Charqueadas

Fritz parou o carro na frente da casa. Desligou o motor e suspirou longamente. Não tinha vontade de encarar o filho. O loirinho tentava não chorar mais. Não acreditava na reação do pai.

Apesar do alemão possuir todos os motivos para ser considerado um ogro, ele era sempre gentil e nunca havia tocado em Felipe com a intenção de machucá-lo. O loirinho nunca tinha lhe dado motivo para isso.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

Felipe ia abrir a porta do carro, quando escutou o barulho da tranca. Continuou olhando para a janela.

-Me deixa sair. –Disse Lipe tentando não mostrar tristeza na voz.

-Ele não ti merece filho. –Disse Fritz. –Nenhum deles merece.

-Não quero falar sobre isso. Tu não manda no meu coração.

-O Balthazar é um canalha, todos os Balthazar são!

-O que fizeram pra ti?

-Pra mim não. –O loiro suspirou. –Pra sua tia.

-A mãe do Lucas?

-Não. A minha irmã que morreu. Tu sabe que éramos três. Os trigêmeos de Porto Alegre. Conhecemos o Balthazar e ele acabou destruindo a Angelica. Ela se apaixonou e ele a usou. Sabe o que vez depois? A traiu e largou ela.

-A Tia Angelica morreu de depressão.

-Ela nunca me disse se ainda o amava. Mas eu sabia. Do mesmo jeito que soube quando tu encontrou o Johnnie.

-Pai, eu não sabia que ele era filho do Balthazar. Eu achei que nunca mais ia ver ele de novo.

-Se afasta dele Lipe. Não vale a pena. Pessoas como ele, destroem corações por diversão.

Fritz destrancou a porta do filho. O menino apenas suspirou, pegou sua mochila e foi para dentro de casa. Nem falou com Hans, apenas entrou no quarto e se trancou. Deitou na cama e sentiu um aperto no peito.

O que ele podia fazer? Estava apaixonado! Precisava vê-lo.

Sem perceber, suspirou e pegou no sono.

Hospital

Duas Semanas Depois

-Dói quando levanta? –Perguntou o médico levantando o braço esquerdo de Johnnie.

-Um pouco. Parece que tá puxando a pele... –Disse o moreno.

-Acho que lhe darei alta daqui uns dois dias. –Falou o doutor anotando algo. –Vai ficar mais dois meses de repouso, campeão. Por falar nisso, onde está o seu amigo loiro?

-Eu também não sei. Acho que ele tinha algumas coisas pra resolver. Por isso não veio mais aqui.

-Que pena, era um rapaz muito gentil. As enfermeiras estavam de olho nele. Bom, te deixarei descansando.

O médico saiu do quarto. Johnnie deitou na cama e sentiu a depressão deixar seu corpo pesado. Não tinha mais vontade de ligar em vão para o loiro, mandar mensagem ou rezar para que ele desse um sinal de vida.

Estava muito preocupado. Nem comia direito só pensando no que poderia ter acontecido com o seu amor para que ele não desse nem sinal de existência! Nossa, estava pensando nele como ‘amor’?

Nem seu pai o visitava. Johnnie foi completamente abandonado no hospital. Fechou os olhos tentando pensar em algo para se distrair, quando escutou a porta se abrindo e revelando Nando com um jarro de flores.

-Nando! –Disse o moreno se sentando.

-Saudade de mim? –Perguntou o menino colocando o jarro na cômoda ao lado da cama.

-O que aconteceu com o Lipe?

-‘Ah Nando, eu estava morrendo de saudades!’ –O moreno mais baixo falou imitando o maior. –O Lipe brigou com o Fritz.

-O que aconteceu?

-O Fritz descobriu de vocês. –Nando sentou na cama. –Ele ficou uma fera.

-Mas que merda!

-É. –Ele suspirou. –Ele tem muita coisa contra você. Tu tem uma fama terrível, sabia?

-Eu sei.

-Sabe o que fazer não é?

-Sei?

-Claro que sim! Mate o dragão, salve a princesa e a beije, liberando-a da maldição!

-Como?

-Sobreviva, ponha sua melhor calça e o peça em namoro! Peça para o Fritz.

-ENLUQUECEU? BEBEU?

-Não! Só to dizendo que tu deveria ter mais jogo de corpo com ele. O cara é um ogro, mas tem coração e não vai agüentar ver que existe um sentimento verdadeiro de ambos! Ele e a Audrey, mãe do Lipe, sofreram bastante pra ficarem juntos. Ele vai entender.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

-Me dê mais alguns dias, eu vou sair do hospital e...

-Nada disso! Fique aí. Recupere-se por completo. Precisará de todas as forças para vencer esse dragão.

-Mas serão dois meses!

-Que seja um ano! Só melhore. –O moreno menor se levantou e sorriu. –Algum recado para o loirinho? Eu vou para lá amanhã.

-Diga pra ele... –Johnnie suspirou. –Que eu irei salvá-lo.

-Não se preocupe príncipe! Estou a caminho! E enquanto estarei fora, o humilde jardineiro de bonsai irá lhe preparar.

-Nando... Brigado.

-Não agradeça ainda. Não tá do lado dele. Quando estiver... Me agradeça.

Lá se foi o moreno porta a fora. Mesmo com poucas palavras trocadas, a esperança de Johnnie se reacendia. Já podia ver o sol brilhando um pouco mais forte e a luz que o seu loirinho carregava iluminar seu corpo.

Ele iria mostrar que a sua fama de pegador era passado! Havia mudado com Lipe. E muito. Antes de vê-lo, nem pensava em ficar com homens, mesmo já tendo recebido propostas.

Para o moreno, qualquer mulher que caísse no seu charme era lucro e nunca havia perdido uma sequer! No evento que conheceu Lipe, já havia três na sua volta. Ele iria marcar uma hora para cada uma.

Desistiu.

Perdeu a sanidade naqueles olhos verdes.

Estava disposto a abandonar tudo e até arrumar um emprego descente para ficar com o loiro. Cortaria o cabelo, apagaria as tatuagens, tudo que Fritz quissesse! Só queria ficar com o loirinho.

Charqueadas – Dia seguinte

Nas duas semanas que se sucederam a discussão com seu pai, Felipe se dedicou apenas aos estudos e a cuidar de Hans. Não falou com o pai e na frente das irmãs, fingiu estar apenas um pouco preocupado com as notas.

Samira percebeu que o loiro estava mentindo. Perguntou várias vezes para ele, o prensando, mas nada além de notas saía escapava de seus lábios. Isso estava deixando-o muito deprimido, não queria mentir.

Sua mãe só voltaria em dois meses e não agüentava mais de saudade dela. Seria bem mais fácil voltar a falar com o pai se ela estivesse ali. Poxa, como tem saudades suas! A casa fica muito mais alegre com ela ali.

Alguém estava batendo na porta. O loirinho foi atender o mais rápido possível, afinal Hans dormia na sala.

Quando a abriu, sentiu os braços de Nando no seu pescoço. O moreno o girou e quase que ambos caíram no chão da sala. Não falaram nada, apenas entraram, fecharam a porta e foram para o quarto do loiro.

O menor deitou a cabeça no colo do outro e deixou as lágrimas reprimidas daquelas semanas escorrerem. Ficou recebendo o carinho do amigo, que distribuía pequenos beijos e mexia nas madeixas loiras.

-Vai ficar tudo bem Lipe. –Disse Nando. –O seu príncipe mandou dizer.... Que vai te salvar.

-Peça pra ele vir logo. –Fungou Lipe.

-Calma, princesa! –Falou o moreno limpando as lágrimas. –Ele precisa estar pronto! Kazu-chan vai ajudá-lo a treinar, ficar forte. Quando ele retirar a espada da pedra, verá que ele derrotará tudo...

-Eu sou quase adulto Nando, não acredito em contos de fada.

-Acredite neles! Está vivendo um...

Felipe suspirou.

Só pensou em Johnnie naquele hospital. Ele não poderia fazer nada para mudar Fritz, o pai era muito teimoso.

Ficou com poucas esperanças.

Mas mesmo assim, rezou baixinho.

-Por favor Johnnie... –Sussurrou tão baixo que nem Nando havia escutado. –Me salve. –Corou um pouco. –Eu te amo.