Infância, Inocência e Solidão

Infância, Inocência e Solidão


<p>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Para as crian&ccedil;as neste mundo existe um dia especial que est&aacute; acima de todos os outros, um dia em que ela recebe o amor de seus pais, parentes e amigos, um dia para receber presentes e celebrar, pois este dia &eacute; o seu anivers&aacute;rio. Mas nem todas as crian&ccedil;as vivem um dia especial como esse, nem todas as crian&ccedil;as tem o que celebrar em seu anivers&aacute;rio. As vezes nascer pode ser como uma pris&atilde;o perp&eacute;tua, uma longa e sofrida espera pelo fim de uma vida. E para Uzumaki Naruto, era exatamente isso que significa ter nascido.<br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Dez de outubro, aquele era o dia do anivers&aacute;rio de Naruto. Ironicamente, aquele era o dia de maior tristeza para a vila de Konoha, pois este dia era o anivers&aacute;rio de morte das centenas de pessoas que morreram no fat&iacute;dico ataque do dem&ocirc;nio Kyuubi. Naruto acordou abruptamente, assustado pelo barulho de vidro se estilha&ccedil;ando, ele se levantou e foi at&eacute; a sala de estar com cuidado, um passo por vez, lentamente. O barulho havia sido feito pelo vidro da janela da sala que havia sido destru&iacute;do, os cacos haviam se espalhado pr&oacute;ximos a janela, e no meio da sala de estar havia um tijolo com um bilhete enrolado e preso a ele por um fio de barbante, o garoto foi at&eacute; o tijolo, e retirou o bilhete, para ler as palavras duras dos cidad&atilde;os que o odiavam.<br /><br /><br /><em><strong>V&aacute; embora, amaldi&ccedil;oado! V&aacute;, e leve contigo nossas dores, sofra e pague pelos seus pecados, pois tu &eacute; o dem&ocirc;nio que atormenta a vida dos cidad&atilde;os de Konoha. Voc&ecirc; n&atilde;o tem lugar aqui! Fuja e sofra, ou fique e morra!</strong></em><br /><br /><br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ele sentiu vontade de chorar, mas o seu choro ficou entalado em sua garganta conforme ele olhava para a janela quebrada e amassava o bilhete ofensivo que havia recebido, saindo da sala para a cozinha, em seguida. Ele jogou o bilhete no balde de lixo que estava em cima da pia, e foi at&eacute; a geladeira, quando abriu a porta, ele pode sentir o arrepio correr por suas costas e o deixar gelado. N&atilde;o havia nada para comer, nem mesmo seu querido Ramen, a &uacute;nica coisa que ocupava espa&ccedil;o na geladeira era uma embalagem de leite, que Naruto verificou como sendo vencida. No dia em que ele mais queria ficar em casa, Naruto seria obrigado a sair, e sem escolha, Naruto trocou o seu pijama por sua habitual roupa laranja.<br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Para a felicidade e sorte de Naruto, ele n&atilde;o havia tido problemas no caminho at&eacute; o mercado, havia uma pessoa ou outra na rua que o encarava com raiva, mas isso era apenas o que ele j&aacute; estava habituado, o dia parecia um pouco agrad&aacute;vel, embora estivesse frio e nublado. No mercado, o vendedor, mesmo que relutante, entregou as compras para Naruto sem maiores delongas. Caminhando de volta para casa, ele n&atilde;o pode deixar de dar um sorriso triste ao pensar que havia sido um dia feliz por ele apenas ter recebido olhares de &oacute;dio, ele pensou que poderia ser pior. E talvez tenha pensado cedo demais, pois quatro homens de idade por volta dos 40 anos de idade pararam na frente de Naruto, o impedindo de passar. A palavra &ldquo;Problema&rdquo; ecoou na mente do pequeno loiro.<br /><br /><br />- Licen&ccedil;a, por favor...- O pequeno Naruto sussurrou, aud&iacute;vel o bastante para que os homens o escutassem, mas eles o ignoraram.<br /><br />- Ora, ora, mas o que temos aqui? Um pivete amaldi&ccedil;oado.- Um dos homens, que era meio careca, se aproximou de Naruto, falando em tom de deboche.<br /><br />- Senhor, deixe-me passar, por favor...- A respira&ccedil;&atilde;o de Naruto j&aacute; era irregular,o medo tomava conta de si.<br /><br />- O que tem de errado com voc&ecirc; hoje, garoto? Voc&ecirc; geralmente s&oacute; banca o idiota, gritando e fazendo esc&acirc;ndalo por ai.- Outro senhor, de longos cabelos negros, presos em um rabo de cavalo foi quem falou. Esse s&oacute; n&atilde;o &eacute; um dia em que eu sinta vontade de agir assim, pensou Naruto.<br /><br />- Me deixe em paz...- O pequeno falou, tentando se desvencilhar dos adultos e sair dali correndo.<br /><br />- Espera a&iacute;, maldito!- De costas, Naruto nem mesmo pode ver quem havia gritado, ou quem havia atirado uma pedra contra ele. Tudo que sentiu foi o impacto da superf&iacute;cie &aacute;spera contra sua cabe&ccedil;a, o que fez cair no ch&atilde;o.<br /><br /><br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Naruto se virou, olhando para o c&eacute;u, sentiu o corpo quente, principalmente a face, sentiu l&iacute;quido escorrer atrav&eacute;s de seu rosto, e j&aacute; imaginava que era sangue. O choro que antes havia fico entalado em sua garganta naquela manh&atilde; n&atilde;o pode ser contido naquele momento, e l&aacute;grimas escorreram por seu rosto junto com o sangue. As risadas dos homens ecoavam distante de si, e ele pode escutar os passos se aproximando, o c&eacute;u, mais escuro do que ele havia reparado antes, permitiu que as primeiras gotas de chuva ca&iacute;ssem sobre Konoha.<br /><br /><br />- Isso foi divertido, o que n&oacute;s vamos fazer com o pivete?- Ele ouviu algu&eacute;m dizer. Com medo, e mesmo que sem for&ccedil;as, Naruto reuniu toda sua vontade e correu, deixando at&eacute; mesmo sua sacola de compras para tr&aacute;s.<br /><br />- Peguem-no!- Ele ouvia os homens gritarem, e as pessoas na rua, embora nada fizessem, o olhavam com &oacute;dio, desprezo e reprova&ccedil;&atilde;o.<br /><br /><br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Virando na esquina, Naruto entrou no primeiro lugar que viu para escapar dos homens, ap&oacute;s fechar a porta atr&aacute;s de si, Naruto deixou-se escorregar na madeira da porta, e sentou no ch&atilde;o. Ele pode escutar os homens praguejando e seus passos se distanciando e se separando, ainda estavam o procurando. Antes que algum deles entrasse naquele lugar, o garoto se levantou e olhou ao redor. Ele estava em uma biblioteca p&uacute;blica, a atendente do balc&atilde;o, que era uma senhora de idade, estava dormindo, e Naruto aproveitou essa chance para passar por debaixo da catraca sem que a senhora o percebesse. Ent&atilde;o, o som da porta se abrindo ecoou pela biblioteca, e Naruto correu para o corredor mais distante poss&iacute;vel para se esconder.<br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Foi estranho para o garoto, ele estava em um mundo que para ele era inimagin&aacute;vel, at&eacute; mesmo porque ele n&atilde;o era muito chegado a leitura. No corredor que Naruto havia se escondido n&atilde;o havia uma estante com livros e mais livros, havia apenas uma caixa de papel&atilde;o, e dentro dela se encontravam objetos, tais como candelabros, apontadores, e canetas sem tinta, e livros. Naruto percebeu que haviam escrito a palavra &ldquo;Lixo&rdquo; com caneta vermelha na lateral da caixa.<br /><br /><br />- Isso &eacute; lixo?- Ele murmurou para si mesmo.<br /><br /><br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Tomado pela curiosidade, Naruto come&ccedil;ou a vasculhar o lixo, e como os objetos n&atilde;o o interessavam tanto, ele decidiu folhear os livros, achando que aquela seria a primeira e ultima vez que ele faria aquilo por interesse pr&oacute;prio em toda sua vida. N&atilde;o encontrando nada que fosse interessante, Naruto estava praticamente desistindo, quando um livro que parecia ser infantil chamou a sua aten&ccedil;&atilde;o. Na capa do livro, havia um garoto loiro acompanhado por um tigre, e o t&iacute;tulo do livro era &ldquo;Calvin & Haroldo&rdquo;. Quando Naruto ia abrir o livro e folhear suas p&aacute;ginas, ele foi surpreendido.<br /><br /><br />- O que voc&ecirc; est&aacute; fazendo aqui?!- Naruto se virou com cautela e viu que a senhora estava na frente dele. Como todos, ela o encarava com desprezo. - Eu vou chamar aqueles homens que estavam procurando por voc&ecirc;, voc&ecirc; vai ver s&oacute; pirralho...<br /><br />- N&Atilde;O!- Naruto gritou e saiu correndo, passando do lado da senhora de idade. Ela tentou agarr&aacute;-lo, mas foi em v&atilde;o.<br /><br /><br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Quando Naruto saiu da biblioteca, dois dos homens estavam do lado de fora, e a senhora de idade veio logo atr&aacute;s dele, quase que sem sa&iacute;da, Naruto saiu correndo sem rumo, sem se importar para onde ia, pois tudo que queria era fugir deles, fugir das pessoas desprez&iacute;veis, fugir desse dia. E foi o que ele fez, por mais de uma hora Naruto correu, e embora ele tivesse despistado os adultos em menos de meia hora, ele ainda queria correr, queria sair dali. Ele havia adentrado em um caminho sinuoso, um bosque, e logo em seguida, uma pequena floresta que existia dentro de Konoha. A chuva que no momento havia engrossado do lado de fora da floresta j&aacute; n&atilde;o chegava at&eacute; Naruto, pois ele era protegido pelos folhagem das &aacute;rvores, e s&oacute; ent&atilde;o ele percebeu que ainda carregava o livro que ia folhear antes de ser interrompido.<br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Por v&aacute;rias horas Naruto perambulou na floresta, sem id&eacute;ia de onde ir, ele apenas caminhavam sem dire&ccedil;&atilde;o, mas n&atilde;o se importava, se estava perdido ou n&atilde;o, talvez fosse para melhor, era assim que o Uzumaki pensava, no entanto, a fome o incomodava um pouco. Estava tudo muito escuro, e Naruto sabia que n&atilde;o era por estar nublado ou pelo som das gotas de chuva que ca&iacute;am sobre as folhas,ele sabia que o anoitecer j&aacute; tinha chegado, mas felizmente, depois de alguns segundos, Naruto chegou at&eacute; o fim da floresta, a chuva ainda ca&iacute;a l&aacute; fora, embora estivesse mais fraca. Ele colocou o livro debaixo do casaco para que n&atilde;o fosse molhado, e correu com ele o que parecia ser um pequeno morro, e se surpreendeu com a vis&atilde;o que teve. Ele estava no topo do Monte dos Hokages, e tinha uma vis&atilde;o panor&acirc;mica de toda a cidade de Konoha, a cidade era bela vista daquela forma, apenas luzes distantes que eram refletidas de volta para seus orbes azuis, Naruto pensou que se n&atilde;o estivesse chovendo, a vis&atilde;o seria ainda mais bela com o c&eacute;u estrelado, mas talvez a chuva adicionasse um charme pr&oacute;prio para a paisagem que ele estava vendo. No topo do Monte dos Hokages havia uma pequena pracinha, com postes de ilumina&ccedil;&atilde;o, e bancos feitos de concreto, Naruto resolveu se sentar e esperar a chuva passar enquanto apreciava a vis&atilde;o de Konoha, que pela primeira vez, era bela ao seus olhos infantis.<br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Ele ficou horas sentado no banco de concreto, abra&ccedil;ado ao livro que estava debaixo de seu casaco, e nem por um momento quis fechar os olhos para dormir, ele apenas esperou, pacientemente. Quando a chuva finalmente parou, nem mesmo era dia dez de outubro, pois j&aacute; havia passado da meia-noite, mesmo assim, para o jovem e pequeno Naruto, aquele dia apenas acabaria com a chegada dos primeiros raios de sol, e para aproveitar a companhia solit&aacute;ria da noite, ele decidiu ler o livro que trouxe consigo. Naruto se sentiu inspirado e cativado pelas historias de Calvin e seu tigre de pel&uacute;cia Haroldo, em alguns momentos ele sequer entendia o que as palavras queriam dizer, pois haviam mensagens adultas e profundas nas historias infantis, mas ele se deliciava ainda assim, e ficava curioso para saber como seria se sentir daquela forma. Ele n&atilde;o havia sido um garoto normal, n&atilde;o poderia ser normal, n&atilde;o tinha amigos, n&atilde;o tinha com quem brincar, nem mesmo tinha um tigre de pel&uacute;cia para um amigo imaginar, mas aquela ultima tirinha do livro mudou por completo a vida de Naruto conforme ele a leu.<br /><br /><br /><em><strong>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Calvin e Haroldo caminhavam pela neve. Calvin guiava, indo na frente, e Haroldo, o tigre, ia atr&aacute;s, segurando um pequeno tren&oacute; de madeira.</strong></em><br /><br /><em><strong>Calvin: Ontem a noite realmente nevou. Isso n&atilde;o &eacute; maravilhoso?</strong></em><br /><br /><em><strong>Haroldo: Tudo que &eacute; familiar desapareceu. Parece um novo mundo.</strong></em><br /><br /><em><strong>Calvin: Um novo ano, um novo come&ccedil;o.</strong></em><br /><br /><em><strong>Haroldo: Como se houvesse uma grande tela a ser pintada.</strong></em><br /><br /><em><strong>Calvin: Um dia cheio de possibilidades.</strong></em><br /><br /><em><strong>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Calvin e Haroldo sentaram no tren&oacute; de madeira, e se preparam, Calvin na frente, e Haroldo atr&aacute;s.</strong></em><br /><br /><em><strong>Calvin: &Eacute; um mundo m&aacute;gico Haroldo... Vamos todos...</strong></em><br /><br /><em><strong>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Calvin e Haroldo escorregam pela neve com o tren&oacute; de madeira.</strong></em><br /><br /><em><strong>Calvin: EXPLOR&Aacute;-LO!</strong></em><br /><br /><br />&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; Naruto respirou fundo, e sentiu em seu cora&ccedil;&atilde;o a profundidade daquelas palavras, quando levantou a cabe&ccedil;a para olhar para Konoha, percebeu que os primeiros raios de sol haviam chegados, e que durante o nascer do sol, Konoha parecia ainda mais bela, ainda mais... M&aacute;gica. O jovem loiro deixou o livro em cima do banco de concreto e se levantou para ver melhor aquela paisagem magn&iacute;fica.<br /><br /><br />- Eu s&oacute; percebi agora... Eu n&atilde;o preciso me prender a ningu&eacute;m para ser feliz, as pessoas podem fazer falta... Mas eu posso me satisfazer e aprender, posso satisfazer ao mundo... O mundo &eacute; m&aacute;gico, e eu posso ir explor&aacute;-lo.- Naruto olhou para o livro em cima do banco. Talvez aquele tivesse sido o melhor presente que ele poderia ter recebido, um presente dele para ele mesmo, atrav&eacute;s do aprendizado. - Agora eu sei que tenho algo pelo qual viver.- E pela primeira vez em toda sua vida, Naruto sorriu verdadeiramente, como toda crian&ccedil;a faz, em seu dia especial.</p>

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