Amigos - a Melhor Aliança

Frágilizada. Doce. E gay, muito gay!


20.

Vickie sentia a mão de Jam ainda firmemente fechada em torno de seu pulso, com sua palma levemente gelada e macia, igualzinho como ela o conheceu. Petrificada de susto, ela o encarava com veemência, de olhos tão vidrados que logo se renderam às lágrimas, que se acumulavam deixando os olhos dela com uma aparência líquida.

Jam estava usando o uniforme e, com a ausência de suas calças de skatista, ele parecia até mais alto. O uniforme caíra bem nele e evidenciara seus ombros altos. Parecia tão bem... Comparado a ela...

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— Vickie, eu queria falar com você. – Disse ele depois de sustentar um olhar pesado e carregado de... Muitos sentimentos.

Vickie engoliu pesado e olhou significativamente para a mão dele em seu pulso. Ele reparou, mas não se moveu.

— Eu... Eu não sei se...

Ela travou. A final, tudo que ela sentia era nada mais que culpa dela. Eram os sentimentos dela que ela deixou crescer. Jam e ela tiveram algo e, bem, ele não poderia adivinhar o quanto ela se sentiria mal... Deveria baixar a bola e conversa? Porém, em contrapartida, ele não foi fiel à promessa que fez!

— Vickie, você sabe que a gente tem o que conversar... Eu só não entendo por que fugiu! – Ele disse aliviando a pressão no aperto, descendo para a mão dela com muito carinho.

Vickie fechou os olhos por breves três segundos.

— Eu... Não fugi! – Falou tentando se desfazer da bola que fechava sua garganta. — A propósito, Jam, eu tenho que ir, eu preciso... – Ela olhou em volta buscando uma idéia. — Tenho o que fazer. Preciso achar meus amigos e...

— Vickie! – Jam segurou o rosto dela. – Você quer me enganar agora? Sinto dizer, mas não está conseguindo... Por que não vamos pra algum lugar? Tenho algumas coisas pra dizer...

Ela tirou o rosto das mãos dele e de um passo involuntário pra trás.

— Eu sei. Você tem mesmo o que dizer... – Foi quase palpável o ressentimento na voz de Vickie. — Mas... Jam...

— EI! OLHA ELA LÁ! – Alguém berrou com vontade à distância.

Do outro lado do daquela área, Stark, Rachel, Danilo e Alan caminhavam parecendo até os Power Rangers, só que incompletos.

— Eles são seus amigos? – Jam sussurrou enquanto eles se aproximavam.

— São.

Vickie se distanciou um pouco mais do francês enquanto ele cruzava os braços e esperava pelos demais. Reconheceu Danilo e Alan e lembrou de Stark, só a garota ele não conhecia.

— Ah, Vickie, eu estava te procurando! – Stark disse chegando na frente dos outros e circulando os ombros da pequena loira com seus braços.

— Me... Procurando? – Ela perguntou debilmente se sentindo estranha pela presença de Jam no meio deles.

— Sim. É claro! – Stark falou em tom óbvio.

— E por quê?

— Ahn... Bem... – Ele enrolou.

— Vivizinha, eu estava preocupada com você! – Rachel chegou a tempo e a abraçou também.

— É. Todos nós estávamos! – Danilo disse.

— Gente, parece até que eu estava a ponto de morrer com essa preocupação toda! – Vickie disse sorrindo aliviada por ter Rachel do lado.

— Claro! Você saiu correndo daquele jeito e... – Rachel parou olhando para Jam. — Ah, oi... – Disse incerta.

—Oi! – Jam acenou para o grupo.

— Oi cara, e aí? – Alan falou educadamente. Ele e Danilo apertaram a mão de Jam.

— Vo-vocês se conhecem? – Vickie engasgou.

— Compartilhamos o alojamento. – Jam respondeu olhando significativamente para Vickie.

— E vocês também se conhecem? – Stark indagou.

O olhar de Jam se tornou quase insuportável e Vickie foi obrigada a mudar de foco, balançando a cabeça em concordância.

“Então nenhum deles sabem de mim?” – pensou Jam.

— Então, Stark, o que você queria? – Vickie teve que dizer antes que não aguentasse.

Stark pareceu um pouco aéreo, mas logo falou:

— Vim... Só perguntar a você quando é que a gente vai se encontrar!

Rachel, Danilo e Alan se entreolharam tensos. Vickie pareceu um fantasma de tão pálida que ficou. Jam não se conteve e mudou o peso do corpo de um pé para o outro, incomodado.

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— Se encontrar? – Vickie falou bobamente.

— É. Temos um trabalho extra, se lembra? Além do mais, você perdeu as duas últimas aulas, posso repassar pra você! – Stark disse soando tão natural que nem parecia enciumado, mas, para quem o conhecia, sabia que ele estava longe de estar normal.

— Ah... Tá. É claro, cabeça-de-estrela-do-mar! – Vickie suspirou aliviada depois do susto e acabou, por impulso, abraçando a cintura Stark.

É... Pode-se dizer que a coisa ficou tensa.

— Gente, então... Acho melhor eu ir indo... - Rachel falou se afastando aos poucos, mas não sozinha. Segurou a mão de Alan e saiu com ele.

—Então Stark, você vai ficar, por que eu to indo irmão! – Danilo disse.

Stark se viu diante de um impasse, olhou para Jam e o garoto parecia um pouquinho emburrado, encarando a paisagem. Olhou para Vickie e ela fitava o chão, também de braços cruzados. Por um instante Stark se sentiu sendo desencaixado daquele meio. Olhou para Danilo e suspirou.

— É. Estou indo com você, irmão! – Disse depois de dar um beijo no topo da cabeça de Vickie. —A gente se vê então... Na salinha, mais tarde!

— Ah, tá bom! – Ela assentiu docemente, o que era estranho, mais ninguém reparou. A final, era óbvio que Vickie estava fragilizada e intimidada.

(Ok, “salinha” é a sala que precede os quartos, é como uma sala de descanso para todos os alunos de determinado andar).

Sozinhos novamente, Jam não perdeu tempo e se aproximou demais de Vickie, segurando suas duas mãos e enlaçando seus dedos. Ela estremeceu levemente, mas não se afastou. Suas lágrimas finalmente transbordaram e rolaram pelo seu rosto. Saturada de sentimentos que ferviam, Vickie baixou as defesas e Jam a abraçou, deixando-a enterrar a cabeça em seu peito.

— Ah, Vi... Tenho tanta coisa pra contar...

***

— Raquetinha, deixa vai... – Alan pedia como um cachorrinho com seus olhos brilhando. Estava sentado cm Rachel no sofá da salinha.

— Não! – Disse Rae fazendo biquinho.

— E por que não? Sou seu amigão, não sou? – E passou o braço preguiçosamente por cima dos ombros dela.

O rosto de Rachel encarnou e ela segurou um sorriso.

— É. Você até é, mas não lhe dou confiança! – Mostrou a língua e encarou a frente, desviando o olhar da cara hilária de Alan.

— Você vai me ignorar? – Ele fingiu tom chorão. — Eim minha flor? – Aproximou o rosto do dela. — Não vai dar pra mim nem um pouquinho?

Rachel apertou o que pôde os lábios, mas acabou rindo alto da graça. Segurou firmemente o saco de jujubas que estava enterrado entre suas mãos e continuou impassível.

— Ah, Rae, isso é injusto! Eu gosto mais de jujubas que você! Dá pra mim vai! – Alan pediu tentando afastar as mãos dela do pacote, mas ela fazia força contra.

— Não! Só se você me disser que eu sou a garota mais linda e inteligente do mundo. – Ela propôs fazendo caras e bocas. — Ah, e diz também que me ama mais que sua própria vida e que não vai ter olhos pra nenhuma pirralha e eu vou ser sua irmã pra sempre!

— Nossa Rae! Tudo isso por míseras jujubas? – Alan se fez de indignado. —Eu não! Não vou corromper minha moral jurando isso!

O queixo de Rachel caiu quando e ela encarou o rosto sério e fingido de Alan. Ele continuou atuando e ficou impassível também. Stark e Danilo entraram nessa hora.

— Ah, Stark, você nem sabe o que esse energúmeno me fez! – Rachel saiu correndo pros braços de Stark.

— O que foi? Diz que eu mato!

— Ele não me ama! – Ela choramingou dramaticamente.

Alan começava a gargalhar.

— Seu verme! Como ousa? – Stark disse. — Ninguém não-ama a Rae! A minha Raquete! A minha coelhinha branca! O brilho da minha estrela! A minha melhor cervozinha! A...

— Stark, para! Eu posso não ser amada... – Rachel desistiu do apoio.

— ORA SEU BRUTO! PEGUE SEU FLORETE E VENHA GUERREAR! – Stark bradou como um cavalheiro sem noção subindo no sofá.

— Sai daqui seu Bambi, eu não pego em florete nenhum! – Disse Alan ao puxar Stark pra baixo.

— Qual o preconceito com meu florete?

— Eu? Nenhum. Quero distância!

— Besta! Florete é tão bom!

— Se você diz...

— EI! O caso aqui não era eu? – Rache disse.

Danilo se jogou no outro sofá e riu da cara da amiga.

— Ah, mas é claro! – Alan se levantou com uma expressão travessa. — MINHAS JUJUBAS!

— NÃO!

Os dois começaram a correr em volta do sofá como dois malucos até que Alan alcançou a cintura de Rachel e a puxou caindo com ela por cima de Stark.

— Só por que você é a mais linda, inteligente, que eu amo mais que todas! – Sussurrou o garoto tirando o cabelo de Rachel do rosto dela.

— Ah, eu sabia Lalaninho! – Ela fez voz de bebê.

— ÓTIMO! Mas dá pra sair de cima de mim? – Stark se contorceu e Alan saiu de cima de Rachel... Com o saquinho de jujubas na mão.

— EI! – Ela berrou quando percebeu. – NÃO VALE! VOCÊ ME SEDUZIU!

— Mas foi você quem pediu! – O garoto deu de ombros e colocou uma punhada de jujubas pra dentro da boca.

Danilo e Stark riam da cara emburrada de Rachel quando um outro aluno entrou na salinha. Eles o reconheceram. Lucas Neto.

— Salve irmão! – Danilo disse erguendo a mão para seu colega de time.

Lucas bateu sua palma com a dele... Delicadamente.

— Gente! Quanto tempo! – Falou com um bonito sorriso no rosto, tão bonito que Rachel até ficou de boca aberta.

— É melhor fechar Rachel, senão vai ficar parecendo uma desdentada! – Stark sussurrou para ela, mas Rachel nem deu ouvidos.

Lucas era um colírio para os olhos... Ou melhor, era a cura para qualquer catarata! Loiro de olhos claros, forte e educado. Porém, como Danilo descobrira, era gay!

— Lucas! Como foi de férias? – Rachel não resistiu perguntar. Recebeu um olhar altivo de Lucas, mesmo com o sorriso doce.

— Ah! Foram ótimas! Mas estou com saudade do campo!

— Ah, foi pra fazenda? – Alan perguntou.

— Não. Do campo de futebol, bobinho! – Lucas respondeu prontamente.

Alan se comprimiu com o sorriso expressivo que Lucas lhe mandou.

— Ah, sim, claro, mas... Falando em futebol... Quando vão começar os testes? – Perguntou a Danilo.

— Nossa! Eu não vi isso ainda! Rae a gente tem que falar com o diretor!

— Ah, sim! A gente vai de noite! Caramba, agora que tocou no assunto, fico até ansiosa pra entrar no campo de novo...

— É. Até que você joga bem mesmo! – Lucas falou.

Notaram um tom de sarcasmo aí? Ou será despeito? Inveja talvez...

— Obrigada Lucas!

— De nada!

Stark e Danilo se entreolharam assustados.

— Então, pessoal, eu vou indo dar uma volta! – Lucas falou olhando pros meninos.

— É. Depois que você der uma rodada quem sabe a gente se vê pra falar do jogo! – Danilo disse sorrindo, fazendo graça para os amigos.

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— Claro, cara! Até mais! – Lucas acenou e saiu da salinha.

— Ai gente que amor! – Stark fez uma voz afeminada e assoprou um beijo pra Danilo.

— Não sacaneia, irmão! Só por que ele é gay eu não vou mudar o jeito de tratar o cara! – Danilo falou sensato.

— Te apoio, mas você viu o tom que ele falou comigo? – Rachel disse.

— O que você esperava? Que ele te chamasse pra sar uma rodada com ele? – Alan sacaneou.

— É, mas se bem que ele poderia chamar você, do jeito que ele te olhou... – Rae piscou um olho.

— Essa já tá na tua, irmão! – Stark riu.

— Vai ficar sonhando...

— AH! – Stark exclamou de repente fazendo Danilo e Rachel saltarem no sofá. — Falando em “vai”. O que a gente vai comer hoje?

— Droga! Que susto! – Alan suspirou. — Pelo seu gritinho eu pensei que você fosse perguntar quem você ia comer hoje!

— AI CREDO! – Rachel exclamou.

— O que? Pensa que canibalismo não existe?

— Você sabe que você não estava falando disso... – Ela estreitou os olhos.

— Ah é? E por que será que você pensou o mesmo? – Alan revidou.

— Por que eu te conheço!

— Bom saber!

— EI! O que é que eu vou comer? – Stark insistiu.

— Está esfomeado, irmão? – Danilo riu.

— A parada da Vickie abriu meu apetite!

— Ah é? Foi o tal Jam...? – Danilo provocou.

— Não! Desse verme aí eu quero distância... A final, quem ele pensa que é pra tirar a minha cama de mim?

—A cama ou a garota?

— Ele não tirou a Vickie de mim!

— E desde quando ela é sua?

— Eu não disse isso... Eu só... – Stark se enrolou todinho fazendo Danilo sorrir vitorioso.

— Relaxa, irmão, eu não conto pra ninguém da sua queda pela miniatura de loira!

— Mas que queda? – Stark perguntou exaltado.

— Aquela que te faz cair do salto! – Alan respondeu e todos caíram na risada, menos Stark que corou furiosamente e ficou emburrado.

— Quando é com você, você não resiste não é? – Rachel perguntou.

— Ah, por que vocês são insinuosos demais!

— QUEM? NÓS? – Os três falaram juntos!

— Não, a Bárbie!

Silêncio geral.

— Certo! Vamos logo atrás de comida antes que afete ainda mais os nossos cérebros! – Rachel disse saltando do sofá pro chão.

— ALELUIA! – Stark saiu correndo na frente.

— Eu heim...