O Cometa

8. Bob Esponja Calça-Quadrada.


O Cometa:

8. Bob Esponja Calça-Quadrada!

-Ah, cara! Que sem graça. - Jacob resmungava enquanto víamos, através da tela da pequena TV,a menina morena chorar abraçada ao namorado.

Depois que saí do banheiro, Jake foi tomar banho enquanto Rachel preparava algo para comermos. Quando ele terminouo banho, nós colocamos colchões no chão da sala de estar da casa deles e agora os três estávamos deitados assistindo American Idol. Eu estava deitada entre os dois, tomando um chá que Rachel havia feito a pedido de Jacob para que eu não ficasse doente por causa da chuva. Ele não parava de reclamar porque a Anne tinha sido eliminada, parecia uma criança.

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-Você estava torcendo para ela? - perguntei enquanto mordiscava um muffin. Jacob já tinha comido uns quinze.

-Claro né. - ele falou pondo o décimo sexto muffin na boca. - Ela era a mais talentosa.

-Não mesmo! - falei - Discordo plenamente! Eu estou torcendo pela Jessica, ela canta muito melhor.

-É claro que não! - ele falou enquanto traçava seu... hum, acho que vigésimo bolinho. - A Anne é tão novinha, e estava competindo com cantores bem mais experientes.

-Isso mesmo. - eu disse - Ela ainda não estava no nível da competição. A Jessica é bem melhor, além de ter muita personalidade.

Jacob serviu mais refrigerante em meu copo antes de tomar o resto que tinha na garrafa e retrucou:

-Só porque ela se veste como um homem não significa que ela tenha mais personalidade.

Senti que minha boca foi-se abrindo em sinal de perplexidade.

-Ela não se veste como um homem, ela só é original! - falei um pouco mais alto dessa vez.

Jacob fez menção de responder, mas Rachel foi mais rápida, interrompendo nossa discussão infantil:

-Eu não estava torcendo por nenhuma das duas. - falou sorrindo - Eu queria que o bonitão do Casey ganhasse.

Jacob bufou e eu sorri.

-É, até que você tem razão Rach. - falei - Seria muito legal se o Casey ganhasse.

Jacob nos olhou indignado e falou com censura na voz.

-Vocês duas estão muito assanhadinhas para o meu gosto!

Rachel e eu caímos na gargalhada, ele só ficou mais emburrado.

-Deixa só o Paul saber disso maninha. - falou para Rachel - Sentimental como ele ficou depois que te conheceu, é bem capaz de ele começar a chorar quando ver o que você falou. Haha.

-Você não faria isso, Jacob Black. - ela falou apontando o dedo para ele, por cima de mim.

Eu fiquei até com medo da cara que ela fez, é sério. Quero dizer, eu estava literalmente na linha de fogo, e se Rachel quisesse espancar Jacob, com certeza respingaria alguns golpes para mim.

-Você sabe que eu não tenho escolha Rach, não posso selecionar meus pensamentos. - Jacob respondeu com um sorriso sacana - Assim que nós dois estivermos transformados ele vai saber, mesmo se eu não quisesse, ele saberia.

Rachel levantou a mão para acertar um soco em Jacob, mas antes que ela pudesse fazê-lo, eu me sentei rapidamente, atrapalhando a sua visão. Ela me olhou confusa, mas eu não me expliquei. Apenas me virei para Jacob e perguntei meio temerosa:

-O que você quer dizer com ‘não ter escolha’ ou ‘não poder selecionar seus pensamentos’?

Jacob me olhou com uma cara de “eu já te disse isso”, e realmente:

-Ness, eu já te expliquei isso... - falou devagar, como se eu tivesse algum problema mental - Mentes conectadas, lembra?

Eu fiquei em silêncio por um instante. Esses lobos eram mesmo muito incríveis.

-Sim, eu lembro. - falei revirando os olhos - Mas quando você me contou a lenda eu pensei que só os antigos espíritos guerreiros podiam fazer isso.

-Bom, então eu acho que não expliquei direito essa parte. - falou sorrindo, mas depois assumiu uma postura diferente, séria. - Quando estamos transformados, nossas mentes ficam todas conectadas, como se fôssemos apenas um. É uma droga, se você quer saber, mas é muito útil.

Ele se levantou do colchão e caminhou até a janela, enquanto eu não tinha forças nem para fechar a boca. Nossa, pelo visto nós ainda tínhamos muito para explicar um ao outro. Ele já havia me dito tanta coisa, e eu ainda não havia tido coragem de lhe contar o meu segredo.

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-A chuva não dá trégua! - falou olhando através da vidraça.

-Isso é muito ruim... - falei. Rachel e Jacob me olharam. - É que Alice deve estar preocupada, já estamos no final da tarde. - expliquei.

-Não se preocupe Ness, você pode ligar para ela se quiser. - Rachel falou, indicando o telefone com a cabeça.

-Isso seria uma boa. - falei e fui até a estante, tirei o fone do gancho e respirei fundo. Alice já devia estar tendo um ataque epilético em casa.

Quando ela atendeu, eu fiquei uns cinco minutos ouvindo-a falar que estava muito aliviada por eu estar bem, que ela sabia que o Jake me protegeria, que ela estava feliz porque eu não voltaria hoje para Nova York, e blábláblá...

Depois de todo o falatório, eu finalmente consegui dizer alguma coisa. Pedi para ela me buscar, mas Jacob interrompeu dizendo que me levaria. Então eu falei a ela que iríamos para lá assim que a chuva parasse.

Quando desliguei o telefone, vi que Rachel já não estava mais na sala. Onde ela tinha ido?

Jacob percebeu o ponto de interrogação em meu rosto.

-O Paul veio buscá-la. - falou mal-humorado -Eu acho que o Billy tinha que dar um jeito nisso, a Rachel fica mais na casa daquele imbecil do que aqui.

Eu ri e cheguei mais perto dele.

-Eu acho que você está com ciúmes! - cantarolei sorrindo.

Ele me olhou abobalhado por um minuto, depois sorriu e me deu um abraço de urso. Acho que ele não tinha muita noção de sua força.

-Jake... - falei me debatendo - Eu... preciso... res-pirar.

Ele riu e me soltou.

-Desculpe. - falou - É que eu não consigo me controlar quando você faz essas coisas, é tão adorável.

Eu corei.

-E fica ainda mais linda quando está assim vermelha. - disse me lançando aquele habitual olhar venerativo.

Eu já não tinha mais controle sobre os meus atos. Jacob era tão perfeito! Me joguei em seus braços e afundei o rosto em seu peito, sentindo o seu cheiro absurdamente maravilhoso. Ele prendeu os braços em torno da minha cintura e eu ergui a cabeça, encontrando seu olhar e mergulhando naquelas duas piscinas negras. Eu sabia o que viria a seguir. Eu iria beijá-lo.

Como Jacob era muito mais alto do que eu, ele teve que inclinar o corpo para frente. Eu fiquei na ponta dos pés e passei minhas mãos em torno de seu pescoço. Seu hálito quente soprava em meu rosto e eu não saberia dizer qual de nós dois estava com a respiração mais descompassada. Eu já quase podia sentir seu gosto em minha boca quando um barulho na porta me fez saltar para longe dele.

Jacob fez um som engraçado, eu não sabia se ele estava bufando ou rosnando. Acho que era as duas coisas ao mesmo tempo, e pela sua expressão eu deduzi que ele estava muito irritado. E frustrado.

-Oi gente. - Seth falou enquanto entrava na pequena sala da casa de Jake.

Eu sorri para ele e abaixei a cabeça. Que vergonha!

-Seth. - Jacob falou, e eu me assustei com seu tom de voz. Ele tremia levemente. - É bom que você tenha um bom, ou melhor, um ótimo motivo para estar aqui agora, caso contrário você vai ter que aprender a correr com três patas.

Eu arregalei os olhos, ele estava realmente irritado. Seth deu dois passos para trás.

-Hei, calma aí! - falou com as mãos erguidas, as palmas viradas para frente. - Eu só vim aqui porque o Billy mandou avisar que talvez vá dormir lá em casa, não tem como ele vir para cá com essa chuva.

Jacob fechou os olhos e respirou fundo para se acalmar.

-Ele não poderia ter telefonado? - perguntou por fim.

-Poderia, mas como eu estou indo para a ronda agora e a sua casa fica no meu caminho, ele me pediu para passar aqui e te avisar. - explicou Seth.

-OK - Jake disse - Recado dado, agora pode ir.

Seth ergueu uma das sobrancelhas e falou:

-Nossa cara, pra quê tanta gentileza? - perguntou, e então pareceu se lembrar de mim ali. Eu quase pude ouvir o estalo em sua cabeça. - Ah, me desculpem... - disse coçando a parte de trás da cabeça.

Jacob praticamente o jogou para fora da casa e fechou a porta rapidamente.

-É sério, o Seth pode até ser gente boa e tal, mas às vezes eu tenho vontade de diminuir a minha matilha, matando-o com as minhas próprias mãos. - falou enquanto voltava para a sala.

Eu não conseguia olhar para ele direito, estava muito constrangida. Ele percebeu.

-Ness? - me chamou e esperou até que eu olhasse em seus olhos - Me desculpe por antes, de verdade. Eu não quero que você se sinta obrigada a corresponder um sentimento só porque eu sou estúpido e impulsivo demais para conseguir me segurar quando estamos perto.

Eu forcei um sorriso, mas ainda estava envergonhada.

-Tudo bem. - falei baixinho - Você não está me obrigando a nada.

Ele sorriu, foi até a TV (que ainda estava ligada) e mudou de canal, colocando em um desenho animado.

-Bob Esponja? - perguntei enquanto me sentava ao seu lado no colchão.

-É claro, não tem coisa mais engraçada. - falou rindo histericamente enquanto víamos o boneco amarelo (que sempre me assustou um pouco, eu confesso) alimentar seu bichinho de estimação com uns dez quilos de comida, para depois sair de casa gritando: “Estou pronto, estou pronto, estou pronto[...]”.

Eu não pude deixar de sorrir com aquilo. Jacob, apesar de todas as responsabilidades que tinha - trabalhava para cobrir as despesas da casa e cuidava de uma matilha de lobisomens adolescentes -, ainda era um menino. Um menino que assistia Bob Esponja e quase fazia xixi na calça de tanto rir.

Olhando assim era difícil de acreditar que ele era um cara sem vergonha. Na minha frente agora estava apenas o Jake. O meu Jake.

Meu Jake. Esse pensamento me causou um arrepio gostoso. Era incrível como a conexão que existia entre nós - conexão essa que Jake se recusava a me explicar antes que eu estivesse ‘pronta’ para ouvir - me induzia a um sentimento de posse com relação a ele. Sim, eu podia sentir. Ele era meu.

Deitei-me em seu peito e fiquei devaneando enquanto ele gargalhava gostosamente e acariciava meus cabelos. Mesmo conhecendo-o há tão pouco tempo, ficar deitada daquela forma com ele não me parecia estranho ou errado. Para mim, ficar perto dele era natural como respirar.

Quando a chuva finalmente parou, Bob Esponja já tinha se tornado o meu desenho favorito.

Ele pegou o controle remoto e desligou a TV. Já estava escuro lá fora, agora devia ser umas seis e meia da tarde. Fiz menção de me levantar, mas ele estreitou seus braços a minha volta e falou baixinho no meu ouvido:

-Só mais um pouquinho Ness, vamos ficar aqui só mais um pouquinho. - falou com a voz arrastada. Ele estava com sono.

Eu sorri e voltei a abraçá-lo. Eu não via problema nenhum em ficar mais um pouco.

Seu cheiro era maravilhoso e calmante. Seu calor sobre-humano era aconchegante. Logo eu senti uma dormência gostosa se apoderar de meu corpo, mas antes que eu pudesse lutar contra, caí em sono profundo.

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Acordei com um delicioso cheiro amadeirado me envolvendo. Seu aroma estava em toda parte, mas ele não estava ao meu lado. Aliás, até onde eu sabia, eu deveria estar deitada no colchão que havíamos posto na sala, porém eu não estava.

Sentei-me rapidamente. Afinal, onde é que eu estava?

Esfreguei os olhos com as costas das mãos e comecei a reparar no ambiente. Era um quarto pequeno e bagunçado. Tinha um guarda-roupa, uma cômoda e um criado mudo com um abajur em cima. No canto tinha um ventilador sobre um banquinho. Eu estava deitada em uma cama de casal que ocupava quase o quarto inteiro, e tive a leve impressão de que a locomoção naquele cômodo não era muito fácil.

Cheirei os lençóis e o travesseiro. Jacob. Eu estava no quarto dele. Na cama dele.

Antes que eu pudesse raciocinar a respeito disso, a porta se abriu. Ele entrou trazendo um copo de achocolatado e um prato com um sanduíche. Sorriu ao ver que eu estava acordada.

-Bom dia, dorminhoca. - falou baixinho - É bom ver que você não ficou doente depois do que aprontou ontem.

Eu sorri de volta, mas então lembrei de uma coisa. Rapidamente escondi-me embaixo do lençol.

-Ness? Está tudo bem? - perguntou puxando o lençol de mim.

Eu puxei de volta.

-Não! - respondi - Eu acabei de acordar Jake, deixa pelo menos eu arrumar o cabelo. Deve estar uma juba.

Ele riu e puxou o lençol novamente. Eu fitei seu rosto, ele não parecia estar achando graça do meu cabelo. Tudo que eu pude ver em seu olhar foi aquilo com o que eu já estava até me acostumando: admiração. Admiração e... amor?

-Você está linda, Ness. Aliás, você é linda, mas disso você já sabia. - falou me olhando como se eu fosse a mais bela paisagem do mundo.

Eu corei. Ah Jacob, assim você me mata garoto!

-Sabe, eu sempre achei que as garotas que coram já estavam em extinção.- falou enquanto acariciava a minha bochecha rubra. - Hoje em dia é muito difícil encontrar uma que seja tímida.

Abaixei a cabeça. Eu sempre odiei essa maldita concentração de sangue em minhas bochechas, que era herança genética da minha mãe. Minhas tias vivem dizendo que isso é o meu charme. Rá, charme! Alice, em particular, adora. Ela diz que é um complemento maravilhoso para a maquiagem. Só ela mesmo, minha madrinha doidinha...

-MEU DEUS! ALICE! - falei pulando da cama.

Comecei a andar de um lado para o outro.

-Eu não dou notícias desde ontem à tarde. Ela vai me matar! - falei nervosa.

Jacob sorriu e me puxou para sentar ao seu lado novamente.

-Calma Ness, não precisa pirar por isso. - falou calmamente. É, definitivamente ele não conhecia Alice. - Ontem à noite eu acordei umas nove horas, mas não tive coragem de te chamar, você não faz ideia de como fica linda dormindo. Então, eu liguei para a casa dos seus avós e expliquei para a sua tia o que tinha acontecido, e ela falou que não via problema nenhum em você dormir aqui, daí eu te trouxe para o meu quarto.

-Ah bom... Então tudo bem, eu acho, hm. - falei com cara de pastel.

-Você sempre dá esses chiliques quando acorda, ou é só quando acorda na minha cama? - perguntou com um sorriso sacana.

-Haha... Engraçadinho! - falei carrancuda. - Aliás, você poderia me explicar o porquê de eu estar na sua cama?

Ele me olhou de um modo estranho.

-Você não achou que eu iria te deixar dormindo no chão a noite inteira, não é? - perguntou incrédulo.

-Ai Jake, e o que isso tem de mais? Nada a ver, eu não sou uma bonequinha de porcelana. O que não é justo é você dormir na sala para mim poder dormir na sua cama. - falei com as mãos na cintura.

Jacob me olhou profundamente, e depois caiu na gargalhada.

-Eu deveria filmar isso, hahahaha, você fazendo birra é impagável! Hahahahaha. - Ele não conseguia parar de rir. Eu tentei me manter séria, mas fracassei vergonhosamente. No final das contas, nós dois já estávamos gargalhando como duas hienas.

Depois da crise de risos, quando a muito custo eu recuperei a seriedade, acabei desabafando algo que realmente me incomodava.

-Você acha que eu sou uma patricinha, dondoca e metida. - acusei apontando o dedo para ele.

Jacob, ao ouvir minhas palavras, ficou sério instantaneamente.

-De onde você tirou essa ideia? - perguntou fitando o meu rosto, provavelmente procurando alguma resposta em minhas expressões.

Eu arrumei minha postura na cama e sentei com as pernas cruzadas, encarei seu olhar.

-Jake, você se coloca a minha frente sempre que vê algo possa me ferir ou me causar medo de alguma forma. Na praia ontem, por exemplo, você me abraçou como se quisesse me proteger da chuva. Ah... também teve aquele dia com a Stacey, quando você viu que ela queria me bater, você assumiu uma postura tão ameaçadora que chegou a me assustar...

-Eu te assustei? - Jacob me interrompeu rapidamente. - Eu sou um idiota mesmo! - Deu um tapa na própria testa, e depois viu o meu olhar assassino. - Oh, desculpe. Eu não queria interromper.

Eu bufei irritada.

-Está vendo? É disso que eu falo! Você me trata como se eu fosse quebrável, ou sei lá. - falei impaciente. - Eu não sou tão frágil assim, Jacob! Quero dizer, eu não sou indestrutível como você, Sr. Lobisomem-todo-poderoso, mas também não sou feita de açúcar!

Ele me olhava atônito.

-Ah, eu acho que dei outro chilique, né? - falei envergonhada.

Jacob chegou mais perto de mim, pegou meu rosto em suas mãos e olhou em meus olhos.

-Ness, você precisa entender que eu não te trato dessa forma porque te acho uma patricinha ou algo do tipo. Não tem nada a ver com isso. - ele disse, depois chegou mais perto do meu ouvido para falar - A questão é que você é importante demais para mim, você não faz ideia. E te ver assim, tão pequena e delicada, me faz querer te proteger do mundo, de tudo. Me faz sentir um ódio mortal por qualquer criatura que já tenha te prejudicado de alguma forma, me faz ter vontade de matar com as minhas próprias mãos qualquer um que já tenha desejado o seu mal. Você realmente não tem noção do quanto é necessária para mim. Eu agradeço a cada novo segundo o fato de você existir. Você pode não ter se dado conta ainda, mas é por você que eu vivo agora. Seus sonhos e desejos impulsionam os meus, as minhas maiores prioridades agora são a sua segurança e felicidade. Você pode pelo menos tentar entender isso?

-Se você me explicasse eu poderia entender. - falei num fio de voz. As palavras dele haviam me deixado sem forças.

-Eu não posso te contar. Não já. - ele falou torturado. -Você se sentiria obrigada a me amar de alguma forma, e isso é inadmissível.

Eu toquei o rosto dele.

Você acha que estaria me obrigando a te amar? Aff... Como se isso fosse necessário!’ - falei através do meu dom.

Jacob deu um pulo e quase caiu da cama. Ele estava com os olhos arregalados e eu quase podia ouvir as batidas de seu coração.

-Você... Você me... Eu... - ele não conseguia concluir sua frase decentemente, então eu decidi ajudá-lo.

-Eu falei com você através da minha mente, transmiti meus pensamentos a você.- falei tentando parecer segura, mas na verdade eu estava morrendo de medo.

Ele me olhou sem esboçar expressão nenhuma por um bom tempo.

-Como isso? - perguntou por fim. O choque foi tão grande que sua voz saiu em um tom até meio frio.

Eu, que já não estava mais aguentando aquela tensão, desabei num choro compulsivo. Ele não ia entender! Eu já deveria ter me preparado para isso.

-Eu não sei! - falei entre soluços - Ninguém sabe o motivo dessa loucura toda.

Eu chorava tanto que acabei caindo de bunda no chão do quarto. Que droga, agora que ele sabe que eu sou uma aberração vai me mandar embora daqui.

As lágrimas jorravam dos meus olhos sem parar e o meu corpo tremia violentamente por conta dos soluços. Eu estava destruída, e fui recolhida do chão pelos braços de alguém igualmente desesperado.

-Ah Nessie, por favor, para de chorar. - ele falou enquanto me colocava em seu colo e me balançava como se faz com os bebês, para me acalmar. - Eu não posso te ver chorar meu anjo, isso é demais para mim, a dor é dilacerante. - falou com a voz entrecortada.

Eu queria me acalmar, mas não conseguia. Jacob estava completamente atordoado, ele já não sabia mais o que fazer para mim parar de chorar.

-Para que esse desespero todo, Ness? Eu não entendo! Pelo amor de Deus pequena, para de chorar! - ele estava tão desesperado com o meu estado que, pude perceber, já estava a ponto de chorar junto comigo.

Eu lutei contra seus braços, queria sair dali o mais depressa possível, mas ele não deixou. Então apenas me sentei mais decentemente em seu colo e fitei seus olhos.

-Você não está sentindo repulsa por mim? - perguntei devagar, controlando as lágrimas. Minha voz estava extremamente rouca.

-Repulsa por você? - perguntou descrente, como se eu tivesse dito o maior absurdo do mundo. - Que tipo de pergunta idiota é essa?

-Repulsa porque eu não sou normal, sou uma coisa esquisita, uma aberração! - falei, o desespero voltando a mim.

Jacob franziu o cenho e me olhou com censura.

-Nunca mais repita isso, Renesmee. Você me ouviu? - falou bravo, me sacudindo levemente pelos ombros. Depois pegou meu rosto em suas mão e disse lentamente: - Nunca mais!

Eu olhei em seus olhos.

-Mas essa é a verdade! - falei.

-Não! - agora ele estava muito bravo. - Você é especial Ness, tem um dom maravilhoso e não tem o direito de se machucar dessa forma por achar que não vai ser aceita.

Ah, ótimo! Agora temos mais um integrante no time de bajuladores da Renesmee.

-Achar que não vou ser aceita? - perguntei com um tom seco - Você tem noção do que as pessoas fariam se descobrissem esse meu “dom” fajuto? Eu iria acabar na maca de uma equipe de cientistas para ser dissecada como um sapo! Um sapo! Ninguém jamais aceitaria. Aliás, eu nem sei o que você está fazendo que ainda não me mandou embora daqui!

Jacob deu uma risada curta e amarga.

-Ah, claro. - ele disse sem emoção nenhuma na voz - Eu deveria mesmo te mandar embora daqui. Eu sou apenas um cara normal que se transforma em um lobo gigante para matar vampiros de vez em quando, nada demais. Pensando bem, você é mesmo esquisita demais para mim. - falou sarcasticamente.

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Antes que você me pergunte: sim, eu havia me esquecido disso, e agora estava com cara de tacho. Eu havia berrado para quem quisesse ouvir que eu era uma aberração, mas não considerei o que ele pensaria disso, já que também tinha seu segredo nada convencional.

-Ah Jake, me desculpe! É sério, eu não lembrei disso, eu sou tão idiota! Por favor, me perdoa? - pedi, ou melhor, implorei.

Ele me abraçou.

-É claro que eu te perdôo, sua pirada. - ele disse rindo baixinho - Você é mesmo bipolar, não é?

Eu? o.O

-Por quê? - perguntei.

-Porque faz uns quinze minutos que eu entrei nesse quarto, e desde então você já riu, deu chilique, me xingou, chorou, gritou comigo, me pediu desculpas, e... Bom, você entendeu. - finalizou sorrindo.

-Eu não sou bipolar! Só não gosto de reprimir emoções, é diferente! - falei séria.

Jacob riu alto, eu fechei a cara.

-Tudo bem então Srta. Emoções-a-flor-da-pele, vamos agora se não a sua tia vai achar que eu te sequestrei. - falou levantando-se da cama e me entregando o meu café da manhã. - Quando você terminar de comer eu vou te levar para a sua casa.

Eu assenti.

-Ta bom. - falei de boca cheia, aquele sanduíche estava uma delícia.

Quando acabei de comer enxaguei a boca com flúor, já que não tinha a minha escova de dente comigo, e fui até a sala onde ele me esperava.

Jacob me levou até a garagem e eu quase tive um treco quando descobri de que forma ele pretendia me levar para casa.