Algo um tanto surpreendente aconteceu naquele dia depois do almoço.

Normalmente Maura colocaria o próprio prato na pia, agradeceria pela refeição e se retiraria logo em seguida, preferindo ficar isolada como sempre fazia. Naquele dia, entretanto, ela se levantou e em vez de se retirar, ajudou a morena a limpar e organizar os pratos, mesa e panelas. Jane não comentou sobre a surpresa agradável que tivera, apenas continuou trabalhando em conjunto, como se tivessem feito aquilo diversas vezes antes.

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Depois de tudo pronto as duas pararam lado a lado (Maura era um tanto mais baixa que Jane) e a morena assistiu enquanto a outra batia os dedos na bancada da cozinha, claramente perdida em pensamentos.

'Jane?' Ela chamou pela morena depois de um tempo, mesmo a outra estando parada bem ao seu lado.

'Maura?' Ela devolveu no mesmo tom, fazendo a outra rir delicadamente.

'Se lembra de como disse que planejei minha fuga?'

A morena balançou a cabeça em sim. Ela tinha ouvido a história cinco minutos atrás, e a sua memória a curto prazo ainda funcionava muito bem. 'Lembro, sim, Maura.'

'Eu... Eu tive ajuda.' Ela murmurou silenciosamente, não porque tinha sido um segredo, mas de novo porque parecia estar mais presa aos seus pensamentos do que no momento atual.

Jane franziu o cenho em completa confusão. 'Você teve ajuda?'

Ela meneou a cabeça e respirou fundo. 'Alguém me -'

'Jane.' Uma voz masculina soou vinda da porta, rápido demais para a atenção de Jane que estava focada apenas em Maura nesse momento. Ela se virou com confusão para achar o dono, e sentiu Maura agora apertando sua mão, praticamente se escondendo atrás de si.

'Frankie!' Ela disse alto, punindo-o. 'O que você tá fazendo aqui? Quem te deu ordens para entrar?' Ela rosnou alto, uma irritação latente fazendo seu coração bater acelerado. Será que as ordens para quem é que estivesse guardando o corredor de seu andar não tinham sido claras o suficiente? Ninguém entrava sem consentimento dela; ninguém sequer poderia subir para o mesmo andar sem estar na lista de nomes previamente liberados. Apenas os habitantes do prédio possuíam o código para destrancar a porta de entrada ao público, e quando o elevador chegasse no terceiro andar (o que ela morava) eles tinham que mostrar toda vez a identidade para o policial responsável.

'Ah, pelo amor de Deus. Eu também trabalho na polícia, Jane, e eu sou teu irmão. Todo mundo me conhece.' Ele debochou.

Ela revirou os olhos e suspirou alto, fazendo-se notar pela irritação. Ela tinha se esquecido de Maura até o momento que a loira apertou sua mão com um pouco mais de força. Só então ela calculou como a presença de alguém desconhecido poderia ser estressante para alguém que tinha sido sequestrada. Ela se virou para a loira e segurou a outra mão, sorrindo gentilmente.

'Ei, Maura, esse é meu irmão. Tá tudo bem.' Ela adicionou a última parte em voz baixa, como em segredo. A mulher balançou a cabeça para ela e espiou por cima de seu ombro. 'Frankie, essa é a Maura. Nos poupe de um ataque cardíaco e me avise da próxima vez que quiser aparecer aqui.'

'Ei, Maura.' Ele disse um tanto quanto sem jeito e acenou para ela. Ocorreu a Jane que talvez ninguém da delegacia tenha realmente explicado para ele o que aquela mulher estava fazendo ali.

'Oi.' Ela respondeu educadamente, mas se ela pudesse ter se tornado invisível logo em seguida, Jane tinha certeza que ela o teria feito. O que aquele segurar de mão representava não se resumia apenas em não saia de perto de mim. Significava também me esconda, seja meu escudo, fique entre mim e o perigo evidente.

'Eu te ligaria se você tivesse instalado uma linha fixa, e você não atende teu celular. Tua mãe tá te ligando por dias e -' Ele disse.

'Ela é tua mãe também, Frankie.'

Ele revirou os olhos, ignorando-a. 'E ela disse que viria aqui pessoalmente para verificar se estava tudo bem, então eu te salvei desse tanstorno. Você deveria estar agradecida.' Ele cruzou os braços no peito e esperou, como se aguardasse de fato pela gratidão dela.

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Era a vez da morena revirar os olhos, e entredentes ela resmugnou. 'Obrigada.'

Ele abriu um sorriso grande, e quando Frankie sorria daquele jeito Jane não conseguia ficar brava por muito tempo. Aquele era seu irmão, sempre companheiro e cúmplice, sempre disposto a salvá-la. Ele era mais novo, e olhava para ela com a admiração e respeito que só quem é o irmão ou irmã mais velha sabe reconhecer e aceitar. Ela retribuiu o sorriso e apontou a cabeça para a loira.

'Maura, meu irmão trabalha na divisão de homicídeos assim como eu. Se por alguma razão, algum dia você não conseguir me alcançar por telefone, ou se você precisar de mim e eu não estiver por perto, ele é teu guarda-costas. Teu outro porto-seguro. Ok?' Ela apertou carinhosamente a mão da loira, e mesmo com dúvida a mulher balançou a cabeça em sim.

Jane e Frankie trocaram mais algumas palavras, assunto relacionado ao Dia de Ação de Graças, e em nenhum momento Maura soltou da mão de Jane. A morena sabia que ela estava mais confortável com a presença do homem (deveria ser o charme e simpatia dos Rizzolis), mas talvez por precaução quisesse manter Jane ali, como seu escudo, sua proteção.

Quando encerraram o assunto, tudo para a grande reunião Rizzoli do ano estava combinado, e até mesmo Maura tinha um convite para participar da ocasião. Um que ela recebeu com deslumbre e espanto.

Jane suspirou aliviada quando o irmão fechou a porta atrás de si. Ela trocou um olhar cansado com Maura e se desculpou.

'Foi mal, minha mãe é assim, super-protetora. Deus, eu não tenho paz.'

'Ela se preocupa com você.' Maura murmurou, ainda um tanto assombrada pela interação dos dois.

'Você pode colocar dessa forma.' Jane riu um pouquinho e notou que suas mãos ainda estavam juntas.

Maura notou também, e um silêncio desconfortável apareceu do nada.

'Bem...' Jane disse finalmente, e em vez de soltar a mão da outra - caramba, ela jamais faria isso, era Maura dizendo que confiava nela - ela puxou a outra lentamente de volta para a bancada até que ambas estivessem sentadas nos bancos altos. 'Você dizia algo sobre ter recebido ajuda?'

Maura balançou a cabeça fervorosamente em sim. Aparentemente era um assunto importante para ela. Ela se virou completamente de frente para Jane, deixando lentamente as mãos descansarem no próprio colo dessa vez.

'Quando eu escapei da casa, eu andei muito, primeiro numa estrada de terra, e depois numa via asfaltada. Eu andei por muito tempo, Jane. Eu não queria que ele me alcançasse, mas eu não sabia para onde estava indo. E então esse senhor com seu carro apareceu, foi ele quem me ajudou. Eu acho que se não fosse por ele...' A frase morreu, mas o que vinha depois era óbvio. As chances de o sequestrador alcançá-la era bem grande, ainda mais considerando o estado em que ela se encontrava.

'Entendi.' Jane se lembrava que Frost mencionara antes sobre alguém dirigindo-a para o hospital, mas ela não tinha detalhes sobre isso. Até agora.

'Mas o objetivo dessa conversa é outro. Eu queria... Eu queria vê-lo mais uma vez. Para agradecer, você sabe.' Ela abaixou a cabeça e brincou com os dedos.

Jane quase não acreditou na mudança que tinha ocorrido entre a relação dela e de Maura em tão pouco tempo. Se ela soubesse que tudo o que a outra precisava era conversar sobre aquilo, ela teria feito antes. Agora a mulher parecia aberta a discutir qualquer assunto por vontade própria. Jane sorriu orgulhosa de si mesma, e acariciou o braço da outra. Um gesto levado pelo hábito, e mais uma vez para a sua surpresa, a outra aceitou de bom grado.

'Maura, isso é bem legal da tua parte. Você se lembra do nome dele?'

'Não.' Ela disse com tristeza e encolheu os ombros. 'Eu não acho que perguntei no momento.'

É claro, Jane pensou, a situação não requeria apresentações formais.

'Tenho certeza que alguém na delegacia tem essa informação. Eu vou conseguir isso para você. Ok?'

'Obrigada, Jane.' Ela mordeu o lábio inferior e pensou um pouco. 'Se você realmente conseguir arranjar isso, você acha que podemos ir lá apenas daqui algumas semanas? Três ou quatro? Eu quero... Eu quero estar melhor. Você sabe, na presença de pessoas.'

'Claro, Maura. Claro que sim.' Ela se levantou e mal podia esconder o quanto estava animada. Ela não sabia se era porque tinha ganhado a completa confiança de Maura - ora, que diabos! Era exatamente por isso! - mas ela se sentia como da vez em que ganhara o uniforme completo original do Red Sox. Invencível, segura de si mesma. Ela colocou as mãos na cintura e abriu um sorriso gigante. 'Tenho certeza que você vai estar melhor, Maura. E sabe de algo? Minha mãe vai adorar conhecer você. É melhor você se preparar.'

Maura arregalou os olhos. 'Você, eu... Jane, não se sinta obrigada a me levar para o jantar. Eu entendo que teu irmão quis ser educado e -'

'Nada disso.' Jane corrigiu-a. 'Eu faço questão que você vá. A não ser que você não queira, nesse caso eu entendo. Mas os Rizzolis não deixam ninguém para trás, Maura. E não é apenas por educação, é porque nós precisamos do maior número de pessoa para comer toda a comida que minha mãe vai cozinhar.' Ela piscou o olho para a outra.

Maura riu.