- Mas por que não? – eu suplicava.

Eu estava sozinha na sala com Hermínia; os outros já haviam ido, pois tinha batido o sinal. Eu estava tentando convencê-la a me mudar de lugar. Já havia aturado mais de três semanas do lado dele. NÃO DAVA MAIS. Humanos e macacos não interagem tão bem assim.

- Porque não, Zoey! – a professora dizia – Sei muito bem o que você quer: ficar perto de suas amiguinhas. Não sou tão idiota – ela acusou.

- Pode ser longe delas, não ligo! Apenas me mude de lá – sinalizei com a cabeça para o local.

- Acho que não, Zoey. Gostei de você lá, não está dando problemas.

Porra! O que ela queria que eu fizesse? Me ajoelhasse, beijasse seus pés? Era só pedir. Eu podia fazer isso.

- Mas eu imploro, por favor! – tentei uma ultima vez, mesmo já sabendo a resposta.

- Não, melhor não – e pegou sua bolsa, virando-se e saindo pela porta.

“Não, melhor não”. Filha da mãe de professora. Ela não sabia o que era aturar aquilo na sua frente TODO DIA. Ta, não “todo dia”. Mas CINCO DIAS NA SEMANA! E isso já é demais!

Cerrei as mãos em punhos, e descartei minha raiva em meu celular. Ok, é uma mania estranha. Mas funciona! Está irritado? Taque seu celular na parede. Ele não sente!

Peguei o aparelho caído no chão – que naquele ponto nem parecia mais um MP9, de tão estraçalhado que estava – e joguei-o dentro da bolsa novamente. Ainda tinha os botões necessários, então estava tudo bem.

Saí da sala xingando mentalmente a professora. Era tudo culpa do meu irmão caçula! Ele não devia ter dito para ela que eu a odiava quando a conheceu. “Seu irmão me disse que você me odeia, Zoey. É verdade?”, ela perguntou. É, é verdade sua vaca loira. “Crianças”, limitei-me a me dizer naquele dia. Obviamente, ela deve achar que eu a odeio mesmo. Ah, a peste que chamo de irmão iria sofrer.

Continuei xingando mentalmente os dois, enquanto ia para a frente da escola.

- E então? – ouvi a voz de Ashley atrás de mim. Virei-me enquanto ela e Lindsay vinham em minha direção.

- E então nada – bufei – Ela nem me ouviu direito. “Gostei de você naquele lugar” - fiz uma imitação da voz enjoativa dela – Eu realmente não gosto daquele lugar. Eu queria mudar de lá – reclamei.

- Clark não é tão chato assim – Ashley argumentou, enquanto levantava as sobrancelhas.

“Com você”, eu estava prestes a dizer, quando Lindsay me cortou:

- Ah, mas é claro que é! – sua voz esganiçada ecoava - Aquele moleque é ridículo! Detesto ele e sei que não sou a única, já que ele é um idiota. Metade da sala baba nos pés daquele filho da puta, e falam mal depois. E, mesmo ele sabendo disso, esnoba todo mundo – e continuou falando dele, enquanto eu me sentia sufocada por alguma coisa.

- Lindsay, cale a boca! Você não tem que ficar falando assim dele – e prendi a respiração quando percebi que aquelas palavras haviam saído da minha boca.

Lindsay calou-se abruptamente e moveu seus olhos gigantes e petrificantes para mim. Ashley arregalou os olhos e ficou me encarando.

Muito bem, Zoey.

- Foi automático – murmurei, tentando consertar as coisas.

Lindsay olhou-me, incrédula.

- Eu realmente não te entendo, Zoey – ela começou – Você xinga ele e tudo, mas quando vou concordar com você recebo um “cale a boca”?!

E eu tinha que confessar que daquela vez – só daquela vez - ela estava um pouco certa. Mas eu não ia deixar a Lindsay ter incentivos para seus chiliques.

- Ok Lindsay, chega – repreendi. Ela revirou aqueles olhos que mais pareciam bolinhas de ping-pong e ajeitou a mochila nas costas.

Recomecei a andar antes que alguém dissesse mais alguma coisa e elas acabaram me seguindo. Eu queria “fugir”. Por que eu fui falar aquilo? Eu estava tentando pensar em algo para explicar tudo. Porque eu precisava explicar! O que pensariam de mim?

- Só você pode falar mal dele daquele jeito, é? – surpreendi-me com o sussurro que chegou aos meus ouvidos. Virei assustada e Ashley estava ali, ligeiramente inclinada para o meu lado por falar baixinho. Sua boca projetava-se em um sorriso arteiro.

E ela realmente estava certa. Eu podia xingá-lo, mas não admitia que mais alguém fizesse isso. Só eu.

Mas eu não iria confessar isso para mim mesma. Continuei a negar tudo. Eu não estava bem. Era uma fase! Não tem nada a ver, mas era.

- O que? Não, não. – gaguejei – Não é isso...

Ela riu baixinho e mudou de assunto, falando em tom normal novamente. Lindsay entrou na conversa e eu fiquei apenas escutando, mas não ouvindo realmente.

O que Ashley dissera havia me deixado desconfortável, em parte porque eu sabia que tinha um fundo de verdade e também porque eu estava com medo de que a garota tivesse percebido algo entre eu e ele.

Não, não, NÃO. Ela não pode saber. Será meu fim. Eu nem gosto realmente dele!

Não é?

Balancei a cabeça para afastar esses pensamentos. Mal me despedi e praticamente corri para o carro do meu pai quando avistei-o.

Fiquei olhando pelo vidro enquanto ele saia da vaga. Eu olhava para ele, parado ali perto.

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