Sala Vazia

Recomeçar


<p><span> <p><em>O outono cai como a idade quando voc&ecirc; est&aacute; longe</em></p> <p><em>A primavera floresce e voc&ecirc; acha um amor verdadeiro</em></p> <p><em>Mas n&atilde;o sabe o que fazer agora</em></p> <p><em>Pois procurar era s&oacute; o que sabia fazer</em></p> <p><em>E a procura acabou h&aacute; alguns meses atr&aacute;s</em></p> <p><em><br /></em></p> <p><em> </em></p> <p>No fim todos v&atilde;o embora, seja pelas pr&oacute;prias pernas ou nos bra&ccedil;os da morte. Eu, com a idade que tenho, deveria saber. Mas saber dessa fatalidade n&atilde;o significa que ela seria aceita quando chegasse sua hora. Quando voc&ecirc; ama, voc&ecirc; ama, e &eacute; algo t&atilde;o al&eacute;m da raz&atilde;o que a simples possibilidade de ficar longe &eacute; a coisa mais apavorante que se pode imaginar.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Se a pessoa nunca sentiu isso &eacute; porque de fato nunca amou. O amor da qual me refiro &eacute; aquele que sai da boca de poetas bo&ecirc;mios, loucos e apaixonados. N&atilde;o existe maneira de explicar a sensa&ccedil;&atilde;o m&aacute;gica e a depend&ecirc;ncia, n&atilde;o do corpo, mas da alma. &Eacute; uma coisa t&atilde;o &uacute;nica de cada pessoa, t&atilde;o incondicional que o que ele representa para mim pode n&atilde;o ser para outro.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Quando voc&ecirc; perde quem ama, voc&ecirc; perde uma parte de si que nem sabia que existia antes daquele momento. E, incompleto, voc&ecirc; n&atilde;o &eacute; nada. N&atilde;o faz diferen&ccedil;a se o copo est&aacute; meio vazio ou meio cheio, falta uma parte, e assim sua sede n&atilde;o ser&aacute; saciada. Achar outro amor tamb&eacute;m n&atilde;o &eacute; uma tarefa f&aacute;cil, quando voc&ecirc; ama numa intensidade quase insuport&aacute;vel, n&atilde;o consegue aceitar menos que aquilo. Mas &eacute; a &uacute;nica solu&ccedil;&atilde;o, pois &eacute; somente com amor que o buraco do antigo amor &eacute; preenchido.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Chega a ser meio assustador quando se depara com o sentimento. &Eacute; arrebatador, a boca se abre num sorriso inconsciente. Todo aquele receio da dor aparece apenas quando se est&aacute; sozinho no seu quarto. Perto da pessoa, tudo que voc&ecirc; consegue fazer &eacute; observar o desenho dos l&aacute;bios, as covinhas do sorriso e os olhos apertados brilhando contra o sol.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Comigo n&atilde;o foi diferente, sua espontaneidade foi como um balde de &aacute;gua fria depois de uma sauna quente. Um choque. De uma pessoa completamente muda para outra que gaguejava era uma evolu&ccedil;&atilde;o, constrangedora, mas uma evolu&ccedil;&atilde;o. No primeiro instante a vontade foi de correr, mas seus olhos eram como correntes, n&atilde;o conseguia fugir. A garota no parque tinha um livro nas m&atilde;os, Shakespeare. Uma rom&acirc;ntica, afinal de contas!</p> <p>&nbsp;</p> <p>- Sou Sakura &ndash; sussurrou enquanto me olhava de esgueira. Os olhos eram dos verdes mais bonitos que j&aacute; vi. De repente, senti-me nu na presen&ccedil;a daqueles olhos, senti como se eles pudessem ver al&eacute;m de mim.</p> <p>&nbsp;</p> <p>- Kakashi &ndash; respondi no mesmo tom de voz. &ndash; J&aacute;... j&aacute; li este livro, o fim n&atilde;o &eacute; dos mais felizes.</p> <p>&nbsp;</p> <p>- Quem n&atilde;o conhece o fim de Romeu e Julieta? &ndash; respondeu, abrindo um sorriso mais radiante que o sol escaldante daquele dia. &ndash; O fim n&atilde;o &eacute; feliz, mas o amor &eacute; real, &eacute; isso que importa.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Me prendi naquelas ultimas palavras, refletindo como havia sido toda a minha vida. Senti que a minha procura havia acabado, mas agora, diante da bela garota, n&atilde;o sabia como agir. Perseguir o amor fora a minha obsess&atilde;o desde que Rin partiu. J&aacute; tinha desistido, mas algo dentro de mim nunca morreu.</p> <p>&nbsp;</p> <p>A depress&atilde;o veio arrebatadora depois de sua morte, vivi recluso nos anos seguinte, contudo prestava aten&ccedil;&atilde;o em todos, em busca do rem&eacute;dio para aquele sentimento. E ela estava ali, sorrindo para mim, mas n&atilde;o sabia o que dizer. Deparei-me com o amor depois de muito tempo, mas s&oacute; naquele momento notei que n&atilde;o havia me preocupado de como agiria quando o encontrasse.</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p><em>E tudo que voc&ecirc; v&ecirc; &eacute; outro lugar onde poderia estar</em></p> <p><em>Quando voc&ecirc; est&aacute; em casa,</em></p> <p><em>L&aacute; fora nas ruas existem muitas possibilidades de n&atilde;o ficar sozinho</em></p> <p><em><br /></em></p> <p><em> </em></p> <p>Nos primeiros meses, sair de casa era incogit&aacute;vel. O mais perto que chegava da realidade eram as noites de chuva, a cadeira posta na frente da janela entreaberta, geralmente um &aacute;lbum de fotos na m&atilde;o, n&atilde;o tinha nenhuma defini&ccedil;&atilde;o sen&atilde;o nostalgia.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Observava as pessoas correndo para casa, para qualquer abrigo. Alguns com guarda-chuvas, outros com um jornal e ainda tinha aqueles que haviam sido pegos de surpresa. O cheiro de chuva era inebriante, e ver aquelas pessoas correndo para suas fam&iacute;lias, seus lares quentes e aconchegantes me fazia lembrar de como eu j&aacute; fui um deles.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Nas noites em que estava mais inspirado lia por horas a fio. Shakespeare era o meu preferido, n&atilde;o importava se era <em>Sonhos de uma noite de ver&atilde;o</em> ou <em>Romeu e Julieta</em>. Lia, devorava as p&aacute;ginas.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Por muito tempo, a sensa&ccedil;&atilde;o que tinha ao ler aquelas palavras era o mais perto que me aproximava do amor. De tanto ler e reler descobri que precisava amar novamente, de que nada valeria ficar naquele luto eterno. Contudo, sabia que n&atilde;o ia me apaixonar duma hora para outra, n&atilde;o era assim que acontecia. O amor &eacute; que nem uma borboleta, se voc&ecirc; a persegue, ela foge, se voc&ecirc; espera, ela vem e pousa perto de voc&ecirc;. Decidi, que, para come&ccedil;ar, voltaria a viver, sair de casa.</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p><em>As chamas e a fuma&ccedil;a sobem por todas janelas</em></p> <p><em>E desaparece com tudo que voc&ecirc; adorava</em></p> <p><em>E voc&ecirc; n&atilde;o derrubou uma l&aacute;grima pelas coisas que n&atilde;o precisava</em></p> <p><em>Pois voc&ecirc; sabia que estava livre enfim</em></p> <p><em><br /></em></p> <p><em> </em></p> <p>Como eu j&aacute; sabia, para se recome&ccedil;ar deveria apagar tudo que fazia voc&ecirc; se apegar ao velho. Num &iacute;mpeto a vontade era de tacar fogo em toda a casa, mas a ideia pareceu absurda quando analisada novamente. N&atilde;o havia necessidade de fazer um estrago t&atilde;o grande, apenas as coisas pequenas era o suficiente.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Olhei em torno e vi porta-retratos em todos os cantos, mem&oacute;rias de uma vida h&aacute; muito tempo vivida. N&atilde;o chegava nem a parecer real. Havia tamb&eacute;m cartas, presentes, j&oacute;ias, frascos de perfumes nas prateleiras, ursos de pel&uacute;cia sobre a cama do quarto de h&oacute;spedes e, principalmente, todas as roupas ainda dentro do arm&aacute;rio dividindo espa&ccedil;o com as minhas.</p> <p>&nbsp;</p> <p>As j&oacute;ias n&atilde;o mereciam o fogo, acalentariam a pele de muitas jovens apaixonadas, ent&atilde;o optei por fazer uma pequena doa&ccedil;&atilde;o a alguns casais que passavam perto de minha janela. Os perfumes provavelmente acarretariam num inc&ecirc;ndio caso queimados, foram para a lata de lixo mais pr&oacute;xima.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Agora, e as roupas, ursos, fotos e cartas? Fogo.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Afastei todos os m&oacute;veis da sala, talvez fosse mais inteligente faz&ecirc;-lo no quintal, mas a casa precisava do banho da fuma&ccedil;a para se purificar. Organizei um monte bem no centro, caso o fogo sa&iacute;sse do controle estava preparado com baldes d\'&aacute;gua e um extintor. Peguei isqueiro e neste momento me lembrei de seu rosto dorminhoco e um cigarro na boca, de como seus olhos eram misteriosos e sua boca luxuriante.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Sorri ao ver que a lembran&ccedil;a j&aacute; n&atilde;o me do&iacute;a, apenas acendia fagulhas de saudades. Joguei o pequeno objeto flamejante e observei com um misto de dor e admira&ccedil;&atilde;o tudo se transformar em cinzas. A fuma&ccedil;a era rala, um pouco sufocante, mas n&atilde;o era alarmante, n&atilde;o tinha como o fogo continuar quando tudo havia sido reduzido a p&oacute;. E assim, ap&oacute;s pouco mais de duas horas de fogo crepitante ele se extinguiu.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Surpreendi-me por n&atilde;o ter soltado uma l&aacute;grima sequer, meu lamentar seco havia sido superado gra&ccedil;as &agrave;s p&aacute;ginas de um romance. Inacredit&aacute;vel. Tudo que precisava estava arrumado dentro de uma mochila, ent&atilde;o sa&iacute; pela porta para nunca mais voltar, passei pela placa de <em>Vende-se</em> e segui meu rumo na noite estrelada da cidade.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Fui para um quarto de hotel naquela primeira noite, na manh&atilde; seguinte procuraria um apartamento e buscaria meu carro na casa da Hinata. Ela ficaria feliz em me ver recuperado, ao menos parcialmente e, certamente, Naruto aliviado por poder me devolver as r&eacute;deas da empresa e ir viajar com a mulher gr&aacute;vida.</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p><em>Pois tudo que voc&ecirc; v&ecirc; &eacute; outro lugar onde poderia estar</em></p> <p><em>Quando voc&ecirc; est&aacute; em casa,</em></p> <p><em>L&aacute; fora nas ruas existem muitas possibilidades de n&atilde;o ficar sozinho</em></p> <p><em><br /></em></p> <p><em> </em></p> <p>- Ei, mo&ccedil;o &ndash; ela estralou os dedos perto do meu rosto. &ndash; Est&aacute; ai? Terra chamando, oi!</p> <p>&nbsp;</p> <p>Sua voz era doce, apesar do jeito agitado que agia. Encantador. Fui tirado do transe num sobressalto e lhe sorri.</p> <p>&nbsp;</p> <p>- Desculpe... estava pensando... &ndash; sussurrei um pouco envergonhado.</p> <p>&nbsp;</p> <p>- Ah, tudo bem, &agrave;s vezes eu fico assim tamb&eacute;m, me perco dentro de mim e acabo esquecendo do que est&aacute; em volta. &ndash; Ela sorriu. Deus, j&aacute; tinha dito como o sorriso dela era maravilhoso? &ndash; Bom, eu acho que j&aacute; vou indo. Ainda n&atilde;o almocei sabe &ndash; ela apontou para o livro &ndash; perdi totalmente a no&ccedil;&atilde;o de tempo e espa&ccedil;o.</p> <p>&nbsp;</p> <p>Ela fez a men&ccedil;&atilde;o de continuar seu caminho, mas sabia que n&atilde;o podia me dar ao luxo de perd&ecirc;-la. Aquele esbarr&atilde;o parecia uma oportunidade da qual tinha certeza de que nunca mais teria. Segurei seu bra&ccedil;o de leve, ela se virou interrogativamente.</p> <p>&nbsp;</p> <p>- Tamb&eacute;m n&atilde;o almocei &ndash; comecei, temeroso e nervoso com os arrepios que sentia percorrer meu bra&ccedil;o por estar tocando-a. &ndash; Tem um restaurante ali do outro lado da rua que tem a melhor comida italiana da cidade. Quer me acompanhar?</p> <p>&nbsp;</p> <p>N&atilde;o tinha a inten&ccedil;&atilde;o de ir a algum restaurante antes de conhec&ecirc;-la, estacionei o carro para comer alguma coisa ali na pra&ccedil;a mesmo e voltar para a busca de um novo lar quando esbarrei na mo&ccedil;a que corria apressada. Mas n&atilde;o podia dar-me ao luxo de perd&ecirc;-la.</p> <p>&nbsp;</p> <p>- Tudo bem, parece uma &oacute;tima op&ccedil;&atilde;o, e eu realmente <em>amo</em> comida italiana!</p> <p>&nbsp;</p> <p>Sorri e dei-lhe o bra&ccedil;o para gui&aacute;-la. N&atilde;o devia ser muito mais jovem que eu, apesar do jeito espont&acirc;neo de uma adolescente, mas n&atilde;o chegava aos vinte e cinco anos. Sabia que havia encontrado n&atilde;o uma substituta, mas um novo amor e n&atilde;o a deixaria ir.</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p>&nbsp;</p> <p><strong>Continua</strong>...</p> </span></p>

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!