria azul. Ao lado dele, Angela. Como sentiria falta de Angela! Algo agora lhe dizia, com os mesmos princípios de teoria elaborada sobre Hodgins, que Angela sempre fora a única inteligente de toda a equipe. Seus olhos chegaram a Wendell e com ele vieram flash de todos seus assistentes, permanecendo no fim a imagem de Zack Addy. Talvez o julgassem mal ao o chamarem de louco. Ele não fizera nada pior que Brennan ou Booth. Ah, Booth!

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Brennan começou a caminhar para sua sala e Sully a acompanhou. Como ele tinha sorte de ela não estar com sede...

- Hey, Temperance, espere!

- Drª Brennan. – Corrigiu ela sentando em sua cadeira atrás da mesa. – Já solucionou o caso?

- Não... Onde estavas?

- Problema meu. Precisam de mim?

- Mas é obvio! – Sully deu alguns passos em direção à mesa – Seja legal comigo, okay? Seremos parceiros!

- Não, não seremos. – Brennan desviou o olhar por um segundo da tela do computador e direcionou a Sully – No que precisam de mim?

- O loirinho dos ossos, eu acho...

Brennan o ignorou novamente e saiu da sala.

- Eu sabia! Eu sempre soube! Vocês sempre estiveram juntos!

- Não, Rebecca, eu e ela éramos apenas parceiros...

- E agora vão fugir?

- Você está realmente preocupada com o que eu faço da minha vida particular?

- Parker chegou falando que sua namorada brigou com ele e depois brigou com você. Então você o deixa com uma funcionária do laboratório e depois de muito tempo aparece lá só para trazê-lo embora! Acha que ele esperava esse tipo de sábado com o pai?

- Bones não brigou com ele, ela só disse que ele não poderia entrar no laboratório. Então tivemos um homicídio e eu o deixei com Angela, que é mais do que uma simples funcionaria do Jeffersonian. Então quando eu pude, o trouxe devolta.

- E o fato dela brigar com você?

- Foi só uma briguinha. Já nos entendemos.

- E onde está ela quando você vem me dizer que vai abandonar seu filho?

- Tivemos outra briguinha. E tem o homicídio...

- E por que não está com ela trabalhando?

- Bem, tem outra coisa que eu vim dizer...

- Ah! Então além de que você vai fugir com a namorada e abandonar o filho, tem outra bomba?!

- Eu não vou fugir, Rebecca!

- Okay Seeley, pula essa parte. O que é agora?

- Fui afastado do FBI.

Silêncio.

Rebecca não guardava nenhuma mágoa de Booth. Na realidade, guardava nada dele, apenas o filho. Se não fosse por Parker, nem mais veria Seeley. E era exclusivamente por Parker que agora brigava com o ex-FBI. Parker amava muito o pai e se Booth for realmente viajar por um tempo indeterminado com a antropóloga, Parker se sentiria abandonado. A saída do FBI significava que ele não precisaria voltar.

- E ela?

- Ela não é do FBI.

- Sim, mas ela continuará do trabalho?

- Estamos ainda vendo isso... Mas ela sairá do Jeffersonian mais cedo ou mais tarde.

- Os ossos estão prontos, Drª Brennan.

- Está analisando?

- Sim, Drª Brennan.

- Mande para mim as imagens.

- Não queres examinar os ossos pessoalmente?

- Confio em sua habilidade.

- Mas Drª Brennan, sou apenas o estagiário.

- Mas quando eu sair do Jeffersonian, terá que fazer isso sem mim.

- Do que estás falando?

- Mande-os para mim, não esqueça.

Era um momento complicado. Talvez devesse ter começado por seu avô e não por seu filho. Parker estava visivelmente chateado com o pai. Booth pensou na possibilidade de deixar para outro dia essa conversa. Mas seria pior. Agora ele sofreria tudo de uma vez.

- Parker... Eu estou com alguns problemas e vou ter que viajar para resolvê-los...

- É com ela?

- Sim, é com a Drª Brennan. Mas não posso ficar. Você consegue entender isso?

- Você vai voltar?

- Sim.

Não era a primeira vez que ele mentira para o filho.

Angela e Hodgins. Seria mais fácil se fosse os dois de uma vez. Angela havia reconstruído a cena do crime com base nas fraturas analisadas por Wendell e com as evidências selecionas por Hodgins e o resto da equipe.

- Excelente Angela. E Hodgins, claro.

- Er... E a investigação?

- Nada. Sully está tentando me ligar, mas eu não estou atendendo.

- Como?

A porta se abre. Brennan esperava ver Booth, o dia já estava acabando e ele não tinha aparecido. Era Cam.

- Dr Hodgins? Tens um minuto?

- Claro.

Os dois saíram. Angela olhou a amiga com certa preocupação. Talvez Brennan não precisasse falar nada. Mas para uma compreensão absoluta, teria que falar.

- Em breve eu...

- Não precisa falar, querida.

- Mas é evidente...

- Evidente é a situação. Você e Booth. Tens certeza do que quer?

- Tenho. – Respondeu Brennan depois de um tempo – Mas não sei se o Booth...

- Booth te ama. Aliás, muitas mulheres gostariam de esta em seu lugar.

- Booth?!

- Que foi Sweets?

- Onde você está?

- Em um elevador, por quê?

- É que a Drª Brennan...

- Ela já decidiu sair Jeffersonian?

- Sim, mas...

- Foi mais fácil do que eu pensava – Booth saiu do elevador indo para o estacionamento – Nem vou precisar ir ao Jeffersonian.

- Ela está com MUITA raiva de você. Amor e ódio na Drª Brennan é algo próximo de mais.Você pode perdê-la.

- Eu dou mais valor à sua psicologia que a Bones, mas eu sei o que estou fazendo.

- E o que você vai fazer?

- Vou fazer uma surpresinha para ela...