100 Anos na Terra do Nunca

3: Casa na árvore


CASA NA ÁRVORE

“Ele construiu uma casa da árvore para ela, com paredes bem vermelhas e teto musgo a crescer”

Peter Pan era um monstro. Wendy Darling aprendeu aquilo rapidamente, provavelmente foi a primeira coisa que aprendeu quando passou a morar na Terra do Nunca.

A segunda coisa que Wendy aprendeu foi que nunca deveria deixar Pan irritado. Regra que ela falhara diversas vezes em cumprir. Contudo, diferente dos meninos perdidos, a garota nunca foi castigada por isso, não ainda.

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Para os garotos a situação era outra. Eram torturados, tão torturados que imploravam por ajuda, todavia não havia ninguém para ajudá-los. Por mais que o acampamento fosse cheio, quando Peter Pan estava brabo não existiam amigos que pudessem te socorrer.

Pan nunca torturou — ou matou — um menino perdido na frente de Wendy, mas ela conseguia ouvir os gritos e tinha certeza que toda a ilha também conseguia, era isso que ele queria.

**

Wendy Darling tinha que dormir no chão sujo na casa debaixo da terra, com apenas uma coberta e um travesseiro. Sua preciosa camisola branca cada vez mais suja.

Quando saísse daquele lugar a primeira coisa que iria fazer era tomar um banho de banheira. Se você sair, se um dia você ele te deixar ir. Aqueles pensamentos a assombravam cada vez mais, ela tentava não pensar na possibilidade de ficar presa para sempre na Terra do Nunca. Pensar naquilo a aterrorizava.

Foi em uma noite quente, quando todos estavam sentados na fogueira, que Pan comentou:

— Seu vestido está sujo. — Como a roupa de Wendy era a única branca ali acabava parecendo ser a mais suja.

A garota deu os ombros, naquela época ainda o temia. Não queria estar ali, mas ele a obrigava a ficar na fogueira e sentar ao lado dele.

— É a única roupa que tenho — respondeu por fim, depois de minutos tentando encontrar as palavras certas.

O garoto não disse mais nada.

Dois dias depois Peter Pan a presenteou com um vestido. Era azul claro, tão bonito que só de ver sabia que sua família nunca teria dinheiro para comprar algo assim. Wendy imaginava que a Cinderela de suas histórias usaria um vestido assim.

Ela sabia que Peter havia roubado. Não soube se deveria agradecer ou pedir para devolver, então o encarou com uma expressão confusa no rosto.

— Você parece desconfortável com essa roupa suja — falou ele.

Wendy passou os dedos pelo tecido delicado do vestido, ela queria muito usá-lo.

— Obrigada. — Acabou dizendo aquilo porque achou que era isso que Pan queria ouvir.

Não demorou muito para que o novo vestido sujasse. Ela havia lavado sua camisola e agora podia revezar as roupas. Mas aquilo não adiantava muito, era só deitar naquele chão sujo que suas roupas ficavam imundas.

Algumas noites depois, quando Wendy estava sentada ao lado dele, Peter soltou outro comentário sobre suas roupas:

— Você nem sai para o floresta como os meninos perdidos, mas mesmo assim sua roupa está tão suja quanto as deles.

Wendy estava mais ousada naquela época — resultado de muitas noites tendo que sentar ao lado dele na fogueira — e respondeu um pouco irritada:

— Deve ser porque tenho que dormir no chão sujo com os outros meninos.

Temeu que Peter fosse se irritar com a sua escolha de palavras, mas isso não aconteceu.

— Garotas não deveriam dormir no chão sujo — disse encerrando o assunto e a surpreendendo.

Uma semana depois Peter pediu para que os meninos ensinassem Wendy a caçar. Ela não estava muito animada com isso — aqueles garotos loucos com suas lanças e arco e flechas a assustavam —, mas pensou que talvez pudesse ter uma chance de conseguir ver o lago das sereias, já que o único lago que tinha acesso não possuía sereia alguma.

Não viu sereias naquele dia. Entretanto, quando voltou para o acampamento, Peter Pan e alguns meninos perdidos haviam construído uma casa na árvore para ela. Era uma casinha bem pequena, parecia uma casa de boneca. Mas Wendy não se importava com aquilo, havia uma cama com travesseiros macios e lenções confortáveis, agora a garota tinha um lugar só dela e o melhor de tudo é que era nos limites do acampamento de Pan, ou seja, longe dele.

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Wendy perguntou por que ele havia feito aquilo. Pan disse que assim ela sujaria menos a roupa. A garota achou que ele diria mais alguma coisa, esperou suas palavras, porém o garoto não disse mais nada.

Ela olhou para Peter Pan, as roupas sejas e o rosto belo e demoníaco. Por um segundo, Wendy não viu um monstro, apenas um menino perdido.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.