Não Sei mais Viver sem Você

Natal (pouco) encantado


Capítulo 1 – Natal (pouco) encantado

Sorri triste perante a árvore de Natal. Sob ela, algo recheava a alegria que as luzes já não pagavam. Não havia dor se não pensasse nos três dolorosos anos que tinham passado…

Mas, fazer o quê… ele partira levando meu amor atrás.

ELE SABIA QUE DOÍA!

Ele sabia… o que me ia fazer sofrer…

...

Já o esperava no quarto depois do ressoado grito de minha mãe, abriu a porta, mirei o corpo que desde os meus 14 anos me encantava – e ainda tinha esse efeito. Tinha acabado toda a guerra e podia ser finalmente a rapariga normal a qual sonhava ser há quase 3 anos. Sim, é, têm razão - tinha Cristal Tóquio pela frente, mas essa realização ainda ia longe… Ou talvez não tanto pelas descobertas feitas naquela manhã, três dias antes do Natal.

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- Mamo-chan, - Sorri e saltei-lhe nos braços como uma criança feliz – que tal foi seu último dia?

- Bem… - Parecia tenso, os olhos não brilhavam e, sobretudo, não me contemplavam – tenho de falar com você Usako.

- Ótimo… também tenho algo para lhe dizer.

Sentou-se na ponta da cama parecendo carregar uma tonelada em cima dos ombros. Fez um gesto a eu me sentar. No momento, senti uma leve tontura por pensar o que estaria para vir… nada passava pela louca da minha mente. Esse tempo depois de o ter recuperado da Galáxia havia sido magnífico.

Havia paz, nesse momento, lá fora, não ali.

- Sabe que eu a amo imenso e não quero mais perdê-la.

Sorri de coração aos saltos, e ajustei o corpo ao assento enquanto permanecia um curto silêncio.

- Vou dizer tudo de uma vez. Vai custar menos. Passa-se que me convidaram de novo para Harvard, e você sabe que eu perdi uma chance pelo que se passou… ora, surgiu de novo uma oportunidade. Me comunicaram por mail que gostariam de me receber. – O coração estava a sair do sítio – Usa, me custa como você nem sonha, mas eu quero aceitar. – Moveu-se lentamente para o esófago. – Eu a amo, quero tudo com você, mas também quero realizar esse sonho, com você a meu lado. Mesmo que você esteja aqui, a levo sempre comigo… Eu quero ir, e só lhe peço compreensão. – Pulou, finalmente, pela boca.

Depois…

Silêncio.

E olhos escuros à espera de… resposta? Ele mesmo disse que só queria compreensão, não autorização. Tinha passado demasiado na época da Galáxia para isto… Não ia querer repetir a solidão e o vazio imenso de não o ter perto.

A maneira de ele falar… caiu sobre mim como pedras no asfalto. Nada doía mais, o coração parou de tanto bater, a minha mente estava limpa. E então lágrimas surgiram.

Se viessem directas do meu coração, seriam de sangue puro. Estremeci, e não aguentei o grito de dor, que parecia exagerado mas não o era no momento.

Na mão, enrolei o envelope – seu presente de Natal – amachucando bem, não tão machucado quanto meu interior que ia decaindo aos meus pés.

Olhei-o sob os olhos lacrimejados, e ele me olhava assustado. – Que se passa Usagi? – Era a única coisa que soava da sua boca.

- Que se passa? – Raramente perdia o controlo na voz - Passa que você me quer fazer sofrer de novo… não… dessa vez não permito. Foi esse o seu presente de Natal? Pois me conseguiu surpreender sem dúvida. Agora pode ir.

- Eu compreendo a reacção e espero que daqui a uns dias você compreenda, eu sei que me ama tanto quanto eu amo você, por isso, sei que tem a capacidade de me… já agora… você também tinha algo para me dizer.

- Capacidade de quê? – A voz saía rouca de tão fortes o grito anterior – Ah, sofrer… é minha vida desde os meus 14… agora continuo a ter de sofrer. Vá, siga seu sonho, de certo é maior que o meu.

- Usako, não há ninguém com sonhos mais belos que você… por favor me diga o que…

- CHEGA! Saia e nunca mais me apareça na frente.

- Mas Usagi...

- SAI!

Querem saber? Saiu. Nem minhas palavras fizeram ricochete. Apercebi-me que depois de anos lutando por ele, tinha de passar a vida a repeti-lo. Prova de amor? Não. Havia era cada vez mais um laco de compaixão.

Tentou ligar, várias vezes, ser recebido em minha casa, várias vezes, e despedir-se, uma vez.

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Encontrei-o na rua uma última vez, 2 semanas após o desacato. Cabisbaixo, ia olhando o chão como se nada mais existisse. Pareceu então sentir-me e me mirou.

- Usako… - abraçou-me e eu o deixei, sentia a falta dele. – Por favor, tudo isto é loucura.

- Não é. – Tentei contradizer mesmo sabendo que mentia. – Se quer ir, vá.

O brilho que tinha existido momentos antes, desapareceu.

Me beijou a face e sussurrou um "adeus".

Não houvera piores presentes de Natal ou mesmo Aniversário nos três anos seguintes.

...

Tinha agora 19 anos e a vida tinha-me pregado breves partidas…

Nessa manhã de Véspera de Natal, após uma limpeza geral pela casa onde vivia fazia quatro meses, e as últimas arrumações de Natal, encontrei… no gavetão da secretária do meu quarto da casa dos meus pais, há muito ignorada num canto, um envelope amachucado.

Após fitar a árvore de Natal e o além mais dos presentes sobre ela, peguei no envelope que tinha abandonado lá pela manhã por saber o que era…

O abri lentamente, com lágrimas querendo sair… Lá estava.

TSUKINO, Usagi.

E um pouco mais abaixo: Teste de Gravidez – Positivo.

Era o seu presente… e ele me preferiu dar aquele.

Sob a árvore estava a essência desses anos todos de sofrimento, brincando com as fitas dos presentes que sabia que não podia abrir.

- Mamãe, - despertei dos meus pensamentos com um sorriso sincero – falta muito para a meia noite?

- Sabe que mais Rini? É a terceira vez que me pergunta isso em 10 minutos, por isso… - andei até ela, a olhei e sorri, preparando as mãos como garras de gato – Ataque de Cosquinha!

Nada mais interessava. Era a noite dela.

Não havia remorsos, nem arrependimentos. Não existia dor, pular do coração em tristeza – apenas alegria em estado puro.

Ele tinha feito sua escolha. E eu fiz a minha escolha perfeita.

Desci rapidamente a escadaria do prédio com Rini no colo, prontas para mais uma noite de Natal na doce e acolhedora casa de meus pais… Rini fingia miar como o gato que vira passar na rua, enquanto a sentava na cadeirinha do carro.

Fechei a porta e dei a volta ao simples carro que me havia permitido comprar após um trabalho de férias. Coloquei a chave na ignição e quando olhei para a frente, pensei estar sonhando através dos sons animalescos de Rini.

Ali estava ele… Com o intenso olhar azul-escuro.

Não… havia demorado muito a esquecê-lo… ele não podia voltar, não agora.

Liguei o carro rapidamente e passei por ele como se de um obstáculo se tratasse. Guiei rapidamente até casa.

Mamãe pegou Rini… e eu me dirigi ao quarto ofegante. Logo Shingo bateu na porta com o telefone na mão. É para você.

- Usako… não fuja de novo. Não sei mais viver sem você.

Continua.